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FOCO
Pedreiro do sertão não sofre com secura
Vindo de Juazeiro (BA), trabalhador diz não sentir efeito do tempo seco de São Paulo
VANESSA CORREA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Com a umidade do ar em
torno de 13% em São Paulo,
condições semelhantes às do
sertão nordestino, só não reclama do tempo seco quem
está acostumado a ele, como
Waldomiro de Carvalho, 60.
"Não sinto não, é igual",
diz o pedreiro, enquanto
quebra uma parede no cruzamento entre a rua dos Trilhos
e a Bresser, na Mooca.
Ele, que se reveza entre as
plantações de feijão-de-corda em Juazeiro, na Bahia, e o
trabalho na construção civil,
diz estar acostumado às condições áridas.
Mas quando o relato é dos
paulistanos, a coisa muda.
São os olhos e a garganta que
ardem, o cansaço que começa já ao acordar.
O carteiro Cristiano Martins, 32, diz que toma e toma
água, "mas ainda dá sensação de secura". Há mais de
dez anos na rua, ele reclama
que neste ano "está mais calor e mais poluído".
"É difícil de eu beber água,
mas agora está sendo fundamental", relata Roberto dos
Santos Silva, 23, que faz entregas de bicicleta para uma
padaria na av. Brigadeiro
Luís Antônio, nos Jardins.
"Às vezes, dá uma tontura."
"A pessoa fica mais sonolenta e arde a garganta, estou
ficando rouco", diz o frentista Luís Ricardo, que também
trabalha nos Jardins.
SEM REMÉDIO
O motoboy Rafael Alves
Viana, 27, encontrou uma
maneira de aliviar o incômodo na garganta e nos olhos,
usando soro fisiológico para
umedecer. Mas a sensação de
moleza não tem remédio.
"O corpo fica cansado, para dormir é horrível, eu já
acordo cansado." Ele roda a
cidade toda fazendo entregas, mas acha o centro e as
vias de tráfego intenso de caminhões os piores lugares da
cidade. "Onde está melhor é
onde tem árvore."
Solução inusitada -até
meio assustadora- encontrou o taxista Wagner Moreno, 54. Ele usa uma máscara
antipoluição preta, com um
algodão umedecido dentro.
"Mas quando o passageiro dá
o sinal para parar, eu tiro."
A medida mais prosaica,
no entanto, é a mais adotada
por toda a parte. "Uns cinco
litros de água" é o que diz tomar durante um dia de trabalho o pedreiro Isaias Rodrigues dos Santos, 34.
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