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SAÚDE
Especialistas prevêem que doença, que causa cirrose e câncer, pode ter epidemia mundial no próximo milênio
Hepatite C ameaça tomar lugar da Aids
AURELIANO BIANCARELLI
enviado especial a Lisboa
Infectologistas e epidemiologistas estão prevendo que a hepatite
C -que causa cirrose e câncer no
fígado- será a Aids do próximo
milênio. Não se trata apenas de
retórica catastrofista. O vírus já
atinge hoje 300 milhões de pessoas no mundo todo, cinco vezes
o número de vítimas da Aids.
Com algumas agravantes: ainda
não se conhecem todos os mecanismos de transmissão, a maioria
das pessoas sabe pouco sobre a
doença e os governos e laboratórios ainda não atentaram para a
sua gravidade. O vírus só foi identificado há dez anos, os testes só
existem há sete, não há vacinas e
os medicamentos não curam,
apenas controlam a doença.
O alerta vem sendo repetido em
vários painéis da 7ª Conferência
Européia de Aids, em Lisboa. Carlos Soriano, do Instituto de Saúde
Carlos 3º, de Madri (Espanha),
mostrou pesquisas onde a hepatite C representa 85% das internações por falência hepática entre
pacientes com HIV.
Por terem o sistema imunológico debilitado, esses doentes são as
principais vítimas. A ameaça de
uma epidemia em grande escala
pelo vírus da hepatite C, no entanto, pesa sobre a população em geral. No mundo todo, a prevalência
oscila entre 0,8% e 2%. Em São
Paulo, um estudo divulgado no
ano passado e realizado pelo Hospital Emílio Ribas em parceria
com o Datafolha detectou uma
prevalência de 1,4%. Seriam cerca
de 140 mil infectados só na capital
e 2,2 milhões em todo o país.
"Um fator agravante é que 50%
das hepatites C do Brasil são provocadas por um subtipo de vírus
conhecido como 1B", diz o infectologista Roberto Focaccia, coordenador da pesquisa e especialista em hepatites. Todos os portadores do 1B vão apresentar, num
período de 2 a 20 anos, um processo de cirrose hepática que pode levar à falência do fígado ou
mesmo a um câncer. Os pacientes
com esse subtipo adoecem mais
rapidamente e respondem mal
aos tratamentos. Outra agravante
é que esse vírus da hepatite C, em
99% dos casos, só será detectado
quando surgir a doença.
"Dentro de alguns anos, vamos
estar falando mais da hepatite C
do que hoje falamos da Aids",
afirma Caio Rosenthal, infectologista do Emílio Ribas.
Só esse hospital vem recebendo
cerca de mil casos novos por ano.
Nos EUA, esse tipo de hepatite já
provoca 10 mil mortes por ano.
"Não se está dando a devida importância à doença", diz Focaccia.
"Há falhas na triagem por parte
de alguns bancos de sangue e falta
suporte financeiro para diagnóstico e tratamento."
Embora não tenha cura, a doença é controlada com as drogas interferon e ribavirina. "Mas poucos Estados oferecem a primeira e
a segunda sofre faltas frequentes,
mesmo em São Paulo", diz o médico.
Aureliano Biancarelli viajou a convite do laboratório Abbott
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