Próximo Texto | Índice
Orçamento será congelado em 2009, anuncia Kassab
Prefeito reeleito de São Paulo diz que corte será amplo, mas não atingirá áreas sociais
O DISCURSO DO PREFEITO de São Paulo,
Gilberto Kassab (DEM), 48, está menos
otimista dois meses após ter sido reeleito.
Às vésperas de tomar posse para seu segundo mandato, ele agora declara que a crise econômica "adquiriu uma dimensão grande" e que ela vai
reduzir a arrecadação. Já anuncia para 2009 um congelamento do Orçamento da capital paulista.
Embora a extensão do congelamento ainda não seja
revelada, Kassab já adianta que ele "será bastante amplo". O prefeito paulistano se compromete a preservar somente as áreas sociais.
Eduardo Knapp/Folha Imagem
|
|
O prefeito Gilberto Kassab em sala de reuniões do edifício onde mora
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
O anúncio do congelamento
de verbas se dá depois do corte
de R$ 1,9 bilhão feito pelos vereadores no Orçamento recém-aprovado pela Câmara Municipal -da previsão de R$ 29,4 bilhões para R$ 27,5 bilhões.
O objetivo da medida, diz
Kassab, é ter "tranqüilidade para enfrentar uma eventual redução de receitas que ainda não
identificamos qual será".
Na prática, significa que a
contratação de novos projetos
e de novas despesas deverá ficar bastante limitada. O congelamento poderá ser flexibilizado no decorrer do ano -para
evitar que vire um corte definitivo- se a arrecadação não for
muito afetada pela crise.
Em entrevista concedida à
Folha ontem, Kassab disse
que, mesmo a prefeitura sabendo dos pontos crônicos de alagamento de vias públicas na
época de chuva, "seria uma leviandade" dizer que fará obras
para resolvê-los dentro de quatro anos. Para ele, a prioridade
deve ser as áreas de risco onde
vivem "famílias que podem
morrer se forem atingidas".
Leia trechos da entrevista:
FOLHA - Qual será a principal mudança no segundo mandato?
GILBERTO KASSAB - O que a cidade
pode esperar é a continuidade
da melhora da eficiência do uso
do recurso público.
FOLHA - O Cidade Limpa foi no primeiro mandato uma das marcas
principais da administração...
KASSAB - Não. O principal foi
saúde e educação. De longe, essa é a nossa marca.
FOLHA - Mas na campanha de 2004
uma das promessas era zerar o déficit de creches...
KASSAB - E vamos, nessa nossa
gestão, que é de oito anos, zerar. Criamos 60 mil vagas em
creche. É um número extraordinário. O compromisso assumido está sendo cumprido.
FOLHA - Por que não foi possível
cumprir em quatro anos?
KASSAB - Não é que não foi possível. É lamentável o descaso
das administrações anteriores.
FOLHA - Por que alguns secretários
mais próximos do governador José
Serra (PSDB), como Andrea Matarazzo (Subprefeituras) e Manuelito
Pereira Magalhães (Planejamento),
estão perdendo poder agora?
KASSAB - Eles são também muito próximos a mim. Por que estariam [perdendo poder]? Não
houve alteração, todos continuam motivados.
FOLHA - O novo mandato vai ter
mais a cara do sr.?
KASSAB - Vai continuar com a
mesma cara. Se tinha a minha
cara antes, vai continuar. Se
não tinha, vai continuar. Não
muda nada.
FOLHA - A cidade já começa a sofrer
mais uma vez com as enchentes. A
própria prefeitura sabe de 30 pontos
crônicos de alagamento há mais de
dois anos e, mesmo assim, eles voltam a alagar. A gestão se preparou?
KASSAB - Sim, principalmente
em relação às áreas de risco.
Quando se fala em enchentes,
antes de mais nada tem que
pensar em proteger as pessoas
que correm risco de vida. Os
paulistanos vão entender que
essa é a prioridade.
Quanto aos pontos sujeitos a
alagamento, estamos atuando
em várias frentes, construindo
com o Estado o piscinão do Pirajuçara, encerrando as obras
do Aricanduva, canalização,
limpeza de bueiros, como nunca teve na cidade de São Paulo.
E também obras de dimensão
pequena ou média que contribuem para que a gente não tenha outros pontos de alagamento. Administrar é estabelecer prioridades. Não há cidade
do porte de São Paulo, com seus
problemas e seu Orçamento,
que consiga resolver todos os
problemas em quatro anos.
FOLHA - O CGE (Centro de Gerenciamento de Emergência) listou há
dois anos 30 pontos que eram considerados mais sérios, que costumavam alagar com mais freqüência...
KASSAB - Ele apresentou 30 que
estavam em observação, mas
havia outros. Senão fica parecendo que, quando assumimos,
só havia os 30 pontos e que não
fizemos nada nesses 30.
FOLHA - Os pontos de alagamento
são de conhecimento do poder público. Daqui a quatro anos terão sido
realizadas obras em todos?
KASSAB - Seria uma leviandade.
Sempre digo que na vida pública se trabalha com metas, não
com prazos. A meta é avançar o
máximo possível.
FOLHA - Algum dia São Paulo vai se
livrar dos terríveis alagamentos?
KASSAB - Tenho certeza. Basta
continuar tendo administrações como a nossa. E sempre
preocupado em primeiro lugar
com as áreas de risco, que envolvem famílias que podem
morrer se forem atingidas.
FOLHA - O mapeamento das áreas
de risco está cinco anos desatualizado. Por quê?
