São Paulo, segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

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Em 2 anos, número de alunos cresceu 34%

Com promoções, matrículas nas 5 maiores instituições privadas do país aumentaram quase o triplo da média do setor

Para pesquisadores, a grande expansão, aliada à redução dos preços da mensalidade devido à concorrência, pode afetar a qualidade do ensino

ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO

FÁBIO TAKAHASHI
DA REPORTAGEM LOCAL

Impulsionadas principalmente por uma guerra de preços nas mensalidades em São Paulo e por promoções, como sorteio de carros, as cinco maiores universidades do país registraram, de 2004 para 2006, aumento de 34% no número de alunos na graduação.
O crescimento é quase o triplo do verificado para o total das instituições de ensino superior (12%) e mais que o dobro do total das particulares (16%), de acordo com o Censo da Educação Superior do Inep (instituto de pesquisa e avaliação do Ministério da Educação).
As cinco maiores são todas privadas -três paulistas se destacaram pelo crescimento: Unip, UniNove e UniBan.
A Unip ganhou, em dois anos, quase uma USP em alunos na graduação: 43 mil estudantes (aumento de 46%). Com isso, voltou a ser a maior do país, posto que até 2004 era da Universidade Estácio de Sá, do Rio.
A Estácio, que cresceu oferecendo mensalidades baixas, mostra pelos dados do Censo que já não consegue manter o ritmo: de 2004 a 2006, ganhou 13 mil alunos, variando 13%. Neste ano, está sorteando dois carros em seu vestibular.
A UniNove (Centro Universitário Nove de Julho), terceira maior, cresceu 44% e ganhou 18 mil estudantes. Com descontos no primeiro semestre, cursos de licenciatura são anunciados por R$ 170.
A UniBan teve, proporcionalmente, o maior crescimento no período. Com 26 mil novos alunos, quase dobrou de tamanho (variou 91%). A instituição anuncia descontos de 25% e cursos a partir de R$ 289.
A lista das cinco maiores é completada pela Universidade Salgado de Oliveira, com sede no Rio, que, a exemplo da Estácio de Sá, diminuiu seu ritmo de crescimento e variou 14%.
"Como possuem muitos alunos, as maiores conseguem diluir os gastos. Uma campanha publicitária, por exemplo, tem um impacto no orçamento muito menor do que para uma instituição pequena", disse o consultor Carlos Monteiro.

Mantenedoras
Considerando as dez maiores instituições (que, juntas, cresceram 24%), apenas duas são públicas: USP, sétima maior (48 mil alunos na graduação), e Universidade Federal do Pará, a nona (34 mil). As duas cresceram, respectivamente, 4% e 5% no período. Em 1991, seis das dez maiores eram públicas, e a USP liderava.
Ryon Braga, da Hoper Consultoria, lembra que o tamanho dos dois maiores grupos educacionais do país, Unip e Estácio, é superior ao registrado pelo MEC, já que essas instituições são mantenedoras de outras com diferentes nomes em diversos Estados.
Um levantamento feito por ele com base no Censo da Educação Superior de 2006 estima que, para 2007, a Unip já teria 192 mil alunos em 73 campi, enquanto a Estácio chegaria a 189 mil em 62 campi, se fossem incluídas todas as instituições.

Qualidade
A principal explicação para o crescimento das grandes, segundo especialistas, é a redução nas mensalidades, o que preocupa alguns pesquisadores. "Algumas cortaram custos demitindo professores experientes e com salários maiores", diz o professor da Unesp João Cardoso Palma Filho, membro do Conselho Estadual de Educação de São Paulo.
"Outras aumentaram a participação de ensino a distância nos cursos presenciais, sem avisar os alunos e desordenadamente", completa. A legislação permite que até 20% do curso tradicional seja a distância.
A questão da qualidade preocupa até a Abmes, associação que reúne mantenedores de instituições privadas. "A expansão é desejável, mas ainda não é possível saber com precisão qual foi seu impacto", afirma o presidente da entidade, Gabriel Mario Rodrigues, reitor da Anhembi Morumbi.
Como o crescimento dessas grandes instituições é recente e houve mudança nos critérios de avaliação do governo FHC para o de Lula, há poucos elementos objetivos para avaliar os impactos na qualidade.
No Enade, exame que substituiu o Provão a partir de 2004, a média de todos os cursos avaliados nas cinco maiores instituições varia de 2,6 a 3,2. Os conceitos do Enade vão de 1 a 5.


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