São Paulo, sexta-feira, 27 de julho de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TRAGÉDIA EM CONGONHAS/ATRASOS

Saga na ponte aérea passa por 4 aeroportos

Atendente da Gol chegou a sugerir para que a reportagem voltasse na "semana que vem"; na volta, "vôo lotado" estava vazio

O avião, que deveria sair de Congonhas às 20h15, decola só às 23h10, depois de ser transferido para Cumbica, em Guarulhos

VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

Viajar de avião de São Paulo ao Rio exigiu passar por quatro aeroportos, cortar a capital paulista de táxi, ouvir informações desencontradas dos atendentes, esperar bastante e embarcar com um atraso de mais de cinco horas, ainda assim após muita insistência.
Tudo isso para um vôo de cerca de 50 minutos, que não saiu nem pousou nos locais originalmente programados -sairia de Congonhas, mas foi transferido para Cumbica. Aterrissaria no Santos Dumont, mas foi parar no aeroporto internacional do Galeão.
O périplo da Folha começou às 17h30, quando a reportagem chegou ao check-in da Gol para o vôo 1538. A companhia vendeu o bilhete para embarque em Congonhas, embora a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) tenha interrompido a comercialização de novas passagens a partir do aeroporto.
Antes, ao longo do dia, quatro informações diferentes em quatro momentos distintos:
1) aeroporto fechado; 2) não voe até segunda; 3) vá para Campinas, mas não o levamos até lá; 4) vôo previsto.
No check-in da Gol, a informação: o vôo fora cancelado. Uma atendente diz: "Voltem na semana que vem".
Depois de alguma insistência, uma solução aparente: um vôo que saía às 20h15 de Cumbica para o Galeão. Nesse momento, chega a professora de letras da UNB Julianny Mucury, 26. Os dois são orientados a esperar um ônibus da Gol, com saída às 19h30, para Guarulhos. E se não der tempo?
Mucury logo se dá conta de que alguns passageiros são postos gratuitamente em táxis para Cumbica (Guarulhos). Mesmo conscientes de que o avião não decolaria a tempo, há o frio na barriga de perder o avião. Os dois embarcam num táxi.
O táxi chega em Cumbica às 19h50. E logo se vê confusão no saguão do aeroporto. Confusão mesmo. Sem conseguir embarcar desde segunda, um passageiro da Gol tenta socar o rosto da funcionária do check-in. Um homem intervém. Os dois brigam, rolam no chão. A polícia prende o passageiro.
Às 20h30, o embarque é feito pelo portão internacional. A Polícia Federal pede passaportes. É preciso explicar que se trata de um vôo doméstico. Meia hora depois, anunciam a decolagem para as 22h. No horário marcado, avião na pista, é preciso esperar 40 minutos por um motorista de ônibus que leve até a aeronave. O embarque começa, sob aplausos.
No avião, um problema: a Folha tem cartão de embarque para poltrona 28-F, mas o Boeing-737/700 da Gol só tem 24 fileiras de assentos. Aí, foi um salve-se-quem-puder.
Enfim, o avião decola às 23h10. O que deveria levar 50 minutos durou 5 horas. O vôo foi tenso. Na fileira anterior, à direita, Isabel Cristina dos Santos, professora, 47, leva um santinho do padre Rodolfo Komórek. Outro leva um rosário.
O avião aterrissa. A cena de Cumbica torna a se repetir: os passageiros vão ao desembarque internacional. A PF pede passaportes, a Receita Federal pede declaração de alfândega. É ponte aérea, moço.
Folha e passageiros pedem táxi à Gol até o Santos Dumont, onde o vôo deveria pousar. Após 15 minutos, uma funcionária do check-in, sem nome, crachá para trás, diz que não pagaria o transporte porque o atraso era de "apenas" duas horas. Os cartões de embarque mostram o horário de partida, 20h15 (era 1h30).
"Ah, então vá falar com o gerente. Essas m***** só caem na minha mão." E lá vem o tal gerente, mais 15 minutos, sem nome, crachá para trás: "Espera que estou resolvendo outra bronca". E se vai.
Outros 15 minutos. Aparece um funcionário -Andrade, o sobrenome. "Copacabana?" A reportagem recebe voucher para um táxi, que é compartilhado com outros passageiros do vôo, até o hotel.
Amanhece. Agora, a volta para São Paulo é de TAM. A central de atendimento diz que o vôo 3915, do Santos Dumont a Congonhas, está previsto. Às 9h, no monitor do aeroporto, contradição: o vôo é cancelado.
O balcão da companhia diz que os vôos estão lotados. Depois de insistência, já são 9h45, há vaga no avião das 9h22 -atrasado e "lotado".
Às 10h10, na sala de embarque, há 30 passageiros, um terço é tripulante em trânsito, no vôo "lotado". Quando a porta é fechada, a constatação contraria o que diziam os atendentes: sobram 98 vagas no Airbus A-319, de 144 assentos. Às 11h40, alívio: o vôo pousa em Congonhas. É o fim da viagem.


Texto Anterior: Crise aérea, Pan e férias levam mais 30 mil pessoas/dia ao Tietê
Próximo Texto: Aeroportos de Congonhas e Cumbica têm dia tranqüilo e com poucos atrasos
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.