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POLÍCIA PRIVADA
Armado e com carro oficial, soldado procura síndicos para oferecer serviço particular de vigilância no Paraíso
PM vai de farda "vender" segurança em bairro
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
Um soldado da Polícia Militar
fardado, armado, com colete à
prova de balas e carro oficial da
corporação, ofereceu a condomínios de prédios de classe média no
Paraíso (zona sul) um serviço pago especial de proteção no bairro.
Com o uniforme, acionou a
portaria de ao menos dois prédios
para conversar com os síndicos.
Seu nome, placa do carro da PM e
do batalhão estão nas mãos da vizinhança -que evita divulgar à
Folha por temer represálias.
A proposta, feita às 17h30 de um
dia da semana, no mês passado,
era direta. "Ele parou com a viatura da polícia aqui na frente. Um
papo estranho, amigão, dizendo:
"A gente vai melhorar a segurança
dessa rua". Queria oferecer um
serviço privado, mas colocaria
bombeiros, policiais e aumentaria
também a passagem das viaturas
oficiais da polícia na rua", conta
Jorge Ehrhardt, 59, engenheiro
responsável pelo conselho de vigilância de um dos edifícios, localizado na rua Afonso de Freitas.
Vizinhos dizem que interlocutores do PM pediram a formalização da proposta por escrito, porém ela não foi aceita. O preço
também não ficou detalhado.
O relato, que indica a venda de
segurança por PMs não somente
no bico -que já é ilegal- como
até em serviço, utilizando a estrutura da corporação, aponta para
uma situação semelhante à identificada em outros bairros, conforme apontou a Folha ontem.
A adesão a serviços de policiais
militares para a proteção de vias,
em substituição aos tradicionais
vigias de rua, atinge bairros como
Cidade Vargas e Vila Parque Jabaquara, na zona sul, com a colaboração inclusive de uma presidente
de Conseg (Conselho Comunitário de Segurança) e de um magistrado do Tribunal de Justiça.
Ontem, em depoimento à Corregedoria da PM, a representante
do Conseg admitiu a articulação
do serviço, mas afirmou ter contato com somente um policial militar e não quis revelar seu nome.
O atendimento, muitas vezes, é
personalizado. Os PMs não ficam
parados na rua, mas fazem rondas e são acionados por celular na
saída ou na chegada de casa.
Os policiais pagos atuam na folga, mas, segundo moradores, dão
atenção especial aos bairros em
seu expediente. Oferta semelhante à que foi feita pelo soldado fardado no Paraíso, que prometia
ainda cadastrar os porteiros de todos os prédios e fiscalizá-los.
O pagamento a PMs é atraente
por ter facilidades a preços a partir de R$ 50 por casa, inferiores
aos da proteção privada regular.
No bairro do Paraíso, a oferta
do PM surgiu justamente num
momento em que moradores de
vários prédios cogitavam a possibilidade de contratar duas empresas particulares ligadas a policiais
para fazer a vigilância da rua.
A discussão surgiu devido aos
constantes roubos de veículos e
ao medo de arrastão. Foi motivo
de assembléias em edifícios, inclusive com citação em atas.
O preço do condomínio, dependendo do lugar, subiria de R$ 5 a
R$ 50 por apartamento. Um síndico insistia na vantagem das empresas com policiais e ligação direta com um grupamento da PM.
"Não é unanimidade, numa assembléia dá muita discussão. Mas
a idéia é rejeitada pela maioria",
afirma Ehrhardt, para quem isso
cria mais insegurança, até pelo
risco de haver troca de tiros.
Os moradores afirmam que a
tendência é optar pela contratação de uma empresa de segurança
sem policiais e desarmada.
Mesmo assim, avaliam que conseguirão facilidades no contato
com a polícia. "Eles fazem uma
comunicação mais rápida", diz
Wilson Sallum, subsíndico de um
edifício. "As empresas de segurança mostram essa facilidade de
chamar mais rapidamente a polícia. Elas prometem esse contato
com um distrito policial, com a
PM que faz a vigilância aqui, têm
acesso a um telefone para chamada de emergência. Não é uma
obrigação contratual, mas sim algo adicional", diz Ehrhardt.
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