São Paulo, terça-feira, 28 de fevereiro de 2006

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CARNAVAL 2006

Carnavalesco foi muito aplaudido ao desfilar na frente da Vila Isabel em um triciclo motorizado cedido por hospital

Após 2º derrame, Joãosinho Trinta vira unanimidade

DA SUCURSAL DO RIO
DA ENVIADA ESPECIAL AO RIO

A unanimidade que Joãosinho Trinta nunca conseguiu em suas três décadas de Carnavais polêmicos foi alcançada ontem, antes de começar o desfile da Unidos de Vila Isabel. Emocionado e emocionando, o carnavalesco percorreu a avenida à frente da escola em um triciclo motorizado, cedido pela rede Sarah de hospitais, de Brasília (DF), onde ele se recupera das seqüelas de seu segundo derrame cerebral. "Venho na frente para não atrapalhar a evolução da escola", brincou Joãosinho, 63. "Eu sabia que voltaria."
Ele sofreu o derrame em novembro de 2004, quando ainda preparava o Carnaval do ano seguinte para a Vila Isabel. Internado, não teve como participar do desfile, que seria a sua estréia na escola. Sua travessia no sambódromo neste ano não contou pontos para nenhum dos quesitos, mas atraiu a simpatia do público para a agremiação.
Algumas pessoas choraram ao ver Joãosinho Trinta pilotar o triciclo somente com a mão esquerda -o lado direito de seu corpo está paralisado. Outras abaixavam o corpo em sinal de reverência. A maioria dos presentes aplaudia muito sua passagem. Nos setores mais populares da Marquês da Sapucaí, como o 1 e as arquibancadas da praça da Apoteose, ele foi ovacionado.
Os camarotes da Beija-Flor e da Grande Rio, escolas em que trabalhou, foram especialmente calorosos. Já Joãosinho Trinta fez questão de se aproximar mais dos deficientes físicos que ficam próximos à pista do Sambódromo do Rio de Janeiro. Um pouco atrás dele vinham outras oito pessoas em cadeiras de rodas -todas em tratamento na rede Sarah.

Beija-mão
Embora já consiga ficar em pé, Joãosinho não arriscou a mudança de posição. Mas dançou um pouco, mesmo sentado, e cantou o samba da Vila Isabel quase o tempo todo. Na dispersão, pediu para ver a escola passar. Muitos componentes paravam para beijar sua mão esquerda.
"Não sei o que vou fazer neste ano. Mas quero voltar a trabalhar de alguma forma no Carnaval", disse ele, que já ofereceu um enredo para a Vila Isabel, cuja base é o livro "Entrelaços de Famílias".
Ele também não descarta a possibilidade de levar para a passarela do samba sua experiência do último ano. "De certa forma, o AVC [acidente vascular cerebral] me fez bem, pois mudou o meu padrão de vida", afirmou. "Ele aconteceu porque eu me descuidei da alimentação, do descanso. O corpo precisa ser cuidado e eu me descuidei", disse o carnavalesco, que diz agora ter novos hábitos, entre eles o de tomar diariamente um pouco de vinho tinto e de dormir depois de almoçar.
"Eu mudei muito. Claro que não sou eterno, mas, por mim, não abandonava a avenida nunca. Carnaval é vida, participação, e isso faz parte de mim."
(AMARÍLIS LAGE e LUIZ FERNANDO VIANNA)

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