São Paulo, terça-feira, 27 de novembro de 2007

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Polícia do PA tinha cela para isolar menina

Carceragem de Abaetetuba, onde garota de 15 anos ficou presa com detentos, tem uma outra cela separada por grade

Segundo delegada, a jovem ficou presa com 12 homens, em média, enquanto outros oito presos mais perigosos ficavam no espaço reservado

SÍLVIA FREIRE
DA AGÊNCIA FOLHA

A carceragem de Abaetetuba (PA), onde uma menina de 15 anos ficou presa com outros detentos por 26 dias, tem uma outra cela, separada por grades, onde a garota poderia ter ficado isolada dos demais presos.
Para a delegada Liane Martins, que conduz a investigação sobre a responsabilidade de três delegados de Abaetetuba no caso, há indícios de negligência por não terem investigado a idade da jovem -eles disseram que, ao ser presa, a garota declarou ter nascido em 1987 e não portava documento.
Segundo a delegada, a adolescente foi mantida presa com 12 homens, em média, enquanto outros oito presos, considerados mais perigosos, ficavam no espaço reservado, sem contato com os demais. A Polícia Civil não respondeu por que a garota não foi isolada nem a capacidade de cada cela. Segundo o órgão, juntas, as duas celas podem abrigar de 25 a 30 pessoas.
Martins, que faz parte da Corregedoria da Polícia Civil do Pará, disse que, com base nos depoimentos dos presos que dividiram a cela com a garota, ela foi estuprada uma única vez por um preso e não sofreu abusos diários como afirmou após ser libertada.
"Ela sofreu abuso, mas não foi na dimensão que está sendo divulgado. Não aconteceu todos os dias, com vários presos. Teve um preso que forçou manter relação [sexual] com ela. Isto é um fato que está sendo comprovado com os relatos dos presos", disse Martins.
A adolescente contou aos conselheiros tutelares que sofreu abuso sexual na prisão e que teve de manter relações sexuais com os presos em troca de comida. A jovem apresentava queimaduras nos pés e hematomas e teve o cabelo cortado na carceragem.
Para Martins, os delegados investigados não eram responsáveis pelo que acontecia na carceragem, pois os presos ficam sob a custódia da Superintendência do Sistema Penitenciário. "A partir do momento em que é feito o flagrante, o preso é entregue ao sistema penal e fica sob a custódia deles. Qualquer coisa que ocorra com o preso é de responsabilidade do sistema penal", disse.
De acordo com ela, os três delegados disseram, em depoimento, que não freqüentavam as celas e que não tinham conhecimento do que acontecia na carceragem.
A assessoria de imprensa da Secretaria de Segurança Pública, à qual a Susipe (Superintendência do Sistema Penitenciário) é subordinada, informou que, em Abaetetuba, por falta de pessoal da Susipe, há um acordo que estabelece que a guarda dos presos é de responsabilidade da Polícia Civil.

Governadora
A governadora do Pará, Ana Júlia Carepa (PT), esteve ontem com a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, Brasília. Segundo a assessoria de imprensa da governadora, o problema carcerário do Estado do Pará não foi abordado.
Hoje, a governadora deve se reunir com o presidente Lula para discutir o tema.


Colaborou a Sucursal de Brasília


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