|
Próximo Texto | Índice
Nova regra de ortografia confunde até dicionários
Versões de bolso recém-lançadas do "Aurélio" e do "Houaiss" grafam a mesma palavra de modos diferentes
Academia Brasileira de Letras pretende encerrar impasses em fevereiro, quando reforma ortográfica já estará em vigor
RICARDO WESTIN
DA REPORTAGEM LOCAL
Faltando apenas dois meses
para que as novas regras ortográficas entrem em vigor no
Brasil, nem mesmo os especialistas em língua portuguesa
conseguem chegar a um consenso sobre como determinadas palavras serão escritas a
partir de 1º de janeiro de 2009.
As divergências aparecem
nos dicionários "Houaiss" (ed.
Objetiva) e "Aurélio" (ed. Positivo), nas recém-lançadas versões de bolso, que já contemplam as mudanças ortográficas.
O "pára-raios" de hoje, por
exemplo, virou "para-raios"
no primeiro e "pararraios" no
segundo.
A lista de diferenças continua. A versão mini do
"Houaiss" grafa "sub-reptício"
e "para-lama". Em outra direção, o novo "Aurélio" traz
"subreptício" e "paralama".
Prevendo o impasse, antes
mesmo do lançamento dos dicionários, a ABL (Academia
Brasileira de Letras) tomou para si a difícil missão de dirimir
essas e outras dúvidas. A palavra final da entidade deverá
sair apenas em fevereiro, quando as novas regras ortográficas
já estiverem valendo.
Confusões
O acordo internacional, assinado em 1990, foi concebido
para unificar e simplificar a
grafia da língua portuguesa.
Certos acentos serão derrubados ("enjoo" e "epopeia"), e o
trema será praticamente extinto -só permanecerá em palavras estrangeiras (como "Müller" e "mülleriano").
O que tem sido motivo de
apreensão é o hífen.
O acordo está cheio de regras
novas -certas palavras perderão o hífen (como "antissocial"
e "contrarregra") e outras ganharão ("micro-ondas" e
"anti-inflamatório")-, mas
deixa buracos.
O texto diz que devem ser
aglutinadas, sem hífen, as palavras compostas quando "se
perdeu, em certa medida, a noção de composição". E lista
meia dúzia de exemplos:
"girassol, madressilva, mandachuva, pontapé, paraquedas,
paraquedista, etc.".
"O problema está justamente
no "etc.". Como sabemos que as
pessoas perderam a noção de
composição de uma palavra? É
algo subjetivo", afirma o professor e autor de gramática
Francisco Marto de Moura.
Na dúvida, os elaboradores
dos dois dicionários consultaram especialistas e chegaram
às suas próprias conclusões.
O "Houaiss", por exemplo,
achou mais seguro ignorar o
"etc." e decidiu que só seriam
aglutinadas as seis palavras da
lista de exemplos.
"Com essas mudanças, os dicionários precisam sair na
frente, já que são as obras às
quais todos vão recorrer. Precisam dar soluções. Diante das
lacunas, tivemos de inferir",
afirma Mauro Villar, co-autor
do "Houaiss".
O acordo diz que perdem o
acento os ditongos "ei" e "oi" de
palavras paroxítonas, como
"idéia" e "jibóia". No entanto,
existe hoje uma regra que determina que paroxítonas terminadas com "r" tenham acento. O que fazer com "destróier",
que se encaixa nas duas regras?
O texto tampouco faz referência ao uso ou à ausência do
hífen em formações como
"zunzunzum", "zás-trás" e
"blablablá".
Pontos obscuros
No início do ano, quando aumentaram os rumores de que
as mudanças ortográficas acordadas em 1990 finalmente
seriam tiradas da gaveta, a Academia Brasileira de Letras começou a se debruçar sobre os
pontos obscuros. Seis lexicógrafos e três acadêmicos têm
essa missão.
"Estamos tentando resolver
os problemas de esquecimento
e esclarecer os pontos obscuros. As interpretações serão feitas com o objetivo de facilitar a
vida do homem comum", diz
Evanildo Bechara, gramático e
ocupante da cadeira 33 da ABL.
As decisões da comissão da
ABL estarão no "Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa", a lista oficial da correta
grafia das palavras.
O término da obra estava
previsto para novembro. Por
causa do excesso de dúvidas, o
lançamento acabou sendo adiado para fevereiro.
Uma vez pronto o "Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa", os dicionários de bolso que já incorporaram o acordo ortográfico internacional
precisarão ser mais uma vez
reeditados, dessa vez com as
mudanças definitivas. É por isso que as versões completas do
"Houaiss" e do "Aurélio" ainda
não foram lançadas.
As novas regras ortográficas
começam a ser aplicadas em janeiro de 2009, mas as atuais
continuarão sendo aceitas até
dezembro de 2012.
A partir de janeiro de 2013,
serão corretas apenas as novas
grafias.
Próximo Texto: Frase Índice
|