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AMBIENTE
Secretaria do Verde negocia um acordo com uma das fábricas; casas estão encravadas em pólo industrial
Nuvem química castiga bairro da zona leste
FABIO SCHIVARTCHE
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma nuvem densa encobre diariamente o céu do Jardim Keralux, bairro popular no extremo
leste da cidade de São Paulo onde
cerca de 8.000 pessoas vivem em
meio a um pólo industrial.
Ora cinza, ora esbranquiçada, a
fumaça é formada por gases tóxicos de nomes complicados, como
o sulfídrico (H2S) e o dióxido de
enxofre (SO2), mas que são reconhecidos em segundos pelos moradores pelo cheiro de ovo podre.
O odor, no entanto, é o menor
dos problemas. A emissão desses
gases pelas fábricas, acima dos padrões seguros à saúde pública, está provocando doenças crônicas,
principalmente males respiratórios nas crianças.
Enquanto continua em andamento um inquérito civil para
apurar as responsabilidades, técnicos da prefeitura paulistana investigam se a emissão de poluentes na região está relacionada à
ocorrência nos bairros vizinhos
de casos de gravidez em que o feto
sofre de anencefalia (não tem o
cérebro) -problema semelhante
ao registrado nos anos 80 em Cubatão, no litoral paulista, que já foi
a cidade mais poluída do mundo.
Há ainda um problema ambiental: dejetos da maior poluidora, a Bann Química, que produz
insumos para a indústria pneumática, estão indo diretamente
para um afluente do rio Tietê, junto ao Parque Ecológico do Tietê.
Já foram registrados episódios de
morte de pássaros na região.
Cortina de fumaça
O posto de saúde da prefeitura
no Jardim Keralux recebe em média cinco crianças por dia com
problemas respiratórios, como
bronquites e alergias. Até funcionários do posto sofrem com resfriados e dores de garganta constantes. "Quando eles liberam a fumaça, dá um nó na garganta", diz
a estudante Carla Rodrigues.
Vizinha, a desempregada Crisdet Rosa dos Santos já se acostumou a levar o primo Rodrigo, de 2
anos, para fazer inalação no posto
de saúde. "Tem dia que ele não
para de espirrar e o peito fica que
é uma chiadeira só", conta.
Na divisa do Keralux com o Parque Ecológico do Tietê foi instalada recentemente a USP Leste, o
novo campus da Universidade de
São Paulo. Dependendo da direção do vento, os alunos sentem o
cheiro ruim -e ficam expostos às
doenças provocadas pelos gases
que saem das chaminés, alguns
deles cancerígenos.
A Folha passou a tarde de segunda-feira na região e constatou
a sensação de permanente desconforto narrada pelos moradores. Mesmo tendo chovido bastante na noite anterior, a poeira
incomoda muito, irritando os
olhos e a garganta. Na língua, sente-se um gosto ácido.
A Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente, que investiga a emissão de gases na atmosfera e a de efluentes no córrego, negocia um acordo com a
Bann Química.
Já a Cetesb, órgão ambiental do
Estado, diz que já emitiu mais de
20 multas em nome da Bann desde 1989. "Eles cumpriram parte
do que estava previsto, eliminando parte dos poluentes. Falta a segunda etapa", afirma Joaquim Pereira, engenheiro da agência Tatuapé da Cetesb.
Sobre os dejetos despejados no
córrego que atinge o Tietê, ele diz
que é responsabilidade da Sabesp
completar a rede de tratamento
de esgoto no local.
O vereador Juscelino Gadelha
(PSDB) está organizando um grupo de moradores do Jardim Keralux para tentar remover a fábrica
do bairro. "A situação por lá é gravíssima", afirma.
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