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CARNAVAL 2006
Carnavalesco foi muito aplaudido ao desfilar na frente da Vila Isabel em um triciclo motorizado cedido por hospital
Após 2º derrame, Joãosinho Trinta vira unanimidade
DA SUCURSAL DO RIO
DA ENVIADA ESPECIAL AO RIO
A unanimidade que Joãosinho
Trinta nunca conseguiu em suas
três décadas de Carnavais polêmicos foi alcançada ontem, antes de
começar o desfile da Unidos de
Vila Isabel. Emocionado e emocionando, o carnavalesco percorreu a avenida à frente da escola
em um triciclo motorizado, cedido pela rede Sarah de hospitais, de
Brasília (DF), onde ele se recupera
das seqüelas de seu segundo derrame cerebral. "Venho na frente
para não atrapalhar a evolução da
escola", brincou Joãosinho, 63.
"Eu sabia que voltaria."
Ele sofreu o derrame em novembro de 2004, quando ainda
preparava o Carnaval do ano seguinte para a Vila Isabel. Internado, não teve como participar do
desfile, que seria a sua estréia na
escola. Sua travessia no sambódromo neste ano não contou pontos para nenhum dos quesitos,
mas atraiu a simpatia do público
para a agremiação.
Algumas pessoas choraram ao
ver Joãosinho Trinta pilotar o triciclo somente com a mão esquerda -o lado direito de seu corpo
está paralisado. Outras abaixavam o corpo em sinal de reverência. A maioria dos presentes
aplaudia muito sua passagem.
Nos setores mais populares da
Marquês da Sapucaí, como o 1 e as
arquibancadas da praça da Apoteose, ele foi ovacionado.
Os camarotes da Beija-Flor e da
Grande Rio, escolas em que trabalhou, foram especialmente calorosos. Já Joãosinho Trinta fez
questão de se aproximar mais dos
deficientes físicos que ficam próximos à pista do Sambódromo do
Rio de Janeiro. Um pouco atrás
dele vinham outras oito pessoas
em cadeiras de rodas -todas em
tratamento na rede Sarah.
Beija-mão
Embora já consiga ficar em pé,
Joãosinho não arriscou a mudança de posição. Mas dançou um
pouco, mesmo sentado, e cantou
o samba da Vila Isabel quase o
tempo todo. Na dispersão, pediu
para ver a escola passar. Muitos
componentes paravam para beijar sua mão esquerda.
"Não sei o que vou fazer neste
ano. Mas quero voltar a trabalhar
de alguma forma no Carnaval",
disse ele, que já ofereceu um enredo para a Vila Isabel, cuja base é o
livro "Entrelaços de Famílias".
Ele também não descarta a possibilidade de levar para a passarela do samba sua experiência do último ano. "De certa forma, o AVC
[acidente vascular cerebral] me
fez bem, pois mudou o meu padrão de vida", afirmou. "Ele aconteceu porque eu me descuidei da
alimentação, do descanso. O corpo precisa ser cuidado e eu me
descuidei", disse o carnavalesco,
que diz agora ter novos hábitos,
entre eles o de tomar diariamente
um pouco de vinho tinto e de dormir depois de almoçar.
"Eu mudei muito. Claro que
não sou eterno, mas, por mim,
não abandonava a avenida nunca.
Carnaval é vida, participação, e isso faz parte de mim."
(AMARÍLIS LAGE e LUIZ FERNANDO VIANNA)
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