São Paulo, sexta-feira, 27 de novembro de 2009 |
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BARBARA GANCIA Uma cabra de camisa social
À EXCEÇÃO DO ESTADO de Israel, é sempre bom lembrar, ninguém era mais amigo dos Estados Unidos nos anos 70 do que o xá Reza Pahlevi, monarca supremo do Irã. Os EUA mimavam o xá de tudo que era jeito, davam a ele todos os brinquedinhos militares que ele desejava e mantinham em Teerã uma senhora base da CIA, que deveria fornecer inteligência sobre tudo o que acontecia naquele ponto nevrálgico da Ásia. Preparados para lidar com o mundo bipolar da Guerra Fria nos moldes do figurino "Spy vs. Spy" (da revista "Mad"), os americanos não entenderam nada. E toda a dinheirama e os paparicos dedicados ao Irã não foram capazes de impedir que um clérigo da Idade da Pedra, exilado em Paris, promovesse a revolução por meio de fitas cassete enviadas clandestinamente ao seu país de origem. Convivi com gringos a vida inteira e tenho lá minhas teorias sobre os motivos que fizeram o aiatolá Khomeini dar um baile astronômico no xá, sem que a CIA ou o Departamento de Estado se dessem conta do que acontecia. Está certo que é bastante incomum ver um país secular mudar para Estado islâmico da noite para o dia, mas algo me diz que os americanos não prestaram atenção. Aqui no Brasil, deu-se o mesmo tipo de coisa. Os norte-americanos que aqui chegavam nos anos 50, 60 e 70 para trabalhar nas multinacionais nunca se misturavam aos tapuias. A maioria nem sequer português aprendia. Eles frequentavam seus clubes particulares, suas próprias festas e até igreja com culto em inglês. Tanto fazia estarem aqui ou em Pittsburgh. Não é à toa que essa impermeabilidade gerou um "campeonato mundial" de baseball do qual só times americanos participam e um "campeonato mundial" de basquete com os times da NBA, todos igualmente estado-unidenses. Imagino que, lá em Teerã, o ambiente entre os funcionários da Embaixada dos EUA (que acabou sendo tomada por estudantes simpáticos à revolução de Khomeini), do Departamento de Estado ou da CIA não tenha sido muito distinto. Enquanto os gringos iam jogar golfe ou assavam perus para comemorar o Dia de Ação de Graças, a turma de Khomeini ludibriava a Savak, temida polícia secreta do xá. Tudo isso para dizer que -no mundo intricado pós-atentado das torres gêmeas- ninguém mais pode se dar ao luxo de viver nas trevas. Já basta o embaraço do embargo promovido pela Lei Helms-Burton, que só penaliza a população cubana. O Irã é uma baita potência com 74 milhões de habitantes. Na primeira eleição de Mahmoud Ahmadinejad, até os 46 minutos do 2º tempo, a repórter da CNN, Christiane Amanpour, nascida em Teerã e exilada da revolução (seu pai trabalhava para o xá), insistiu em dizer que o atual presidente não havia sido eleito. Não vamos nós dar uma de Amanpour. Por mais que eu considere o senhor Ahmadinejad pouco mais evoluído do que uma cabra de camisa social, melhor mantê-lo por perto do que longe dos olhos, confeccionando bombas escondido em algum porão.
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