São Paulo, sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FOCO

Pedreiro do sertão não sofre com secura

Vindo de Juazeiro (BA), trabalhador diz não sentir efeito do tempo seco de São Paulo

VANESSA CORREA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Com a umidade do ar em torno de 13% em São Paulo, condições semelhantes às do sertão nordestino, só não reclama do tempo seco quem está acostumado a ele, como Waldomiro de Carvalho, 60.
"Não sinto não, é igual", diz o pedreiro, enquanto quebra uma parede no cruzamento entre a rua dos Trilhos e a Bresser, na Mooca.
Ele, que se reveza entre as plantações de feijão-de-corda em Juazeiro, na Bahia, e o trabalho na construção civil, diz estar acostumado às condições áridas.
Mas quando o relato é dos paulistanos, a coisa muda. São os olhos e a garganta que ardem, o cansaço que começa já ao acordar.
O carteiro Cristiano Martins, 32, diz que toma e toma água, "mas ainda dá sensação de secura". Há mais de dez anos na rua, ele reclama que neste ano "está mais calor e mais poluído".
"É difícil de eu beber água, mas agora está sendo fundamental", relata Roberto dos Santos Silva, 23, que faz entregas de bicicleta para uma padaria na av. Brigadeiro Luís Antônio, nos Jardins. "Às vezes, dá uma tontura."
"A pessoa fica mais sonolenta e arde a garganta, estou ficando rouco", diz o frentista Luís Ricardo, que também trabalha nos Jardins.

SEM REMÉDIO
O motoboy Rafael Alves Viana, 27, encontrou uma maneira de aliviar o incômodo na garganta e nos olhos, usando soro fisiológico para umedecer. Mas a sensação de moleza não tem remédio.
"O corpo fica cansado, para dormir é horrível, eu já acordo cansado." Ele roda a cidade toda fazendo entregas, mas acha o centro e as vias de tráfego intenso de caminhões os piores lugares da cidade. "Onde está melhor é onde tem árvore."
Solução inusitada -até meio assustadora- encontrou o taxista Wagner Moreno, 54. Ele usa uma máscara antipoluição preta, com um algodão umedecido dentro. "Mas quando o passageiro dá o sinal para parar, eu tiro."
A medida mais prosaica, no entanto, é a mais adotada por toda a parte. "Uns cinco litros de água" é o que diz tomar durante um dia de trabalho o pedreiro Isaias Rodrigues dos Santos, 34.


Texto Anterior: Interior: Cidade pede que pai leve soro a filhos
Próximo Texto: Recomendações para dias secos
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.