São Paulo, quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

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Paciente morreu durante incêndio no HC

Internado desde novembro com câncer, vendedor estava no 9º andar do centro cirúrgico e respirava por aparelhos

Segundo o hospital, vítima foi retirada por funcionários ainda durante o fogo e sua ventilação foi mantida manualmente na descida

LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL

RICARDO VIEL
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O vendedor Raimundo Nonato de Azevedo, 56, que estava internado no 9º andar do Centro Cirúrgico do Prédio dos Ambulatórios do HC (Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo), morreu na madrugada do dia 24 para o dia 25 de dezembro, justamente quando pacientes e funcionários tiveram de sair às pressas do hospital por conta do incêndio.
Segundo Samir Rasslan, professor titular e médico do HC, que esteve no hospital entre as 22h do dia 24 e as 3h45 do dia 25, uma equipe de enfermeiros providenciou a descida de Azevedo pelas escadas do prédio (o fornecimento de energia elétrica estava cortado) e sua transferência para outro centro de cuidados intensivos, no mesmo hospital. Outros nove pacientes, a maioria entubados e com aparelhos de ventilação, também tiveram de ser removidos.
Azevedo estava internado com câncer desde novembro. No dia 4 de dezembro, foi operado para a extração de um tumor no esôfago. No dia 7, foi reoperado. Para piorar o quadro, ele contraiu uma pneumonia. Desde então estava em estado grave no pós-operatório do centro cirúrgico. Azevedo era fumante.
A mulher dele, Maria Salete, 56, foi ontem ao HC atrás de informações sobre a morte. A assessoria de imprensa do hospital chegou a informar, após o relato dela, que não havia nenhum Raimundo Nonato de Azevedo no 9º andar do prédio. A informação foi desmentida pouco depois.
Maria Salete diz que, no dia 24, entre as 16h e 17h, sua filha Cláudia Maria de Azevedo, 33, professora, visitou o pai no hospital. Encontrou-o inconsciente e entubado. "Mas ela voltou para casa até com uma esperança no coração. O médico disse que ele estava respondendo bem e que ele era muito forte", lembrou a mulher.
Segundo Rasslan, entretanto, o quadro do paciente era terminal: "Ele estava recebendo altas doses de noradrenalina para manter a pressão arterial, tinha um quadro comatoso e de falência orgânica."

Pânico e fumaça
A remoção de Azevedo aconteceu no escuro, em meio à fumaça e ao tumulto provocado pelo pânico generalizado. Mesmo assim, segundo Rasslan, os enfermeiros conseguiram manter a ventilação do paciente (que foi feita manualmente durante o transporte).
Rasslan diz que "o paciente, uma vez removido, chegou à UTI nas mesmas condições em que se encontrava no 9º andar do Prédio dos Ambulatórios."
O documento de óbito, assinado pela médica Inez Ohashi Torres, atesta que a morte aconteceu às 2h do dia 25. O incêndio começou por volta das 22h do dia 24 e, segundo os bombeiros, a fumaça só foi controlada por volta da 1h.
A mulher de Azevedo disse ontem que estranhou o telefonema recebido às 3h, pedindo que ela fosse com urgência ao SVO (Serviço de Verificação de Óbitos), providenciar o enterro. "Parecia que eles estavam com pressa de se livrar do problema", disse ela. "Foi tudo muito rápido mesmo", afirmou à Folha um funcionário do serviço, ontem, sob condição de não ser identificado.
Para o SVO vão os casos de mortes não-violentas, enquanto que, para o Instituto Médico Legal, vão as mortes a serem apuradas. Não foi feita necropsia no corpo de Azevedo, já que o documento de óbito enumera os seguintes fatores como causadores da morte: choque séptico, mediastinite, necrose de traquéia e esofagectomia.
Segundo Rasslan, "a morte do paciente ocorreria de qualquer jeito. Era um quadro terminal." "A gente fez a remoção porque não tinha outro jeito. Não foi ela [a remoção] que prejudicou o paciente."
Ao se dirigir ao SVO, que fica quase em frente ao prédio incendiado, a família de Azevedo disse ter sentido um forte cheiro de queimado. "Mas a gente só foi saber do que tinha de fato acontecido no Prédio dos Ambulatórios às 7h do dia 25, quando meu filho viu as imagens na televisão", diz Salete.
No dia 25, a direção do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, que está sob a alçada da Secretaria de Estado da Saúde, comunicou que nenhum paciente havia morrido durante o incêndio.


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