São Paulo, quinta-feira, 27 de julho de 2006

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Direito da USP "retoma" estátua de poeta

Busto de Álvares de Azevedo, que foi aluno da faculdade, volta ao largo onde está o prédio da escola

Tuca Vieira/Folha Imagem
Busto de Álvares de Azevedo em frente à Faculdade de Direito da USP, depois de ter sido tirada da praça da República pelos alunos


PAULO SAMPAIO
DA REPORTAGEM LOCAL

Os alunos da Faculdade de Direito da USP acabam de receber aval da Prefeitura de São Paulo para manter no largo São Francisco a estátua do poeta Álvares de Azevedo, que eles haviam removido da praça da República sem autorização.
Doada à prefeitura no início do século passado pelo centro acadêmico 11 de Agosto (dos alunos de direito), a estátua foi tirada da praça em maio deste ano por estudantes que achavam justo ela voltar às arcadas -referência aos arcos do prédio da faculdade. A alegação era que ela estava em condição precária de conservação. A peça não é tombada.
Decreto publicado no "Diário Oficial" do último sábado autorizou "retroativamente" a remoção do monumento da praça -que chegou a ser comparada com o furto jamais resolvido, no mesmo dia 21 de maio, da escultura do avião 14 Bis, que ficava próxima ao Anhembi.
"Eu enquadro o caso do Álvares como intervenção cultural, quase uma performance. A gente sabe onde está a estátua e que cuidarão bem dela. O do 14 Bis é caso de polícia, não se sabe nem se virou sucata", diz o secretário-adjunto municipal da Cultura, José Roberto Sadek.
Em uma audiência na quinta-feira passada, que reuniu ex-alunos da Faculdade de Direito e representantes do centro acadêmico, Sadek, o prefeito Gilberto Kassab (PFL) e o secretário municipal dos Negócios Jurídicos, Luiz Antônio Marrey, decidiram autorizar a permanência de Álvares de Azevedo no largo São Francisco.
Erigido em 1906 pelo artista plástico Amadeo Zani, o busto é de bronze com pedestal em granito. Álvares de Azevedo havia cursado a faculdade, mas não concluiu o curso: morreu antes de completar 20 anos, porém a tempo de mostrar uma reconhecida produção literária.
Segundo o atual tesoureiro do grêmio acadêmico da faculdade, Paulo Henrique Rodrigues Pereira, a restauração deve ficar em cerca de R$ 20 mil. Algumas empresas especializadas se ofereceram para fazer gratuitamente o trabalho, desde que colocassem seus nomes embaixo do monumento -os estudantes não toparam. "Preferimos bancar nós mesmos [centro acadêmico e associação dos ex-alunos]", diz Pereira.
Participavam do abaixo-assinado que pedia o retorno da estátua ao largo São Francisco, onde fica a faculdade, ex-alunos como o governador Cláudio Lembo (PFL) e o jurista Goffredo da Silva Telles Junior.
"Os estudantes levaram para junto da faculdade uma figura simbólica da casa", defende o governador paulista. "Tudo o que é do largo São Francisco tem que ser preservado lá, naquele território livre."
Para retirar a estátua da praça sem danificá-la, os alunos tiveram o auxílio de um arquiteto, uma grua e um caminhão. "Vínhamos tentando desde junho do ano passado, é muito tempo", diz o dirigente da associação de ex-alunos da faculdade, Carlos Madia de Souza.
Mas um ano é muito? Mesmo em relação aos prazos estipulados pela Justiça?
Madia ri. "Nós talvez não tenhamos a paciência que as pessoas têm conosco", afirma.


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