São Paulo, domingo, 27 de agosto de 2000


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VIOLÊNCIA
Mãe, irmã e primas de traficante foram assassinadas; objetivo é fazer propaganda do terror, afirma delegado
Guerra do tráfico em SP deixa 5 mortas

DA REPORTAGEM LOCAL

Com a boca amordaçada com fita crepe e as mãos amarradas com fios de náilon verde, a dona-de-casa Margarida Andrade de Souza foi encontrada morta na favela do Paraguai com um tiro na cabeça. Tinha 47 anos. Margarida morreu porque era mãe do traficante Barriga.
Mulher virou moeda de compensação na guerra do tráfico -são assassinadas quando as quadrilhas buscam vingança. Como os traficantes são cercados por seguranças, são elas que pagam o pato quando se quer atingir um rival.
A maior batalha dessa guerra ocorreu na favela do Paraguai, na Vila Prudente (zona sudeste de São Paulo), onde uma sequência de cinco chacinas deixou 23 mortos, cinco dos quais mulheres. Como Margarida, outras três eram parentes de Barriga. A matança ocorreu entre dezembro do ano passado e fevereiro deste ano.
Barriga é o apelido do traficante Wilson Andrade Souza. Em 1998, ele havia matado um irmão e dois primos de Tonhão (Antonio Cavalcante).
Tonhão era o "chefe da execução" da quadrilha de Sujeirinha, como define o delegado José Carlos Soares, titular da Equipe Especial de Homicídios Múltiplos.
Sujeirinha, para o leitor não se perder no cipoal de apelidos, é Lusérgio Soares de Oliveira, considerado pela polícia o chefe do tráfico na favela de Heliópolis, a maior de São Paulo.
Na guerra de Barriga e Sujeirinha, morreram a mãe, uma irmã e duas primas do primeiro. "A idéia era matar o Barriga. Mas, se ele não estivesse, a ordem era matar inocentes", contou um dos integrantes do grupo de Sujeirinha, Aluízio Alexandre Cavalcante, 36, após ser preso (sete dos nove acusados pelas chacinas foram presos pela Divisão de Homicídios; os outros dois foram mortos).
A lógica que funciona nessas chacinas é a mesma da propaganda, segundo o delegado Soares. Só que, em vez de se propagandear biscoitos, propagandeia-se o terror. "Os indivíduos que praticam chacina querem deixar claro que são violentos. Por isso matam quem está por perto", diz Soares.
Para elevar o grau de terror, escolhe-se uma mulher, como ocorreu com a mãe de Barriga.
Há também as que morrem por puro acaso. "São mulheres que estavam na hora errada no lugar errado", diz o delegado Nathan Rosenblatt, chefe da divisão de homicídios da polícia.
Foi o que ocorreu com a dona-de-casa Ester Pessoa de Melo, 38. Evangélica, ela voltava do culto na igreja quando atravessou a linha de tiro na guerra entre Barriga e Sujeirinha. (MCC)




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