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REFERENDO
Crítica foi feita na Anpocs
Para professor, eleitor não tem preparo cívico
MICHELE OLIVEIRA
ENVIADA ESPECIAL A CAXAMBU (MG)
O professor de teoria política
Renato Lessa criticou, durante
encontro em Caxambu (MG), o
eleitorado brasileiro.
Lessa, do Iuperj (Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de
Janeiro), citou o referendo do último domingo no debate "20 Anos
de Vida Democrática" -no encontro anual da Anpocs (Associação Nacional de Pós-Graduação e
Pesquisa em Ciências Sociais)-
ao dizer que falta ao "mega-eleitorado" brasileiro "qualificação cívica". "Metade do eleitorado não
tem preparo, com muitos analfabetos funcionais entre os eleitores", disse, ao fazer um balanço
dos 20 anos de redemocratização.
Já o antropólogo Luiz Eduardo
Soares, ex-secretário nacional de
Segurança Pública do governo
Lula, comentou a situação do PT.
Principal partido atingido pelo
escândalo do "mensalão", o PT
mostrou no referendo uma dificuldade de se impor como liderança aos eleitores, segundo ele.
De acordo com Soares, uma das
conseqüências do referendo
-que teve o "não" vencedor-
foi a percepção de que o PT, ao
participar do processo defendendo o "sim" à proibição da venda
de armas no país, deixou de ser
um formador de opinião, principalmente entre os jovens.
"A juventude, diante da dificuldade de entender processos [como a questão do referendo], se
identificava com lideranças à esquerda do espectro político", disse. "O PT mostrou que não tem
mais a posição de líder que orienta decisões", afirmou o antropólogo, que viu no episódio uma
"destruição das bússolas".
Convidado a comentar o resultado do referendo pela platéia, o
ex-secretário, que está rompido
com o governo desde 2003, disse
ainda que esse "primeiro resultado eleitoral pós-queda do PT" sinaliza que o partido pode ter dificuldades em 2006, ano de eleição
para presidente e governador.
"Em parte, o referendo acabou
sendo um plebiscito contra e a favor do governo. Sobretudo o "não"
que venceu foi um "não" de indignação", avaliou.
O PT é acusado de montar um
esquema de pagamento de propina a partidos da base aliada em
troca de apoio ao governo no
Congresso. Além disso, o ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares, expulso da sigla, admitiu o
uso de caixa dois em campanhas.
Também no debate, Sebastião
Velasco e Cruz, da Unicamp, lembrou que o projeto que deu origem ao referendo sobre a comercialização de armas é anterior ao
governo Lula. Segundo ele, sem
citar nomes, os autores do projeto
"abandonaram esse terreno na
expectativa correta de que a derrota do "sim" fosse entendida como uma derrota do PT".
Soares ainda citou outra conseqüência do referendo: a imposição de uma "nova" agenda conservadora no país. Segundo ele,
discussões sobre prisão perpétua
e redução da idade penal irão surgir com a vitória do "não".
A jornalista MICHELE OLIVEIRA viajou a
convite da organização da Anpocs
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