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VIOLÊNCIA
Mãe, irmã e primas de traficante foram assassinadas; objetivo é fazer propaganda do terror, afirma delegado
Guerra do tráfico em SP deixa 5 mortas
DA REPORTAGEM LOCAL
Com a boca amordaçada com
fita crepe e as mãos amarradas
com fios de náilon verde, a dona-de-casa Margarida Andrade de
Souza foi encontrada morta na favela do Paraguai com um tiro na
cabeça. Tinha 47 anos. Margarida
morreu porque era mãe do traficante Barriga.
Mulher virou moeda de compensação na guerra do tráfico
-são assassinadas quando as
quadrilhas buscam vingança. Como os traficantes são cercados
por seguranças, são elas que pagam o pato quando se quer atingir
um rival.
A maior batalha dessa guerra
ocorreu na favela do Paraguai, na
Vila Prudente (zona sudeste de
São Paulo), onde uma sequência
de cinco chacinas deixou 23 mortos, cinco dos quais mulheres. Como Margarida, outras três eram
parentes de Barriga. A matança
ocorreu entre dezembro do ano
passado e fevereiro deste ano.
Barriga é o apelido do traficante
Wilson Andrade Souza. Em 1998,
ele havia matado um irmão e dois
primos de Tonhão (Antonio Cavalcante).
Tonhão era o "chefe da execução" da quadrilha de Sujeirinha,
como define o delegado José Carlos Soares, titular da Equipe Especial de Homicídios Múltiplos.
Sujeirinha, para o leitor não se
perder no cipoal de apelidos, é
Lusérgio Soares de Oliveira, considerado pela polícia o chefe do
tráfico na favela de Heliópolis, a
maior de São Paulo.
Na guerra de Barriga e Sujeirinha, morreram a mãe, uma irmã e
duas primas do primeiro. "A idéia
era matar o Barriga. Mas, se ele
não estivesse, a ordem era matar
inocentes", contou um dos integrantes do grupo de Sujeirinha,
Aluízio Alexandre Cavalcante, 36,
após ser preso (sete dos nove acusados pelas chacinas foram presos
pela Divisão de Homicídios; os
outros dois foram mortos).
A lógica que funciona nessas
chacinas é a mesma da propaganda, segundo o delegado Soares. Só
que, em vez de se propagandear
biscoitos, propagandeia-se o terror. "Os indivíduos que praticam
chacina querem deixar claro que
são violentos. Por isso matam
quem está por perto", diz Soares.
Para elevar o grau de terror, escolhe-se uma mulher, como ocorreu com a mãe de Barriga.
Há também as que morrem por
puro acaso. "São mulheres que estavam na hora errada no lugar errado", diz o delegado Nathan Rosenblatt, chefe da divisão de homicídios da polícia.
Foi o que ocorreu com a dona-de-casa Ester Pessoa de Melo, 38.
Evangélica, ela voltava do culto na
igreja quando atravessou a linha
de tiro na guerra entre Barriga e
Sujeirinha.
(MCC)
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