São Paulo, sábado, 27 de novembro de 2010

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Traficantes pintados ameaçam ataques, dizem moradores

Criminosos em motos gritam que vão atacar teleférico e postos de saúde no Complexo do Alemão

Na Vila Cruzeiro, moradores reclamam da falta de luz; medo de falar com jornalistas ainda é generalizado

AP Photo/Felipe Dana
Soldados miram traficantes enquanto moradores correm na favela da Grota, zona norte

FABIA PRATES
PLÍNIO FRAGA

DO RIO

Moradores do Complexo do Alemão (zona norte do Rio) relatam que centenas de traficantes, muitos com rosto pintado e roupas pretas ou camufladas, se escondem na favela da Grota, uma das 12 comunidades da região.
Afirmam que, num vaivém de motos, traficantes gritam que pretendem explodir o teleférico que está sendo construído no complexo, dentro do programa de obras do PAC, e ameaçam atacar posto de saúde, repartições públicas e trens que circulam em linhas férreas próximas.
Por meio de redes sociais, moradores têm afirmado que haveria mais de dez corpos na serra da Misericórdia, maciço no qual crescem as favelas do Complexo do Alemão e do Complexo da Penha.
A Folha viu um corpo estirado na Vila Cruzeiro.
Tiros contínuos, em especial na região conhecida como Alvorada, vizinha da Grota, também são narrados. São constantes as ameaças de fechamento da avenida Brasil, uma das principais vias de acesso ao Rio, situada a 5 km do complexo.

SEM LUZ, SEM TV
Um dia depois da ocupação pela polícia, os moradores da Vila Cruzeiro, que fica no complexo da Penha, voltaram às ruas com um misto de revolta e desconfiança.
O motivo da revolta era a falta de energia elétrica, desde o dia anterior. Muitos reclamaram que perderam alimentos que guardavam na geladeira e a grande maioria se queixava de não poder assistir à televisão.
A Light, empresa de energia elétrica do Rio, informou que tinha dificuldades de acesso para reparo da rede.
Segundo a empresa, os funcionários aguardavam condições que permitam efetuar os consertos e as possíveis substituições de equipamentos com segurança.
Na rua Jacks Maritain, um dos acessos à Vila Cruzeiro e, segundo os moradores, local de uma boca de fumo, havia um cheiro de queimado no ar, resquícios dos veículos incendiados para impedir a entrada da polícia.
Por volta de meio-dia, ainda havia carcaças queimadas, muito lixo, fios pendurados dos postes e várias motos -inteiras e semidestruídas- caídas pelas ruas.
"Se tivesse TV, a gente nem estaria na rua", disse Maria do Socorro, 38, que, sentada à porta de casa com as duas filhas, observava o ir e vir de policiais armados em incursões pelas ruas em busca de traficantes escondidos, armas e drogas.
Socorro é uma das poucas que aceitaram conversar e se identificar. A maioria tem medo. Dois homens disseram à Folha que, se conversassem, havia pessoas que os podiam delatar. "A gente mora aqui. Se falar, depois que a polícia sair, a gente morre."


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