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Famílias temem saques e se dividem para vigiar casas
Pai e filho ficam em imóvel abandonado após inundação para evitar furto de bens
Abrigo em uma escola de Blumenau limita tempo do banho a cinco minutos de duração; crianças e idosos têm preferência na fila
JOSÉ EDUARDO RONDON
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BLUMENAU
O medo de saques a casas em
Blumenau faz com que famílias
de vítimas montem guarda para proteger os pertences que
não foram levados pela chuva.
Com receio de perder o que restou, como móveis e eletrodomésticos, os desabrigados se dividem. Nos imóveis, condenados e em áreas de risco, ficam
os maridos. No abrigo, improvisado em um clube de tiro esportivo da cidade, estão mulheres e crianças.
Ivanir Neves, 45, é uma delas.
"Compramos uma geladeira e
ainda não terminamos de pagar. É o pouco que temos. Meu
marido e meu filho guardam a
casa e eu fico aqui". Ela é interrompida pelo filho Enéas Neves, 9, dizendo "querer ir atrás
do pai", Luis Carlos Luciano,
que toma conta da casa. A mãe
o proíbe de sair. Ele chora.
Tais Silva, 29, com um filho
de nove e outro de 12 anos, faz
relato semelhante. Seu marido,
o pedreiro Leonildo da Silva,
toma conta da casa, com TV,
som e computador. "Conseguimos trazer a televisão."
No clube de tiro, há cerca de
cem pessoas abrigadas. Lá há
água, alimentos e chuveiros.
Colchões continuam a chegar
ao local. Uma das saunas se tornou ponto de recolhimento de
doações.
Sem banho
"A ordem é tirar a roupa, respirar fundo, entrar debaixo da
água e sair". A explicação sobre
como é o banho das cerca de
cem pessoas de um abrigo em
uma escola de Blumenau é dada pela voluntária da Defesa Civil Marlise dos Santos.
Um único chuveiro é usado
pelas vítimas da enchente no
local, um dos quatro abrigos visitados pela reportagem ontem
-e aquele em situação mais
precária. A escola sofre com o
racionamento de água. O banho não pode ultrapassar cinco
minutos de duração. A preferência é dada para crianças e
idosos. Para beber, a única opção é retirar água de uma caixa
d'água e ferver.
Preparando a comida que será servida na cozinha da escola
está Sirley Vargas, 49. Crianças
que esperam a alimentação dizem que ela é "nossa heroína".
O apelido surgiu em razão da
disposição e liderança da cozinheira, que, mesmo atingida
pela enchente e com uma filha
desaparecida, não pára de trabalhar e ajudar as pessoas que
estão no local.
"Minha filha saiu de casa no
sábado, um pouco antes de eu
ter de deixar a casa, com água
quase no pescoço. Não tenho
notícias dela." Ao mencionar o
nome da filha Vanessa Vargas,
de 17 anos, a "heroína" desmorona e entra em um choro desesperador.
A cena mexe com as pessoas
em volta e um silêncio impera
por segundos. Só é interrompido pelo som de um apito, sinal
que indicava que a comida estava prestes a ser servida.
Em questão de segundos a fila se forma: crianças à frente.
No cardápio, pão, arroz, feijão,
salada e carne. Ainda não faltam mantimentos, mas a chegada de mais pessoas em busca
de ajuda é a preocupação de todos no abrigo, que fica no bairro Ponta Aguda
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