|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Turistas pagam R$ 800 para viver em aldeia indígena
Passeio de cinco dias inclui exercícios de arco e flecha e palestra sobre lendas indígenas
Turismo é maior fonte de renda das aldeias, que também vendem produtos típicos; índios ainda viajam para vender objetos da tribo
FÁBIO GRELLET
DA SUCURSAL DO RIO
De dia, passeios guiados por
índios pataxós, banho no rio,
exercícios de arco e flecha, pintura do corpo e participação no
ritual de confraternização. À
noite, ao redor da fogueira, palestra sobre tradições e lendas
indígenas e repouso em rede ou
esteira, na oca. Nas refeições,
pratos indígenas, claro.
Séculos atrás, essa rotina
despertaria temor no homem
branco. Hoje, turistas pagam
R$ 800 para viver essa experiência durante cinco dias e
quatro noites, em cinco aldeias
na região de Porto Seguro (BA).
O passeio, criado pela agência Pataxó Turismo, atende no
máximo a 12 pessoas por vez.
As partidas ocorrem apenas
nas semanas de lua cheia ou nova, sempre às terças-feiras. A
empresa fica com 40% do valor
e entrega aos índios os 60% restantes, conta Maria Luísa da
Silva Cruz, dona da agência.
"Hoje, a principal fonte de
renda das aldeias é o turismo",
afirma Cruz, cuja agência oferece várias outras opções de
passeios em áreas indígenas.
O mais barato dura três horas
e inclui visita a uma aldeia e degustação de um prato típico
-R$ 45, com transporte.
Embora os brasileiros sejam
maioria, muitos estrangeiros
também procuram esses passeios. "Tem portugueses, argentinos, gente de vários países
da Europa", diz Cruz.
Atualmente, segundo a dona
da agência de turismo, a única
aldeia da região que não tem
um programa pago para receber turistas é a Coroa Vermelha, em cuja área foi celebrada,
em 26 de abril de 1500, a primeira missa no Brasil, e hoje é
uma espécie de bairro de Porto
Seguro-com comércios e a
maioria das casas de alvenaria.
As outras aldeias, situadas
em reservas indígenas mais
afastadas da área urbana, oferecem visitas pagas. "Isso começou há 11 anos, quando a única
aldeia visitada era Coroa Vermelha e três índias pataxós
propuseram a comercialização
de passeios nas aldeias", conta.
Os índios também lucram
com a venda de artesanato. Um
cocar chega a custar R$ 500,
mas há peças bem mais em conta, como um apito (R$ 10, em
média) ou um colar (R$ 15).
Da Bahia ao Rio
Mesmo com o turismo em alta na própria aldeia, os pataxós
também viajam para vender artesanato. No calçadão da orla
de Copacabana (zona sul do
Rio), por exemplo, é comum
encontrar índios -devidamente paramentados- vendendo
objetos da tribo.
O pataxó Joselito Vaqueiro,
38, cujo nome indígena é Quati
Pataxó, costuma passar mais
tempo no Rio -onde esteve de
março a agosto- que na Bahia.
"Divulgo a cultura do meu
povo e ganho o suficiente para
me manter", diz Quati, que trabalha com um cocar na cabeça e
o corpo pintado. Enquanto oferece o artesanato, ele distribui
panfletos das agências que promovem o turismo indígena.
Texto Anterior: Há 50 Anos Próximo Texto: Passeio em SP é mais barato, mas só por um dia Índice
|