São Paulo, terça-feira, 27 de outubro de 2009

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Fila da cidadania italiana leva 7 anos e tem 280 mil pessoas

No consulado em SP, quem fez pedido em 2002 foi chamado só agora para dar documentos

Força-tarefa foi criada para agilizar processo; um dos motivos para o pedido é interesse em ir para outros países da União Europeia

AFONSO BENITES
DA REPORTAGEM LOCAL

Os descendentes de italianos que vivem no Brasil e querem obter a cidadania daquele país enfrentam uma fila de quase 280 mil pessoas só no consulado de São Paulo e têm de esperar em média sete anos para serem atendidas. Força-tarefa foi criada há cinco meses nos sete consulados no país, mas o tempo de espera não diminuiu.
A cidadania espanhola, por exemplo, demora cerca de seis meses para ser concedida.
Quem entrou com o pedido de reconhecimento da cidadania italiana em outubro de 2002 só foi chamado neste ano para apresentar a documentação (certidões de nascimento, casamento etc., próprios e dos ascendentes). Ainda é preciso esperar a análise da papelada, o que pode levar alguns dias.
A justificativa do consulado pelo grande tempo de espera é que, a cada dia, há mais pedidos e só agora existe um empenho maior para reduzi-lo. Estima-se que haja 30 milhões de descendentes de italianos no Brasil, sendo 13 milhões no Estado de São Paulo.
De acordo com o vice-cônsul da Itália em São Paulo, Marco Leone, entre maio e o início deste mês, cerca de 6.500 pedidos de concessão de cidadania foram analisados. "O processo passou a ser mais rápido. Agora, nosso objetivo é reduzir o tempo de espera para dois anos", afirmou.
Além da demora na fila, outra dificuldade para obter a nacionalidade é juntar documentos e traduzi-los para o italiano -é preciso contratar os serviços de um tradutor juramentado.
O engenheiro agrônomo Luiz Rogério Abbate é um dos que tiveram problema. Ele esperou 15 anos -na primeira vez em que apresentou a documentação, havia incorreções, e a demora foi maior que a habitual.
Outro empecilho foi que seu sobrenome estava registrado de forma diferente da de seu bisavô italiano. "Sempre assinei Abbade. Depois, tive de mudar para Abbate." Foi no início do ano que conseguiu a cidadania, usada principalmente para viagens de negócio. "Quando seu passaporte é do Terceiro Mundo, você tem de enfrentar filas nos aeroportos. Quando é do Primeiro, não precisa."
Sem apresentar levantamento oficial, o consulado diz que turismo, estudo e trabalho são as principais motivações para o pedido de cidadania.
O foco não é sempre a Itália. Como os 27 Estados-membros da União Europeia não exigem vistos de permanência de seus cidadãos, muitos querem usar a cidadania para facilitar a entrada em outros países, principalmente no Reino Unido.
Há também os que pensam em ter a cidadania para os sucessores. "Já tenho minha vida no Brasil, por isso pensei em tirar a cidadania para um filho usufruir", diz o engenheiro florestal Alexandre Binelli, que tem a cidadania portuguesa e espera, desde 2002, na fila da italiana.


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