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TRAGÉDIA EM CONGONHAS/ATRASOS
Saga na ponte aérea passa por 4 aeroportos
Atendente da Gol chegou a sugerir para que a reportagem voltasse na "semana que vem"; na volta, "vôo lotado" estava vazio
O avião, que deveria sair de Congonhas às 20h15, decola só às 23h10, depois de ser transferido para Cumbica, em Guarulhos
VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
ENVIADO ESPECIAL AO RIO
Viajar de avião de São Paulo
ao Rio exigiu passar por quatro
aeroportos, cortar a capital
paulista de táxi, ouvir informações desencontradas dos atendentes, esperar bastante e embarcar com um atraso de mais
de cinco horas, ainda assim
após muita insistência.
Tudo isso para um vôo de
cerca de 50 minutos, que não
saiu nem pousou nos locais originalmente programados -sairia de Congonhas, mas foi
transferido para Cumbica.
Aterrissaria no Santos Dumont, mas foi parar no aeroporto internacional do Galeão.
O périplo da Folha começou
às 17h30, quando a reportagem
chegou ao check-in da Gol para
o vôo 1538. A companhia vendeu o bilhete para embarque
em Congonhas, embora a Anac
(Agência Nacional de Aviação
Civil) tenha interrompido a comercialização de novas passagens a partir do aeroporto.
Antes, ao longo do dia, quatro informações diferentes em
quatro momentos distintos:
1) aeroporto fechado; 2) não
voe até segunda; 3) vá para
Campinas, mas não o levamos
até lá; 4) vôo previsto.
No check-in da Gol, a informação: o vôo fora cancelado.
Uma atendente diz: "Voltem na
semana que vem".
Depois de alguma insistência, uma solução aparente: um
vôo que saía às 20h15 de Cumbica para o Galeão. Nesse momento, chega a professora de
letras da UNB Julianny Mucury, 26. Os dois são orientados
a esperar um ônibus da Gol,
com saída às 19h30, para Guarulhos. E se não der tempo?
Mucury logo se dá conta de
que alguns passageiros são postos gratuitamente em táxis para Cumbica (Guarulhos). Mesmo conscientes de que o avião
não decolaria a tempo, há o frio
na barriga de perder o avião. Os
dois embarcam num táxi.
O táxi chega em Cumbica às
19h50. E logo se vê confusão no
saguão do aeroporto. Confusão
mesmo. Sem conseguir embarcar desde segunda, um passageiro da Gol tenta socar o rosto
da funcionária do check-in. Um
homem intervém. Os dois brigam, rolam no chão. A polícia
prende o passageiro.
Às 20h30, o embarque é feito
pelo portão internacional. A
Polícia Federal pede passaportes. É preciso explicar que se
trata de um vôo doméstico.
Meia hora depois, anunciam a
decolagem para as 22h. No horário marcado, avião na pista, é
preciso esperar 40 minutos por
um motorista de ônibus que leve até a aeronave. O embarque
começa, sob aplausos.
No avião, um problema: a
Folha tem cartão de embarque
para poltrona 28-F, mas o
Boeing-737/700 da Gol só tem
24 fileiras de assentos. Aí, foi
um salve-se-quem-puder.
Enfim, o avião decola às
23h10. O que deveria levar 50
minutos durou 5 horas. O vôo
foi tenso. Na fileira anterior, à
direita, Isabel Cristina dos Santos, professora, 47, leva um santinho do padre Rodolfo Komórek. Outro leva um rosário.
O avião aterrissa. A cena de
Cumbica torna a se repetir: os
passageiros vão ao desembarque internacional. A PF pede
passaportes, a Receita Federal
pede declaração de alfândega. É
ponte aérea, moço.
Folha e passageiros pedem
táxi à Gol até o Santos Dumont,
onde o vôo deveria pousar.
Após 15 minutos, uma funcionária do check-in, sem nome,
crachá para trás, diz que não
pagaria o transporte porque o
atraso era de "apenas" duas horas. Os cartões de embarque
mostram o horário de partida,
20h15 (era 1h30).
"Ah, então vá falar com o gerente. Essas m***** só caem na
minha mão." E lá vem o tal gerente, mais 15 minutos, sem
nome, crachá para trás: "Espera que estou resolvendo outra
bronca". E se vai.
Outros 15 minutos. Aparece
um funcionário -Andrade, o
sobrenome. "Copacabana?" A
reportagem recebe voucher para um táxi, que é compartilhado com outros passageiros do
vôo, até o hotel.
Amanhece. Agora, a volta para São Paulo é de TAM. A central de atendimento diz que o
vôo 3915, do Santos Dumont a
Congonhas, está previsto. Às
9h, no monitor do aeroporto,
contradição: o vôo é cancelado.
O balcão da companhia diz
que os vôos estão lotados. Depois de insistência, já são 9h45,
há vaga no avião das 9h22
-atrasado e "lotado".
Às 10h10, na sala de embarque, há 30 passageiros, um terço é tripulante em trânsito, no
vôo "lotado". Quando a porta é
fechada, a constatação contraria o que diziam os atendentes:
sobram 98 vagas no Airbus A-319, de 144 assentos. Às 11h40,
alívio: o vôo pousa em Congonhas. É o fim da viagem.
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