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Código de Trânsito chega aos 10 anos com rigor "relaxado"
Melhorias trazidas pela lei, de 98, vêm sendo revertidas; em
2007, aumento do índice de mortes em estradas superou 10%
Recursos são crescentes, mas
investimentos efetivos
minguam; entre 2003 e 2007
foram de 22%, contra taxa
entre 48% e 78%, de 98 a 2002
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
O Código de Trânsito Brasileiro completou dez anos de vigência no dia 22 em ritmo de
relaxamento: as mortes voltaram a subir, a utilização do dinheiro das multas e do seguro
obrigatório para prevenir acidentes viários atingiu seus menores patamares históricos e
mais de dois terços das metas
do governo federal para 2006
não foram atingidas até hoje.
A lei que trouxe uma série de
avanços às regras de trânsito
-com penas mais rígidas e um
sistema de pontuação para cassar a carteira dos infratores-
começou a valer em janeiro de
1998 e foi apontada como um
dos principais motivos para as
reduções drásticas, entre 20% e
40%, das vítimas de acidentes
em rodovias federais brasileiras ou no Estado de São Paulo.
Mas a tendência passou a ser
revertida nesta década, e os sinais mais preocupantes de alerta foram dados em 2007, quando a elevação das mortes superou 10%, tanto nas rodovias federais do Brasil -os maiores
patamares desde 1998- como
nas estradas estaduais paulistas -recorde a partir de 2002.
Por trás do recrudescimento
da violência no trânsito, há explicações ligadas ao abrandamento do valor das multas por
excesso de velocidade a partir
de 2006, à explosão do tráfego
de motos e à frota crescente.
Mas que, segundo especialistas, teriam sido atenuadas se
outras medidas previstas não
tivessem sido "relaxadas".
A legislação estabelece que
5% da arrecadação das multas
de trânsito no país e do DPVAT
(seguro obrigatório) devem ser
usados pelo governo federal,
por exemplo, em educação e
em prevenção de acidentes.
Essa receita cresce a cada
ano, mas sua finalidade original
é desviada. Na média de 2003 a
2007, somente 22% dos recursos foram efetivamente investidos. O resto foi congelado pelo governo federal para alcançar as metas de superávit primário -economia destinada ao
abatimento da dívida pública.
Nos primeiros cinco anos do
código, a proporção dessa arrecadação usada no trânsito era
superior, entre 48% e 78%.
"Nossas autoridades, em todos os níveis, não acreditam
que os acidentes de trânsito devem ser uma prioridade.
Acham que 35 mil mortos por
ano é bobagem", declara Ailton
Brasiliense, ex-presidente do
Denatran (Departamento Nacional de Trânsito) entre 2003
e 2005, no governo Lula.
O relaxamento no rigor da
lei, avalia ele, vai dos principais
órgãos de trânsito ao comportamento dos motoristas.
"A população, no começo,
achava que as autoridades tinham mudado e que iriam pegar pesado. As multas, na época, tinha um certo peso. Mas
hoje não pesam tanto", diz Brasiliense, em relação ao congelamento do valor das punições.
Metas distantes
As diretrizes do código de
1998 levaram os técnicos do governo a traçar, há quatro anos,
as metas de trânsito a serem
atingidas até 2006, 2010 e 2014.
Um balanço feito pela Folha
mostra que nem um terço das
26 medidas que deviam ter sido implantadas há dois anos foram integralmente cumpridas.
Especialistas e dirigentes do
Denatran -reservadamente-
atribuem parte do resultado ao
congelamento de recursos, que
já acumula R$ 1,2 bilhão.
Entre as metas que não saíram do papel: a elaboração de
projetos de sinalização em 90
municípios, os programas de
educação em mil municípios e
a inspeção veicular obrigatória.
Do total, só seis foram cumpridas. O Denatran informou
que considera não ter realizado
8 das 26 metas traçadas para
2006 -nas demais, diz que
houve avanços parciais.
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