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Metrô vai gastar R$ 70 milhões a mais na compra de trens
Companhia retomou contrato de 1992, que prevê mais gastos, em vez de fazer nova licitação para adquirir as 16 composições
Na versão antiga , o fornecedor é responsável pela importação e não há isenção de imposto; na nova, o desconto seria de 14%
JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
ROGÉRIO PAGNAN
DA REPORTAGEM LOCAL
O Metrô de São Paulo ressuscitou um contrato de 1992, ainda da época de Antonio Fleury
Filho (PTB), para comprar 16
trens que poderiam custar cerca de R$ 70 milhões a menos se
houvesse nova licitação. A informação de que o preço seria
menor é da própria fornecedora desses trens, a Alstom.
A aquisição relâmpago, estimada em R$ 500 milhões, foi
decidida e contratada entre
abril e maio deste ano, já no governo José Serra (PSDB), para
a linha 2 Verde. O Metrô pagará
mais porque o contrato de 15
anos atrás prevê que a fornecedora se responsabilizasse pela
importação dos equipamentos,
sem isenção de impostos.
Neste ano, entretanto, o Metrô abriu nova licitação para
comprar 17 trens com uma mudança: é o governo que importa
e, com redução nos impostos,
paga 14% menos. Em vez de incluir os trens nessa nova licitação, a diretoria do Metrô optou
por aditar (uma espécie de extensão) o contrato de 1992, que
já havia sido encerrado.
Em 17 de agosto de 2004, o
Metrô enviou carta ao TCE informando "o encerramento de
autorização de fornecimento"
desse contrato. Com isso, a caução (garantia do contrato) foi
devolvida à empresa, o que, para especialistas, torna a compra
tecnicamente "enterrada".
Em maio deste ano, porém, o
governo anunciou a retomada.
E mais: além das 11 composições que restavam, encomendou mais cinco por aditamento.
Classificado de "estranho"
por especialistas ouvidos pela
Folha, o aditamento está sendo
questionado pelo conselheiro
Eduardo Bittencourt Carvalho,
presidente da Primeira Câmara
do Tribunal de Contas.
Carvalho cobrou explicações
sobre os critérios utilizados pela estatal para considerar a retomada do contrato mais vantajosa aos cofres públicos.
"(...)Todo o procedimento
padece de uma profunda falta
de transparência com relação a
parâmetros básicos", diz Carvalho em trecho de despacho.
A contração de 1992, feita
com o cruzado como moeda, foi
destinada à compra de 22 trens
-11 deles entregues ainda na
década de 1990. O TCE quer explicações sobre esses cinco
trens "extras", mas pode estender sua decisão para os 16 trens,
agora bem diferentes dos previstos há 15 anos, devido a mudanças tecnológicas. São necessárias pelo menos dez adaptações. Para o TCE, seria necessário incorporar as alterações para avaliar se o preço é justo.
Pressa
Entre o parecer da área técnica do Metrô, a resolução da
diretoria que autorizou a compra e a assinatura do contrato,
em 7 de maio, houve um intervalo de cinco dias úteis.
O pedido, assinado pelo gerente de engenharia Dario Juliano Tambellini e outros técnicos, foi apresentado à diretoria
em 26 de abril. Em 4 de maio,
Sérgio Avellaneda, diretor de
assuntos corporativos, acatou o
pedido apresentado pela área
técnica. O contrato foi assinado
em 7 de maio, por Avellaneda e
a Alstom, que sucedeu a Mafersa no contrato original, de 1992.
"O mesmo produto, com a
mesma tecnologia, acaba tendo
um valor financeiro menor
porque a carga tributária é menor, qualquer que seja o ganhador [da nova licitação]", diz o
diretor da Alstom e vice-presidente do Simefre (Sindicato Interestadual da Indústria de
Materiais e Equipamentos Ferroviários e Rodoviários), Luiz
Fernando Ferrari. Segundo ele,
a maior vantagem da ação é a
rapidez de entrega. Para técnicos do TCE, esse argumento só
se justifica em contratos emergenciais -o que não é o caso.
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