São Paulo, quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

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Libertado, acusado de pedofilia afirma ser vítima de preconceito

O piloto americano Frederic Louderback, 65, solto após 13 meses na prisão, nega as acusações e diz que não há provas contra ele

Ele critica o Ministério Público, o sistema judiciário e até o governo dos EUA; piloto foi detido com a mulher e outro casal no RS

GRACILIANO ROCHA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM TAQUARA (RS)

Libertado após 13 meses de prisão, o piloto aposentado da Marinha dos EUA Frederic Calvin Louderback, 65, diz que não há provas que sustentem as acusações de pedofilia a que responde na Justiça e que pessoas foram coagidas a testemunhar contra ele.
O americano diz que se sente "discriminado" e critica a polícia e o sistema judiciário.
Ele e a mulher, Barbara Louise Anner, 73, e o casal de brasileiros André Herdy, 36, e Cleci Ieggli da Silva, 35, são acusados de atentado violento ao pudor, corrupção de menores, formação de quadrilha e produção e divulgação de imagens de sexo com crianças e adolescentes.
Os quatro, que vivem na comunidade naturista Colina do Sol, em Taquara (73 km de Porto Alegre), respondem ao processo em liberdade após um habeas corpus concedido pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul neste mês.
Leia trechos da entrevista, de uma hora, concedida à Folha em um restaurante na cidade.

 

FOLHA - A polícia e a Promotoria o acusam de abusar sexualmente de crianças. O sr. fez isso?
FREDERIC LOUDERBACK
- Não, eu sou inocente. Todos nós somos inocentes. Nunca houve gangue. A primeira coisa que a imprensa disse foi que estávamos vendendo órgãos e mandando crianças para o exterior, vendendo fotos na internet e criando uma gangue de pedófilos. Nada disso é verdade.

FOLHA - Um adolescente acusou o sr. e depois recuou dizendo ter sido coagido pela polícia.
LOUDERBACK
- Eu sabia que a maioria das pessoas, até mesmo as pessoas coagidas em seus depoimentos contra mim, nunca disse nada. Elas nunca leram seus depoimentos durante o inquérito. Os depoimentos foram "sim, agora que estou pensando, eu realmente vi os garotos entrando na casa do Frederic".
Isso foi o que disseram à polícia. Não disseram que eu era pedófilo. O que me surpreendeu foi que a promotora parece não ter lido o inquérito. Nunca houve provas no inquérito.

FOLHA - A polícia diz que a ONG New Faces, do sr. e da sua mulher, foi usada para atrair crianças.
LOUDERBACK
- Acreditamos muito em serviço comunitário. As pessoas vieram a nós. Estávamos trabalhando pesado na Colina do Sol.

FOLHA - Mas as denúncias partiram de pessoas da Colina do Sol.
LOUDERBACK
- O problema é que em 2005 compramos uma terra de gente que não tinha a propriedade. Essa foi a origem do problema, que aumentou em 2007, quando o dr. Herdy descobriu o registro em um cartório em outro Estado e descobriu quem era o verdadeiro dono. Iniciei um processo [para regularizar a terra]. Estive na prisão por 13 meses e as pessoas que cometeram a fraude estão muito felizes porque deu tempo para que me impedissem de registrar a propriedade.

FOLHA - Há um relatório da polícia de San Diego anexo ao inquérito que afirma que o sr. foi detido em uma investigação sobre pedofilia.
LOUDERBACK
- É importante entender que a definição de detenção nos Estados Unidos é diferente da definição no Brasil. Fizeram-me algumas perguntas uma vez, somente uma vez, em 1980, mas foram perguntas sobre outras pessoas. O que veio de San Diego foi um documento ilegal. Os documentos enviados eram confidenciais e nunca deveriam ter sido enviados. Apenas uma parte dele foi usada. Omitiram duas partes. Já consultei um advogado nos Estados Unidos para iniciar um processo.

FOLHA - O sr. fez críticas ao sigilo do caso. Por quê?
LOUDERBACK
- O motivo pelo qual não posso falar agora em minha defesa é a ordem de sigilo do juiz. Entretanto, a polícia não tem ordem de sigilo e a promotora não tem ordem de sigilo. É provavelmente a coisa mais difícil. Mais difícil do que ficar preso por 13 meses é não ter a liberdade de expressão, de defesa. Não é justo e acredito que viola a Constituição brasileira. É discriminação.

FOLHA - O sr. espera ser julgado com independência?
LOUDERBACK
- Pelo bem das pessoas que trabalham no sistema judiciário, é imperativo que não haja preconceito ou algo parecido. É imperativo que o juiz pareça totalmente neutro. Mas fico surpreso porque o Ministério Público não é neutro. E eu acho que o sistema judiciário é muito lento.


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