KASSAB - Tem vários mapeamentos na cidade, da Secretaria
da Habitação, Polícia Militar,Defesa Civil. Não tem nenhum sentido fazer um mapeamento todos os anos de todas as
áreas.
FOLHA - Que impacto a crise econômica pode ter nas promessas de
campanha do sr. e nas demais atividades da prefeitura?
KASSAB - A crise existe, adquiriu uma dimensão grande. Hoje
é globalizada. Temos uma
preocupação grande. Vamos
procurar, através de criatividade, criar novas fontes de receita, como analisar a criação de
novas operações urbanas, a
concessão de serviços. Mas é
evidente que a crise afeta. As
receitas serão reduzidas. O próprio governo federal já informou que suas receitas estão diminuindo. O governo do Estado também já nos transmitiu
que está reduzindo suas receitas. E a prefeitura tem seu Orçamento baseado também no
repasse de receitas de verbas do
governo federal e estadual.
Nossas receitas [de impostos
municipais] ainda não diminuíram. Serviços são sempre
osúltimos da fila a terem queda.
Mas vamos ter com certeza e
estamos trabalhando com essa
expectativa.
FOLHA - Se não for possível conseguir novas receitas, que medida...
KASSAB - Já determinei ao secretário de Planejamento para
que, no início do ano, congele
recursos. Vamos ter um congelamento do Orçamento. Ainda
não foi definida a extensão. Depois vamos definir as áreas que
terão cortes. Mas com certeza
não serão na área social.
FOLHA - A dimensão só será definida nos próximos dias?
KASSAB - Exatamente. Mas será
bastante amplo. É mais do que
correto que seja assim para nos
dar tranqüilidade para enfrentar uma eventual redução de
receitas que ainda não identificamos qual será.
FOLHA - Algumas obras terão um
ritmo menor no começo de 2009?
KASSAB - Seria prematuro fazer
uma afirmação antes de definir
o contingenciamento.
FOLHA - O Serra, em 2004, criticava
o inchaço da prefeitura. O sr. criou
novos cargos e secretarias, como a
da Segurança. Não é uma contradição numa situação de crise?
KASSAB - Não. Em relação à Secretaria da Segurança, ela adquiriu uma dimensão muito
maior. São cargos que foram ou
teriam sido criados independentemente de ser secretaria
ou não. Ao longo dos quatro
anos tivemos vários cortes e vamos continuar a ter, porque
nossa meta é enxugar. Mas diminuir não significa não ter
preocupação em dar mais eficiência. Não criamos novas secretarias, só transformamos o
cargo do coordenador em cargode secretário. Não posso concordar com a afirmação de que
foi criada uma nova estrutura.
FOLHA - A crise econômica não põe
em xeque a promessa de campanha
de manter a tarifa de ônibus de R$
2,30 congelada no ano que vem?
KASSAB - Não. É nossa prioridade. Tarifa é social. Ainda mais
num momento em que há expectativa de aumento do desemprego.
FOLHA - O reajuste em 2010 será
inevitável?
KASSAB - Não é que é inevitável.
É natural. Temos a felicidade
de ficar três anos sem aumentar a tarifa. Vamos dar um aumento mínimo possível.
FOLHA - Que áreas prejudicariam
menos a cidade se sofressem cortes?
KASSAB - Tem áreas que já foram apartadas de qualquer corte que são as sociais. Agora vamos aguardar se haverá queda
nas receitas, se conseguiremos
ou não novas fontes de receitas,
para depois definir eventuais
cortes. Até porque o Orçamento estará contingenciado desde
o primeiro dia da gestão.
FOLHA - Pesquisa recente mostrou
que a aprovação aos ônibus é a mais
baixa da década. Qual é a razão?
KASSAB - É importante apartar
da pesquisa o nosso corredor
Expresso Tiradentes, onde
90% aprovam e estão felizes
[pelos dados divulgados, foram
76% de excelente ou bom].
Mostra que a prioridade da minha administração de fazer
transporte público de qualidade está correta. Herdamos políticas equivocadas em transporte. A população hoje paga o preço dessa falta de investimento.
FOLHA - A aprovação aos ônibus
era maior. Por que piorou?
KASSAB - O importante é que
melhorou a qualidade dos investimentos.
FOLHA - Mas então os usuários de
ônibus não perceberam?
KASSAB - É natural que, numa
cidade que cada vez cresce mais
e que não tivemos investimento em transporte público nas
administrações anteriores, enquanto não tivermos os resultados dos investimentos que
agora acontecem você não tem
essa expectativa.
FOLHA - A cidade ganha mil carros
por dia. O trânsito vai estar pior do
que hoje no final do seu mandato?
KASSAB - Daqui a quatro anos
vamos ter os primeiros resultados da ação do poder público
municipal e estadual, a ampliação da malha metroviária, dosnossos corredores de ônibus.
Acredito que estará melhor.
FOLHA - O sr. pode sair candidato
ao governo estadual em 2010?
KASSAB - Não. É o primeiro cargo majoritário que ocupo tendo
sido eleito. Ficarei os quatro
anos.
FOLHA - Quem são os bons nomes
para o governo em 2010?
KASSAB - Em São Paulo nós temos uma aliança. Meu esforço
é para manter essa aliança já no
primeiro turno. Meu partido
tem bons quadros. Destaco entre eles o Guilherme Afif Domingos. Mas essa aliança vai
ser conduzida pelo Serra.
FOLHA - O sr. apoiaria o Alckmin?
KASSAB - Não gostaria de falar
de nomes. É muito prematuro.
Próximo Texto: Frases Índice
|