|
Próximo Texto | Índice
SAÚDE
De 91 a 2000, aumento dos casos em SP foi de 43% entre as jovens de 15 a 19 anos de famílias com renda acima de 15 salários mínimos
Gravidez cresce entre adolescentes da elite
ANTÔNIO GOIS
ENVIADO ESPECIAL A CAXAMBU
O aumento da gravidez na adolescência verificado na década de
90 não é restrito às classes menos
escolarizadas e mais pobres.
Estudo do Instituto de Medicina
Social da Uerj mostra que, no Rio
e em São Paulo, houve aumento
em quase todas as classes sociais
e, no caso de São Paulo, o aumento verificado entre as adolescentes
de famílias mais escolarizadas e
de maior renda foi até superior ao
verificado entre de famílias menos escolarizadas e mais pobres.
Em 1991, o Censo do IBGE
apontou que a taxa de filhos nascidos vivos por mulher de 15 a 19
anos no segmento específico das
meninas cujas mães tinham ao
menos 11 anos de estudo era de 58
filhos por grupo de 1.000 mulheres em São Paulo. Em 2000, subiu
para 86, uma variação de 48%.
Já a variação dos casos de gravidez entre as jovens de famílias de
maior renda (mais de 15 salários
mínimos de renda média familiar) foi de 43%.
No grupo de menor escolaridade (adolescentes cujas mães tinham menos de quatro anos de
estudo), essa variação foi de 11%.
Passou de 282 filhos por 1.000
nascidos vivos para 314 filhos por
1.000 nascidos vivos.
Esses dados não negam que a
renda e a escolaridade são fatores
que influenciam, e muito, a decisão sobre o número de filhos que
a adolescente quer ter ou sua capacidade de evitar uma gravidez
não prevista. Mas eles mostram
que o aumento da gravidez precoce não pode ser atribuído à pobreza ou à falta de escolaridade.
O pesquisador Mário Francisco
Giani Monteiro, autor do estudo
apresentado no 14º Encontro Nacional da Abep (Associação Brasileira de Estudos Populacionais),
fez a mesma tabulação para o Rio
e comparou, tanto no Rio quanto
em São Paulo, também a variação
da taxa de acordo com o rendimento. O resultado mostra que
em todas as classes de rendimento e de escolaridade foi verificado
aumento da fecundidade precoce.
A única exceção foi entre as adolescentes em São Paulo com rendimento familiar inferior a dois
salários mínimos. Esse grupo
continua tendo a taxa mais alta,
mas ela foi reduzida em 11%, de
392 por 1.000 para 349 por 1.000.
Tanto no Rio quanto em São
Paulo, os maiores aumentos percentuais foram verificados entre
os grupos médios de escolaridade
(mães entre quatro e sete anos de
estudo ou de oito a dez anos).
Aborto e costumes
A pesquisadora Suzana Cavenaghi, do Núcleo de Estudos de População da Unicamp, diz que, no
caso das jovens de classe mais alta, o dado de filhos por mulher
não reflete o número real das que
engravidaram: "Há muitas meninas de classe alta que fazem aborto. Nas classes de menor renda, o
acesso à prática é mais difícil".
"Adolescentes de todas as classes estão iniciando sua vida sexual
mais cedo. Além disso, valores como preservar a virgindade antes
do casamento foram gradualmente perdendo a importância",
afirma Monteiro.
Segundo Cavenaghi, a tendência de aumento da gravidez na
adolescência é mundial: "O problema é que essa mudança no
comportamento sexual dos adolescentes nem sempre é acompanhada de uma mudança nas atitudes das famílias e da preparação
do sistema público de saúde".
Para o demógrafo Humberto
Corrêa, da Unicamp, que também apresentou um estudo sobre
mães adolescentes no encontro
da Abep, a questão da gravidez na
adolescência não deve ser vista
apenas como problema. "Se a
mulher já está preparada, do ponto de vista biológico, para ter um
filho, e isso faz parte do projeto de
vida dela, não há problema."
Cavenaghi concorda que, principalmente quando a adolescente
tem 18 ou 19 anos, nem sempre a
gravidez é indesejada. Ela afirma,
no entanto, que esse fenômeno
deve ser visto como possível problema quando se analisa o impacto na escolaridade da mulher, já
que uma gravidez precoce pode
interromper os estudos e prejudicar a inserção no mercado.
Nesse sentido, outro estudo
apresentado no encontro da Abep
mostra que o impacto, do ponto
de vista econômico, de ter um filho antes de 20 anos de idade, varia muito de acordo com o nível
de escolaridade da mulher.
Estudo de Ivo Chermont, Alinne Veiga e Adriana Fontes, do
Instituto de Estudos do Trabalho
e Sociedade, mostra que, nas classes mais escolarizadas, o impacto
negativo na renda da mulher que
teve gravidez precoce é maior.
Os autores compararam, a partir da Pnad (Pesquisa Nacional
por Amostra de Domicílio) de
2002, do IBGE, a renda média de
mulheres entre 24 e 40 anos que
tiveram filhos antes ou depois dos
20 anos. No grupo com mais de 12
anos de estudo, mulheres com
gravidez precoce apresentavam
uma média de rendimento de R$
877, enquanto as que não tinham
tido filhos antes dos 20 anos ganhavam R$ 1.290. No grupo de
mais baixa escolaridade, praticamente não houve diferença.
Segundo o relatório "Situação
da População Mundial 2004", elaborado pelo Fundo das Nações
Unidas para a População, a taxa
de 86 filhos por grupo de 1.000
mulheres em São Paulo (no grupo
mais escolarizado) é bastante superior à média verificada na Europa em todas as classes sociais
(20 nascimentos por grupo de
1.000 mulheres de 15 a 19 anos) e
semelhante à média da América
Central (76 nascimentos por 1.000
mulheres de 15 a 19 anos).
A taxa encontrada entre as meninas paulistas e fluminenses menos escolarizadas (314 por 1.000) é
superior até mesmo à taxa mais
alta encontrada entre os 153 países que constam desse relatório.
Essa taxa na África Central (a
maior entre todas as regiões comparadas) foi de 200.
Próximo Texto: Frases Índice
|