São Paulo, quinta-feira, 27 de agosto de 2009

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Moradores queimam ônibus e enfrentam a polícia na zona norte

Manifestação começou depois da morte de um rapaz que, de acordo com a PM, reagiu a uma abordagem policial

A polícia cercou a região, interditou ruas por 3 horas e atirou bombas de gás e balas de borracha em grupos que jogavam pedras

Joel Silva/ Folha Imagem
PMs da Tropa de Choque se preparam para entrar na favela Jardim Filhos da Terra, na zona norte

CONRADO CORSALETTE
LAURA CAPRIGLIONE

DA REPORTAGEM LOCAL

A morte de um rapaz que, segundo a versão oficial, reagiu a tiros contra uma abordagem policial desencadeou uma série de protestos no Jardim Filhos da Terra, região na divisa entre Jaçanã e Tremembé, na zona norte de São Paulo.
Dois ônibus foram queimados pelos manifestantes. A polícia cercou a região, interditou ruas por cerca de três horas e atirou bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha em grupos que atiravam pedras.
Moradores entraram em pânico. Mães corriam pelas ruas segurando os filhos pela mão. Na região, fica o CEU Jaçanã, onde 200 estudantes ficaram ilhados durante o conflito.
De acordo com comandantes da operação, os confrontos de ontem não deixaram feridos.
A Polícia Militar disse que, por volta das 17h30, um de seus carros tentou abordar dois rapazes. Um deles teria sacado uma arma e atirado. Ainda segundo a versão oficial, os policiais revidaram e balearam o suspeito, que morreu no hospital. O outro suspeito fugiu. A PM diz que eram traficantes.
O nome do rapaz morto não foi divulgado. Segundo moradores, ele era conhecido como Cheirinho e não tinha envolvimento com o tráfico. "Ele jogava bola direto com a gente no campinho", afirmou um colega.
Quase uma hora depois, um grupo de homens encapuzados cercou um ônibus que passava pela rua Maria Amália Lopes Azevedo, obrigou os passageiros a descer e incendiou o veículo. Minutos mais tarde, a algumas quadras dali, outro ônibus foi queimado.
"Um pessoal encapuzado chegou, mandou todo mundo descer e jogou umas bombas dentro do ônibus. O carro do meu marido até queimou um pouco. Corri para jogar água", disse uma mulher que mora próximo ao local onde o segundo veículo foi incendiado. Ela pediu para não ser identificada.
Com a chegada da polícia, ruas foram fechadas. Integrantes do GOE (Grupo de Operações Especiais) disseram ter sido recebidos a tiros no local.
Os grupos de manifestantes circulavam pelas ruas do bairro atirando pedras contra os policiais, que revidavam com as bombas de gás lacrimogêneo. Boa parte do efetivo da zona norte, inclusive a Tropa de Choque, foi enviada para o local. A PM não soube informar o efetivo total mobilizado.
Moradores reclamaram da polícia. "Jogaram uma bomba na minha casa. Minha filha de um ano quase morreu", afirmou Estela Maria da Silva, 29.
Após a diminuição dos confrontos, às 21h30, a polícia liberou as ruas para que os moradores que chegavam do trabalho pudessem ir para casa.
Em pequenos grupos, os moradores corriam assustados. "Até parece que a gente mora no inferno", disse uma mulher.


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