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São Paulo, domingo, 27 de julho de 2003

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ENTREVISTA

Procedimento evita que as placas de gordura migrem para o cérebro

Filtro de sangue pode prevenir AVC

CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

Um aparelho combinado a um minúsculo filtro de sangue está sendo apontado como a alternativa mais segura para a remoção de placas de gordura na artéria carótida interna, que podem levar ao derrame cerebral ou AVC (Acidente Vascular Cerebral), terceira maior causa de morte no Brasil.
A cirurgia de remoção de placa costuma ser a melhor opção de tratamento quando a carótida, um dos principais vasos que irrigam o cérebro, fica estreitada por aterosclerose.
Segundo o médico radiologista vascular Antônio Kambara, 53, do Hospital do Coração e do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, ambos em São Paulo, o filtro impede que restos da placa de gordura, que se desprendem durante a implantação do aparelho -chamado stent-, sigam para o cérebro, provocando o AVC.
Kambara realizou o procedimento durante uma videocirurgia exibida em congresso de cardiologistas, que terminou anteontem em São Paulo. A seguir, os principais trechos da entrevista dada pelo médico à Folha.
 

Folha - Como se trata o entupimento das artérias carótidas?
Antonio Kambara -
O tratamento tradicional para o entupimento da carótida é uma cirurgia chamada endarterectomia. Corta-se a região do pescoço, abre-se a artéria, limpa e costura. Hoje, temos um novo método, chamado endovascular, que é minimamente invasivo. Fazemos um pequeno corte pela perna e, por dentro da artéria, com um canudinho, caminha-se até o objetivo. Inicialmente, durante essa desobstrução da artéria, aqueles fragmentos de gordura podiam se soltar dentro da circulação e ir para o cérebro e, dependendo do lugar, entupir e levar ao AVC. Recentemente surgiram mecanismos que evitam que esses fragmentos se soltem para dentro do cérebro. Um deles é o filtro de proteção, que temos usado com excelentes resultados.

Folha - Como funciona esse filtro?
Kambara -
Esse filtro é uma minúscula cestinha, como se fosse um guarda-chuva. Ele permite que o sangue, que é mais fluído, passe por dentro dele, enquanto os fragmentos de gordura ficam retidos, como se fosse um filtro de café. Aí nós colocamos um suporte metálico [stent], parecido com uma molinha, para manter a artéria aberta e restabelecer o fluxo sanguíneo. Uma vez desobstruída a artéria, o guarda-chuva é fechado e retirado.

Folha - Qual a vantagem desse procedimento? Ele está disponível na rede pública?
Kambara -
Essa técnica é aprovada pelo SUS. Nos serviços credenciados, isso é disponível. A grande vantagem é evitar o risco do derrame porque ele não deixa passar as placas de gordura. Nós não estamos curando a doença, mas sim o risco de derrame. Mesmo após esse procedimento, os vasos podem voltar a entupir. Essa é uma doença degenerativa, que vai depender os fatores de risco que levam à obstrução das artérias.

Folha - Qual é o índice de reincidência do entupimento após esse procedimento?
Kambara -
Com o stent, a reincidência é relativamente baixa. Ocorre em torno de 7% a 10%. Com a cirurgia, é um pouco acima, cerca de 15% a 20%. Mas ainda não tem um protocolo bem estabelecido.

Folha - Para quem está indicado o procedimento?
Kambara -
Temos preferido usar em pacientes de alto risco. Aqueles que já têm uma doença cardíaca básica, ou que já foram tratados em razão do estreitamento da artéria, os idosos ou os que têm um pescoço muito curto.

"A grande vantagem é evitar o risco do derrame porque ele não deixa passar as placas de gordura. Nós não estamos curando a doença, mas sim o risco de derrame"


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