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De volta ao Brasil, filho de decasségui sofre para estudar
Crianças e adolescentes recém-chegados precisam de atenção especial na escola porque não dominam português
Problema é mais perceptível porque muitos decasséguis voltaram para o Brasil em razão dos efeitos da crise
na economia do Japão
VERIDIANA RIBEIRO
DA FOLHA RIBEIRÃO
Tadashi (nome fictício) tem
17 anos e, apesar de ser brasileiro, foi incapaz de falar com a
Folha em português pelo telefone. De volta a Mogi das Cruzes no ano passado, o adolescente ainda não conseguiu readaptar-se à escola ou voltar ao
mercado de trabalho brasileiro
por não saber o idioma. "Lá, ele
iria para o terceiro colegial.
Aqui, eu não sei como vai ser",
disse a mãe.
O problema é o mesmo enfrentado pela maioria dos filhos de decasséguis, trabalhadores migrantes do Japão, que
cresceram no país e foram obrigados a voltar ao Brasil por causa da crise econômica.
Segundo levantamento do
projeto Kaeru, lançado na capital em 2008 para atender a
crianças e adolescentes que
voltam ao Brasil com defasagem de aprendizado ou problemas de readaptação social, havia no ano passado 593 alunos
filhos de decasséguis em escolas da rede estadual paulista.
"A crise econômica trouxe à
tona um problema que existia
há muito tempo: o da educação
de filhos de decasséguis no Japão. As consequências começaram a estourar aqui agora",
afirmou a psicóloga Kyoko Nakagawa, uma das fundadoras do
projeto, criado pelo Isec (Instituto de Solidariedade Educacional e Cultural).
Segundo Reimei Yoshioka,
73, presidente do Isec, no Japão, a maioria das famílias de
decasséguis matricula seus filhos em escolas públicas, gratuitas. As escolas brasileiras,
que são mais de cem no Japão,
não são reconhecidas pelo governo -não recebem incentivos e pagam caro pelo aluguel.
"Muitos pais vão para lá ao
sabor da onda. Quando a situação fica ruim, voltam para o
Brasil, depois voltam para o Japão, nesse movimento pendular. A criança não consegue se
fixar", afirma Yoshioka.
No Japão, os imigrantes brasileiros não são obrigados a matricular seus filhos nas escolas.
Por causa disso, é alto o índice
de crianças e jovens que nunca
estudaram no exterior, cerca de
22%, segundo o projeto Kaeru.
Em Franca, na região de Ribeirão Preto, Suemy Imada
Duarte, 32, conseguiu que o filho mais velho, Ricardo Miguel
Imada Duarte, 10, fosse matriculado numa classe chamada
"especial" com apenas 19 alunos na escola municipal Professor Dante Guedine Filho.
Por causa da atenção, o garoto foi aprovado e, neste ano,
permanece na classe especial,
agora no 4º ano. "Numa classe
normal, acho que ele teria ficado frustado", disse a mãe.
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