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São Paulo, sexta-feira, 28 de fevereiro de 2003

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ADMINISTRAÇÃO

Eduardo Jorge acusa a prefeita de promover loteamento de cargos e de não priorizar o Programa Saúde da Família

Secretário é demitido e faz críticas a Marta

Almeida Rocha/Folha Imagem
A prefeita Marta Suplicy, ontem


FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

A prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, força o loteamento político das coordenadorias de saúde da cidade e não prioriza o Programa Saúde da Família (PSF), principal política da área da Saúde do governo Lula. O recado é de Eduardo Jorge, secretário municipal da Saúde por cerca de dois anos, demitido oficialmente no início da noite de ontem por Marta depois de sucessivos desgastes com o alto escalão da prefeitura.
Por volta das 14h de ontem, antes que a prefeita tornasse pública a exoneração, Jorge fez uma reunião surpresa com os principais funcionários da pasta, avisou que Marta pedira seu cargo e divulgou uma carta com duras críticas às decisões do gabinete para a área.
Dos 17 secretários que iniciaram o governo com Marta, ele é o oitavo a deixar a administração.
Gonçalo Vecina, atual diretor-presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), vai assumir a secretaria, informou o governo. Médico e professor de Administração Hospitalar da Faculdade de Saúde Pública da USP, respeitado como técnico, entrou na agência na gestão do ex-ministro da Saúde José Serra (PSDB) e foi chefe de gabinete da Secretaria Municipal da Saúde em 93, no governo Paulo Maluf (PPB) -fatos que provocam resistências a ele entre petistas. Vecina está no Uruguai e não foi localizado.
Segundo Jorge, seu sucessor foi escolhido após entendimento da prefeita com o ministro da Saúde, Humberto Costa, que derrotou o ex-secretário na disputa pelo ministério durante a transição. A assessoria do ministro informou que ele não comentaria o assunto.

Indicações políticas
"A prefeita foi eleita. Eu não. Os cargos de confiança são todos legítima e democraticamente de sua total responsabilidade", diz Jorge na carta. A seguir, afirma que uma questão técnica e outra política tornam impossível que ele e a prefeita continuem "a luta".
"A técnica: a prefeita reconhece a importância do PSF, porém recusa o ritmo que eu acho indispensável para atingir as 1.700 equipes [do programa] prometidas por nós para 2004. Ela quer parar a expansão agora e gastar o orçamento em outras áreas da saúde (...)". Em entrevista à Folha há algumas semanas, Jorge informara que as prioridades para sua pasta tinham sido decididas por Marta. Ela queria mais ambulâncias circulando, uma ação que daria visibilidade ao governo.
Na carta, Jorge especifica o problema político que impede sua permanência: "Nossa visão sobre o preenchimento dos novos cargos das coordenadorias de saúde das subprefeituras [todos de confiança] é diversa. Os nossos limites, a avaliação de cada um do que prejudica ou do que ajuda a reforma do sistema de saúde em andamento são diferentes".
O processo de desgaste de Jorge foi longo, ligado principalmente a tentativas do governo de lotear cargos entre vereadores, segundo membros da secretaria e do PT.
A primeira investida foi durante o processo de criação das autarquias hospitalares, no fim de 2001. Jorge relutou e conseguiu dar um perfil eminentemente técnico para as autarquias. Mas ganhou a antipatia de grande parte dos vereadores governistas, que desde então querem sua demissão.
A nomeação de coordenadores, oficialmente, cabe às subprefeituras. Nas últimas semanas, havia rumores sobre a possibilidade de pessoas ligadas a vereadores e suspeitos de irregularidades na administração Maluf e Celso Pitta assumirem cargos.
Em 2002, Marta desautorizou Jorge quando este defendeu o trabalho de Serra. Na reta final da campanha eleitoral, novo desgaste: Jorge criticou a propaganda do candidato do PT ao governo estadual, José Genoino. No fim do ano passado, o ex-secretário foi exonerado. Dizia que queria terminar o mandato de deputado em Brasília. Não foi para o ministério e voltou à secretaria.
Pesquisas internas do governo indicaram que a saúde tem uma das piores avaliações da população. Jorge vinha sendo pressionado a mostrar mais serviço. Segundo dirigentes da secretaria, no entanto, o PSF tinha boa avaliação.

Leia a íntegra da carta de Jorge em
www.folha.com.br/030571


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