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ENEM
Grupo que conseguiu isenção para carentes já ganhou processos contra seis universidades públicas por cobrança indevida
60 mil estudantes farão exame sem pagar
ANTÔNIO GOIS
DA REPORTAGEM LOCAL
Hoje, quase 60 mil dos 390 mil
alunos que farão o Enem (Exame
Nacional do Ensino Médio) estarão em sala de aula graças a liminares conseguidas por cursinhos
pré-vestibulares comunitários.
Esse grupo deixou de pagar, ao todo, quase R$ 1,5 milhão ao Ministério da Educação (MEC), por
causa da isenção da taxa de R$ 25.
Em parte por pressão desse grupo, o ministro Paulo Renato Souza afirma que isentará alunos no
ano que vem. Hoje, ele deve anunciar os critérios.
A principal figura por trás desses cursinhos é um frade da Igreja
Católica, o frei Davi Santos. A onda de processos contra as universidades públicas começou em
1997, contra a UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
Hoje, mais de 100 mil alunos já
foram beneficiados com as ações
do grupo de frei Davi contra seis
universidades públicas do Rio e
São Paulo e contra o MEC.
Os cursos para negros e carentes
começaram na Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro, e funcionam, em sua maioria, em igrejas.
Hoje, são mais de 300 em todo o
Brasil e atendem cerca de 18 mil
alunos -em sua maioria, negros.
Segundo frei Davi, o índice de
aprovação no vestibular é de 25%
em São Paulo e 34% no Rio.
No início, eram apenas mandados de segurança individuais contra universidades públicas do Rio.
A partir de 1998, no entanto, o
grupo de frei Davi começou a mover ações civis públicas que beneficiavam, em alguns casos, todos
os estudantes que declaravam
não ter condições de pagar a taxa
de inscrição nos vestibulares, que
varia de R$ 50 a R$ 70.
"Para um filhinho de papai, esse
dinheiro pode ser um jantar com
a namorada. Mas para o filho de
um trabalhador, é meio salário
mínimo", afirma o advogado Carlos Cleto, autor das primeiras
ações e professor voluntário em
um dos "pré-vestibulares para negros e carentes" que foram idealizados por frei Davi.
O principal argumento das
ações é o princípio da gratuidade
do ensino público. "A cobrança é
inconstitucional", afirma Cleto.
No Rio, nas contas de frei Davi,
os cursinhos estão ganhando 9
em cada 10 ações. Em São Paulo,
esse número é menor: 4 em cada
10. "A Justiça de São Paulo é menos sensível ao direito dos pobres", afirma o frade.
É frei Davi, junto com outras lideranças de cursinhos comunitários, que está à frente das negociações para que USP, Unicamp e
Unesp ampliem a isenção para estudantes carentes neste ano.
A Fuvest (Fundação Universitária para o Vestibular), principal
alvo do grupo, já fez uma proposta, mas ela é bem aquém do que os
cursinhos reivindicam. "É uma situação delicada a nossa. Pessoalmente, tenho muita simpatia pelo
trabalho do frei Davi. Mas não tenho condições financeiras de
isentar todos os alunos carentes
de taxa no vestibular. Se eles não
pagarem, alguém vai ter de pagar", afirma Roberto Costa, presidente da Fuvest, que afirma que a
cobrança não é inconstitucional.
Ele diz que, neste ano, as negociações, apesar de tensas, estão
"respeitosas". Segundo ele, nem
sempre foi assim. "Há dois anos,
eles invadiram o prédio da Fuvest.
Depois disso, passei a não recebê-los aqui dentro e ia conversar na
grade do portão", afirma.
O próximo passo do grupo de
frei Davi é processar a Secretaria
de Estado da Educação de São
Paulo. "Seis de nossos alunos declararam que passaram de ano
sem ter aulas. Eles estão sendo
prejudicados agora por isso", diz.
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