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Prefeitura defende despejo mesmo sem oferta de moradia
Para secretário da Habitação, aluguel de casa é alternativa para quem vive em área de risco
JOSÉ BENEDITO DA SILVA
DE SÃO PAULO
O secretário municipal de
Habitação, Ricardo Pereira
Leite, defendeu a retirada de
famílias de casas irregulares
em áreas de risco mesmo que
a prefeitura não possa lhes
oferecer moradia definitiva.
Hoje, a cidade de São Paulo tem 12 mil famílias recebendo dinheiro da prefeitura
para alugar um imóvel.
Na segunda-feira, reportagem da Folha mostrou que o
Estado vive o maior despejo
coletivo de sua história -165
mil perderão sua casas até
2015- e que a maioria é desalojada sem ter para onde ir.
"Em Nova York, 70% dos
imóveis são alugados. O presidente da Cohab de lá vive
num imóvel alugado. O aluguel é uma forma de provisão
de moradia, embora continue sendo necessária a oferta de uma moradia fixa", diz.
Elisabete França, superintendente de habitação popular da secretaria, concorda.
"Quantas pessoas de classe
média, estudantes, vivem
hoje em casas de aluguel?"
Segundo ela, os contemplados pelo auxílio-aluguel
recebem um termo de compromisso da prefeitura de
que terão imóvel definitivo.
Para o secretário, o importante é retirar as famílias de
áreas de risco. "No ano passado, algumas pessoas morreram. A gente precisa fazer
isso [o despejo]. Temos de, ao
mesmo tempo, produzir
[imóveis] e zelar pela vida."
Segundo a secretaria, o
município precisa mais que
dobrar o gasto hoje com habitação para dar conta da demanda -há 800 mil vivendo
em moradias inadequadas.
O município aplica R$ 1,5
bilhão por ano em habitação,
mas o ideal seriam R$ 3,6 bilhões -o Orçamento da cidade para 2011 será de R$ 34,6
bilhões. A prefeitura investe
61% do total, seguida da
União (24%) e Estado (15%).
EQUÍVOCO
Para Carlos Loureiro, defensor público de habitação e
urbanismo, é um equívoco
retirar pessoas de suas casas
sem ter moradia definitiva.
"Transfere a responsabilidade para a pessoa. E ela tem
de lidar com o mercado de locação, muito sensível à lei da
oferta e da procura. Você estimula uma grande procura,
os preços variam com muita
intensidade e o valor do auxílio se revela insuficiente."
A desempregada Cássia
Ferreira Lopes, 32, é um
exemplo de como o auxílio-aluguel pode dar errado.
Ela teve de sair de sua casa
no Jardim Pantanal (extremo
leste de SP), passou a receber
ajuda de R$ 300 mensais,
morou em dois lugares em
Itaquera, não conseguiu pagar o aluguel, voltou e retomou seu imóvel condenado.
Lá, onde vivia há 26 anos,
resiste agora, com seus três
filhos, um deles um bebê de
dez meses -ela é divorciada.
"Voltei, vi minha casa em pé
e entrei. Consegui colocar
minha filha de volta na mesma escola. Antes, não comia,
chorava, estava em depressão. Agora, vou lutar."
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