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Libertado, acusado de pedofilia afirma ser vítima de preconceito
O piloto americano Frederic Louderback, 65, solto após 13 meses na prisão, nega as acusações e diz que não há provas contra ele
Ele critica o Ministério Público, o sistema judiciário e até o governo dos EUA; piloto foi detido com a mulher e outro casal no RS
GRACILIANO ROCHA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM TAQUARA (RS)
Libertado após 13 meses de
prisão, o piloto aposentado da
Marinha dos EUA Frederic
Calvin Louderback, 65, diz que
não há provas que sustentem as
acusações de pedofilia a que
responde na Justiça e que pessoas foram coagidas a testemunhar contra ele.
O americano diz que se sente
"discriminado" e critica a polícia e o sistema judiciário.
Ele e a mulher, Barbara Louise Anner, 73, e o casal de brasileiros André Herdy, 36, e Cleci
Ieggli da Silva, 35, são acusados
de atentado violento ao pudor,
corrupção de menores, formação de quadrilha e produção e
divulgação de imagens de sexo
com crianças e adolescentes.
Os quatro, que vivem na comunidade naturista Colina do
Sol, em Taquara (73 km de Porto Alegre), respondem ao processo em liberdade após um habeas corpus concedido pelo
Tribunal de Justiça do Rio
Grande do Sul neste mês.
Leia trechos da entrevista, de
uma hora, concedida à Folha
em um restaurante na cidade.
FOLHA - A polícia e a Promotoria o
acusam de abusar sexualmente de
crianças. O sr. fez isso?
FREDERIC LOUDERBACK - Não, eu
sou inocente. Todos nós somos
inocentes. Nunca houve gangue. A primeira coisa que a imprensa disse foi que estávamos
vendendo órgãos e mandando
crianças para o exterior, vendendo fotos na internet e criando uma gangue de pedófilos.
Nada disso é verdade.
FOLHA - Um adolescente acusou o
sr. e depois recuou dizendo ter sido
coagido pela polícia.
LOUDERBACK - Eu sabia que a
maioria das pessoas, até mesmo as pessoas coagidas em seus
depoimentos contra mim, nunca disse nada. Elas nunca leram
seus depoimentos durante o inquérito. Os depoimentos foram
"sim, agora que estou pensando, eu realmente vi os garotos
entrando na casa do Frederic".
Isso foi o que disseram à polícia. Não disseram que eu era
pedófilo. O que me surpreendeu foi que a promotora parece
não ter lido o inquérito. Nunca
houve provas no inquérito.
FOLHA - A polícia diz que a ONG
New Faces, do sr. e da sua mulher,
foi usada para atrair crianças.
LOUDERBACK - Acreditamos
muito em serviço comunitário.
As pessoas vieram a nós. Estávamos trabalhando pesado na
Colina do Sol.
FOLHA - Mas as denúncias partiram de pessoas da Colina do Sol.
LOUDERBACK - O problema é que
em 2005 compramos uma terra de gente que não tinha a propriedade. Essa foi a origem do
problema, que aumentou em
2007, quando o dr. Herdy descobriu o registro em um cartório em outro Estado e descobriu quem era o verdadeiro dono. Iniciei um processo [para
regularizar a terra]. Estive na
prisão por 13 meses e as pessoas que cometeram a fraude
estão muito felizes porque deu
tempo para que me impedissem de registrar a propriedade.
FOLHA - Há um relatório da polícia
de San Diego anexo ao inquérito
que afirma que o sr. foi detido em
uma investigação sobre pedofilia.
LOUDERBACK - É importante entender que a definição de detenção nos Estados Unidos é
diferente da definição no Brasil. Fizeram-me algumas perguntas uma vez, somente uma
vez, em 1980, mas foram perguntas sobre outras pessoas. O
que veio de San Diego foi um
documento ilegal. Os documentos enviados eram confidenciais e nunca deveriam ter
sido enviados. Apenas uma parte dele foi usada. Omitiram
duas partes. Já consultei um
advogado nos Estados Unidos
para iniciar um processo.
FOLHA - O sr. fez críticas ao sigilo
do caso. Por quê?
LOUDERBACK - O motivo pelo
qual não posso falar agora em
minha defesa é a ordem de sigilo do juiz. Entretanto, a polícia
não tem ordem de sigilo e a promotora não tem ordem de sigilo. É provavelmente a coisa
mais difícil. Mais difícil do que
ficar preso por 13 meses é não
ter a liberdade de expressão, de
defesa. Não é justo e acredito
que viola a Constituição brasileira. É discriminação.
FOLHA - O sr. espera ser julgado
com independência?
LOUDERBACK - Pelo bem das
pessoas que trabalham no sistema judiciário, é imperativo
que não haja preconceito ou algo parecido. É imperativo que o
juiz pareça totalmente neutro.
Mas fico surpreso porque o Ministério Público não é neutro. E
eu acho que o sistema judiciário é muito lento.
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