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Paciente morreu durante incêndio no HC
Internado desde novembro com câncer, vendedor estava no 9º andar do centro cirúrgico e respirava por aparelhos
Segundo o hospital, vítima foi retirada por funcionários ainda durante o fogo e sua ventilação foi mantida manualmente na descida
LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL
RICARDO VIEL
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O vendedor Raimundo Nonato de Azevedo, 56, que estava
internado no 9º andar do Centro Cirúrgico do Prédio dos
Ambulatórios do HC (Hospital
das Clínicas da Universidade de
São Paulo), morreu na madrugada do dia 24 para o dia 25 de
dezembro, justamente quando
pacientes e funcionários tiveram de sair às pressas do hospital por conta do incêndio.
Segundo Samir Rasslan, professor titular e médico do HC,
que esteve no hospital entre as
22h do dia 24 e as 3h45 do dia
25, uma equipe de enfermeiros
providenciou a descida de Azevedo pelas escadas do prédio (o
fornecimento de energia elétrica estava cortado) e sua transferência para outro centro de
cuidados intensivos, no mesmo
hospital. Outros nove pacientes, a maioria entubados e com
aparelhos de ventilação, também tiveram de ser removidos.
Azevedo estava internado
com câncer desde novembro.
No dia 4 de dezembro, foi operado para a extração de um tumor no esôfago. No dia 7, foi
reoperado. Para piorar o quadro, ele contraiu uma pneumonia. Desde então estava em estado grave no pós-operatório
do centro cirúrgico. Azevedo
era fumante.
A mulher dele, Maria Salete,
56, foi ontem ao HC atrás de informações sobre a morte. A assessoria de imprensa do hospital chegou a informar, após o
relato dela, que não havia nenhum Raimundo Nonato de
Azevedo no 9º andar do prédio.
A informação foi desmentida
pouco depois.
Maria Salete diz que, no dia
24, entre as 16h e 17h, sua filha
Cláudia Maria de Azevedo, 33,
professora, visitou o pai no hospital. Encontrou-o inconsciente e entubado. "Mas ela voltou
para casa até com uma esperança no coração. O médico
disse que ele estava respondendo bem e que ele era muito forte", lembrou a mulher.
Segundo Rasslan, entretanto, o quadro do paciente era terminal: "Ele estava recebendo
altas doses de noradrenalina
para manter a pressão arterial,
tinha um quadro comatoso e de
falência orgânica."
Pânico e fumaça
A remoção de Azevedo aconteceu no escuro, em meio à fumaça e ao tumulto provocado
pelo pânico generalizado. Mesmo assim, segundo Rasslan, os
enfermeiros conseguiram
manter a ventilação do paciente (que foi feita manualmente
durante o transporte).
Rasslan diz que "o paciente,
uma vez removido, chegou à
UTI nas mesmas condições em
que se encontrava no 9º andar
do Prédio dos Ambulatórios."
O documento de óbito, assinado pela médica Inez Ohashi
Torres, atesta que a morte
aconteceu às 2h do dia 25. O incêndio começou por volta das
22h do dia 24 e, segundo os
bombeiros, a fumaça só foi controlada por volta da 1h.
A mulher de Azevedo disse
ontem que estranhou o telefonema recebido às 3h, pedindo
que ela fosse com urgência ao
SVO (Serviço de Verificação de
Óbitos), providenciar o enterro. "Parecia que eles estavam
com pressa de se livrar do problema", disse ela. "Foi tudo
muito rápido mesmo", afirmou
à Folha um funcionário do serviço, ontem, sob condição de
não ser identificado.
Para o SVO vão os casos de
mortes não-violentas, enquanto que, para o Instituto Médico
Legal, vão as mortes a serem
apuradas. Não foi feita necropsia no corpo de Azevedo, já que
o documento de óbito enumera
os seguintes fatores como causadores da morte: choque séptico, mediastinite, necrose de
traquéia e esofagectomia.
Segundo Rasslan, "a morte
do paciente ocorreria de qualquer jeito. Era um quadro terminal." "A gente fez a remoção
porque não tinha outro jeito.
Não foi ela [a remoção] que
prejudicou o paciente."
Ao se dirigir ao SVO, que fica
quase em frente ao prédio incendiado, a família de Azevedo
disse ter sentido um forte cheiro de queimado. "Mas a gente
só foi saber do que tinha de fato
acontecido no Prédio dos Ambulatórios às 7h do dia 25,
quando meu filho viu as imagens na televisão", diz Salete.
No dia 25, a direção do Hospital das Clínicas da Faculdade
de Medicina da USP, que está
sob a alçada da Secretaria de
Estado da Saúde, comunicou
que nenhum paciente havia
morrido durante o incêndio.
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