São Paulo, quinta-feira, 27 de outubro de 2005

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POLÍCIA PRIVADA

Armado e com carro oficial, soldado procura síndicos para oferecer serviço particular de vigilância no Paraíso

PM vai de farda "vender" segurança em bairro

ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL

Um soldado da Polícia Militar fardado, armado, com colete à prova de balas e carro oficial da corporação, ofereceu a condomínios de prédios de classe média no Paraíso (zona sul) um serviço pago especial de proteção no bairro.
Com o uniforme, acionou a portaria de ao menos dois prédios para conversar com os síndicos. Seu nome, placa do carro da PM e do batalhão estão nas mãos da vizinhança -que evita divulgar à Folha por temer represálias.
A proposta, feita às 17h30 de um dia da semana, no mês passado, era direta. "Ele parou com a viatura da polícia aqui na frente. Um papo estranho, amigão, dizendo: "A gente vai melhorar a segurança dessa rua". Queria oferecer um serviço privado, mas colocaria bombeiros, policiais e aumentaria também a passagem das viaturas oficiais da polícia na rua", conta Jorge Ehrhardt, 59, engenheiro responsável pelo conselho de vigilância de um dos edifícios, localizado na rua Afonso de Freitas.
Vizinhos dizem que interlocutores do PM pediram a formalização da proposta por escrito, porém ela não foi aceita. O preço também não ficou detalhado.
O relato, que indica a venda de segurança por PMs não somente no bico -que já é ilegal- como até em serviço, utilizando a estrutura da corporação, aponta para uma situação semelhante à identificada em outros bairros, conforme apontou a Folha ontem.
A adesão a serviços de policiais militares para a proteção de vias, em substituição aos tradicionais vigias de rua, atinge bairros como Cidade Vargas e Vila Parque Jabaquara, na zona sul, com a colaboração inclusive de uma presidente de Conseg (Conselho Comunitário de Segurança) e de um magistrado do Tribunal de Justiça.
Ontem, em depoimento à Corregedoria da PM, a representante do Conseg admitiu a articulação do serviço, mas afirmou ter contato com somente um policial militar e não quis revelar seu nome.
O atendimento, muitas vezes, é personalizado. Os PMs não ficam parados na rua, mas fazem rondas e são acionados por celular na saída ou na chegada de casa.
Os policiais pagos atuam na folga, mas, segundo moradores, dão atenção especial aos bairros em seu expediente. Oferta semelhante à que foi feita pelo soldado fardado no Paraíso, que prometia ainda cadastrar os porteiros de todos os prédios e fiscalizá-los.
O pagamento a PMs é atraente por ter facilidades a preços a partir de R$ 50 por casa, inferiores aos da proteção privada regular.
No bairro do Paraíso, a oferta do PM surgiu justamente num momento em que moradores de vários prédios cogitavam a possibilidade de contratar duas empresas particulares ligadas a policiais para fazer a vigilância da rua.
A discussão surgiu devido aos constantes roubos de veículos e ao medo de arrastão. Foi motivo de assembléias em edifícios, inclusive com citação em atas.
O preço do condomínio, dependendo do lugar, subiria de R$ 5 a R$ 50 por apartamento. Um síndico insistia na vantagem das empresas com policiais e ligação direta com um grupamento da PM.
"Não é unanimidade, numa assembléia dá muita discussão. Mas a idéia é rejeitada pela maioria", afirma Ehrhardt, para quem isso cria mais insegurança, até pelo risco de haver troca de tiros.
Os moradores afirmam que a tendência é optar pela contratação de uma empresa de segurança sem policiais e desarmada.
Mesmo assim, avaliam que conseguirão facilidades no contato com a polícia. "Eles fazem uma comunicação mais rápida", diz Wilson Sallum, subsíndico de um edifício. "As empresas de segurança mostram essa facilidade de chamar mais rapidamente a polícia. Elas prometem esse contato com um distrito policial, com a PM que faz a vigilância aqui, têm acesso a um telefone para chamada de emergência. Não é uma obrigação contratual, mas sim algo adicional", diz Ehrhardt.


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