São Paulo, terça-feira, 27 de setembro de 2011

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Viúva de vítima de acidente da Gol trava guerra solitária

Cinco anos após tragédia que matou 154, mulher tenta provar culpa de americanos

Aeronave sobrevoava Mato Grosso, em 2006, quando foi atingida por Legacy que viajava fora da rota estabelecida

RICARDO GALLO
DE SÃO PAULO

Quase cinco anos depois da tragédia com o voo 1907 da Gol, uma mulher tenta praticamente sozinha colocar na prisão os dois pilotos do jato Legacy.
Os dois aviões se chocaram no ar em 29 de setembro de 2006, sobre Mato Grosso. Os 154 ocupantes do voo da Gol morreram. Os do Legacy saíram ilesos. O jato voava em altura diferente da estabelecida no plano de voo.
Viúva de uma das vítimas, a paranaense Rosane Gutjahr, 53, não se conforma com a pena da Justiça aos pilotos americanos Joseph Lepore e Jan Paul Paladino.
Para ela, os pilotos foram responsáveis por colocar o Legacy na contramão, com o sistema anticolisão inoperante, e, assim, causar a tragédia.
A defesa dos pilotos argumenta que eles foram induzidos a erro por falhas do controle de tráfego aéreo. Em maio deste ano, os dois americanos foram condenados a quatro anos e quatro meses de prisão, convertidas em prestação de serviço comunitário em alguma repartição brasileira nos Estados Unidos, onde vivem.
Agora, Rosane tenta no Tribunal Regional Federal que a sentença seja transformada em regime de prisão. Se isso ocorrer, a pena teria de ser cumprida nos EUA em regime semiaberto. Ainda não há decisão do TRF a respeito. Na opinião da empresária, o caso é de "dolo eventual", quando alguém assume o risco de matar.

DO BOLSO
Diretora da associação de familiares das vítimas, ela paga os advogados que ajudam o Ministério Público Federal na acusação e lidera as iniciativas de outros parentes das vítimas no caso.
Embora a Procuradoria tenha denunciado cinco controladores por responsabilidade no acidente, dos quais um foi condenado, Rosane entende que a culpa foi dos pilotos do Legacy. Os erros dos controladores foram contribuintes, não decisivos, diz.
A investigação da Aeronáutica concluiu que Lepore e Paladino não cumpriram o plano de voo e desligaram de maneira involuntária o sistema anticolisão. Ficaram, ainda, sem se comunicar com o controle de voo por uma hora.
Rosane é uma das seis representantes de familiares que não aceitaram indenização da Gol. Segundo a empresa, parentes de 149 das 154 vítimas aceitaram indenização. O "sim" implica abrir mão de processar a empresa. A empresária diz ter rejeitado propostas de R$ 400 mil, R$ 1,2 milhão e R$ 2,5 milhões.
A Gol nega que as propostas tenham sido apresentadas por seus advogados. Diz ainda que não divulga detalhes sobre acordos e valores. "Dinheiro nenhum vai trazer meu marido de volta", diz ela. O empresário Rolf Guthjar voltava de Manaus para Brasília e, de lá, se encontraria com Rosane.


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