São Paulo, quinta-feira, 27 de outubro de 2005

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REFERENDO

Crítica foi feita na Anpocs

Para professor, eleitor não tem preparo cívico

MICHELE OLIVEIRA
ENVIADA ESPECIAL A CAXAMBU (MG)

O professor de teoria política Renato Lessa criticou, durante encontro em Caxambu (MG), o eleitorado brasileiro.
Lessa, do Iuperj (Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro), citou o referendo do último domingo no debate "20 Anos de Vida Democrática" -no encontro anual da Anpocs (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais)- ao dizer que falta ao "mega-eleitorado" brasileiro "qualificação cívica". "Metade do eleitorado não tem preparo, com muitos analfabetos funcionais entre os eleitores", disse, ao fazer um balanço dos 20 anos de redemocratização.
Já o antropólogo Luiz Eduardo Soares, ex-secretário nacional de Segurança Pública do governo Lula, comentou a situação do PT. Principal partido atingido pelo escândalo do "mensalão", o PT mostrou no referendo uma dificuldade de se impor como liderança aos eleitores, segundo ele.
De acordo com Soares, uma das conseqüências do referendo -que teve o "não" vencedor- foi a percepção de que o PT, ao participar do processo defendendo o "sim" à proibição da venda de armas no país, deixou de ser um formador de opinião, principalmente entre os jovens.
"A juventude, diante da dificuldade de entender processos [como a questão do referendo], se identificava com lideranças à esquerda do espectro político", disse. "O PT mostrou que não tem mais a posição de líder que orienta decisões", afirmou o antropólogo, que viu no episódio uma "destruição das bússolas".
Convidado a comentar o resultado do referendo pela platéia, o ex-secretário, que está rompido com o governo desde 2003, disse ainda que esse "primeiro resultado eleitoral pós-queda do PT" sinaliza que o partido pode ter dificuldades em 2006, ano de eleição para presidente e governador.
"Em parte, o referendo acabou sendo um plebiscito contra e a favor do governo. Sobretudo o "não" que venceu foi um "não" de indignação", avaliou.
O PT é acusado de montar um esquema de pagamento de propina a partidos da base aliada em troca de apoio ao governo no Congresso. Além disso, o ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares, expulso da sigla, admitiu o uso de caixa dois em campanhas.
Também no debate, Sebastião Velasco e Cruz, da Unicamp, lembrou que o projeto que deu origem ao referendo sobre a comercialização de armas é anterior ao governo Lula. Segundo ele, sem citar nomes, os autores do projeto "abandonaram esse terreno na expectativa correta de que a derrota do "sim" fosse entendida como uma derrota do PT".
Soares ainda citou outra conseqüência do referendo: a imposição de uma "nova" agenda conservadora no país. Segundo ele, discussões sobre prisão perpétua e redução da idade penal irão surgir com a vitória do "não".


A jornalista MICHELE OLIVEIRA viajou a convite da organização da Anpocs

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