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São Paulo, segunda-feira, 27 de outubro de 2003

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Médico quer lobby contra a indústria

DA REPORTAGEM LOCAL

Coordenador da Uniad (Unidade de Álcool e Drogas) da Unifesp, o psiquiatra Ronaldo Laranjeira, 47, defende a criação de uma "aliança cidadã", um movimento político que faça lobby contra a indústria do álcool. "A indústria, no meu modo de ver, não é um interlocutor legítimo nesse debate."
Laranjeira representou o Brasil, no fim de setembro, em encontro da OMS ocorrido em Cambridge (Inglaterra) para debater uma política global contra o álcool.
 

Folha - Qual era o objetivo do encontro?
Ronaldo Laranjeira -
A OMS levou muitos anos para fazer algo de grande impacto na área de cigarro, nas houve avanço grande. Queremos agora que o mesmo ocorra com o álcool. A América do Sul é um dos lugares em que o custo social do álcool é mais alto. Quando falei qual era o preço da bebida alcoólica no Brasil, as pessoas não acreditaram. Também estão impressionados com o descontrole da propaganda, esse negócio do "experimenta" [propaganda de uma nova cerveja]. A influência é infinitamente superior a qualquer tipo de prevenção.

Folha - O governo cedeu no controle da propaganda. E a Fazenda não vê como aumentar impostos.
Laranjeira -
Não vê como prioridade política. Se o álcool ficar na mão de economistas, estamos fritos. O custo do álcool supera em muito o que ele traz em impostos. É uma indústria parasitária, mas os economistas não vêem assim.

Folha - A auto-regulamentação contribuiu para isso?
Laranjeira -
A própria OMS fala que em nenhum lugar em que a auto-regulamentação foi tentada deu certo. E você não pode deixar uma questão de saúde pública, como o álcool, na mão da indústria. É como deixar o galinheiro na mão do lobo. A indústria, no meu modo de ver, não é um interlocutor legítimo nesse debate. Porque tudo que a indústria tem feito, nesse negócio de beber responsável, visa só melhorar a imagem. O governo ensaiou algumas medidas, mas refluiu rapidamente frente às pressões.

Folha - Como agirá o movimento?
Laranjeira -
A indústria está determinando a política do álcool. O setor profissional, no qual me incluo, não consegue influenciar. Eles foram muito profissionais até agora, e nós, amadores. A idéia é criar uma aliança supra-institucional. É proteção da sociedade em relação à indústria. (FL)


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