São Paulo, quinta, 28 de janeiro de 1999

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"Eu rezava 24 horas por dia", diz vítima

da Agência Folha, em Cubatão

O advogado e estudante de jornalismo José Oswaldo Passarelli Júnior disse ter ficado acorrentado durante todo o período em que permaneceu em cativeiro.
Ele afirmou que passava o tempo rezando. Ele usava como "terço" a corrente que o aprisionava.
Leia a seguir os principais trechos da entrevista concedida por Passarelli Júnior na tarde de ontem na casa de seus pais, em Cubatão.

Agência Folha - Como foi a abordagem dos sequestradores?
José Oswaldo Passarelli Júnior -
Foi muito rápida. Pegaram-me por trás e disseram: "Não olha". Aí, me puseram um capuz e me colocaram no porta-malas do automóvel.
Agência Folha - O sr. sabia onde era o cativeiro?
Passarelli Júnior -
Eu sabia que era na região de São Paulo, porque para ligar para cá, eles discavam 013. Fiquei oito dias em um local e o resto no lugar em que a polícia acabou me localizando.
Agência Folha - O sr. sofreu violência?
Passarelli Júnior -
Agressão física, não. Só intimidação psicológica. Diziam que iriam me matar se não recebessem o dinheiro. Ficava o dia todo acorrentado. No começo, as correntes eram nos braços e mãos. Depois passaram a me deixar acorrentado com as mãos à frente, mais espaçadas.
Agência Folha - O que o sr. fazia no cativeiro durante o dia?
Passarelli Júnior -
Rezava 24 horas por dia. Meu terço era a corrente, com 243 gomos. Rezava "Ave Maria", que é triste, porque no finalzinho termina com "na hora de nossa morte, amém". Então, ficar rezando isso aí não é fácil. Rezei muito, de dia, de noite.
Agência Folha - O que aconteceu no momento da sua libertação?
Passarelli Júnior -
A PM estava atuando na área e o sequestrador se apavorou e me soltou. Ele disse: "Sai daqui, pelo amor de Deus". Eu fui andando e encontrei vigilantes da Guarda Portuária, que me abordaram. Aí, chegou a Polícia Militar, que localizou o cativeiro.
Agência Folha - Por que você acha que foi sequestrado?
Passarelli Júnior -
Acredito até em confusão, porque não temos (a família) muitos bens. A gente não conseguiu o dinheiro que eles queriam. Foram baixos os valores negociados no final.



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