São Paulo, domingo, 28 de fevereiro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

De volta ao Brasil, filho de decasségui sofre para estudar

Crianças e adolescentes recém-chegados precisam de atenção especial na escola porque não dominam português

Problema é mais perceptível porque muitos decasséguis voltaram para o Brasil em razão dos efeitos da crise na economia do Japão

VERIDIANA RIBEIRO
DA FOLHA RIBEIRÃO

Tadashi (nome fictício) tem 17 anos e, apesar de ser brasileiro, foi incapaz de falar com a Folha em português pelo telefone. De volta a Mogi das Cruzes no ano passado, o adolescente ainda não conseguiu readaptar-se à escola ou voltar ao mercado de trabalho brasileiro por não saber o idioma. "Lá, ele iria para o terceiro colegial. Aqui, eu não sei como vai ser", disse a mãe.
O problema é o mesmo enfrentado pela maioria dos filhos de decasséguis, trabalhadores migrantes do Japão, que cresceram no país e foram obrigados a voltar ao Brasil por causa da crise econômica.
Segundo levantamento do projeto Kaeru, lançado na capital em 2008 para atender a crianças e adolescentes que voltam ao Brasil com defasagem de aprendizado ou problemas de readaptação social, havia no ano passado 593 alunos filhos de decasséguis em escolas da rede estadual paulista.
"A crise econômica trouxe à tona um problema que existia há muito tempo: o da educação de filhos de decasséguis no Japão. As consequências começaram a estourar aqui agora", afirmou a psicóloga Kyoko Nakagawa, uma das fundadoras do projeto, criado pelo Isec (Instituto de Solidariedade Educacional e Cultural).
Segundo Reimei Yoshioka, 73, presidente do Isec, no Japão, a maioria das famílias de decasséguis matricula seus filhos em escolas públicas, gratuitas. As escolas brasileiras, que são mais de cem no Japão, não são reconhecidas pelo governo -não recebem incentivos e pagam caro pelo aluguel.
"Muitos pais vão para lá ao sabor da onda. Quando a situação fica ruim, voltam para o Brasil, depois voltam para o Japão, nesse movimento pendular. A criança não consegue se fixar", afirma Yoshioka.
No Japão, os imigrantes brasileiros não são obrigados a matricular seus filhos nas escolas. Por causa disso, é alto o índice de crianças e jovens que nunca estudaram no exterior, cerca de 22%, segundo o projeto Kaeru.
Em Franca, na região de Ribeirão Preto, Suemy Imada Duarte, 32, conseguiu que o filho mais velho, Ricardo Miguel Imada Duarte, 10, fosse matriculado numa classe chamada "especial" com apenas 19 alunos na escola municipal Professor Dante Guedine Filho.
Por causa da atenção, o garoto foi aprovado e, neste ano, permanece na classe especial, agora no 4º ano. "Numa classe normal, acho que ele teria ficado frustado", disse a mãe.


Texto Anterior: SP quer voo não tripulado para blindar mananciais
Próximo Texto: Criança retorna ao país sem ter documentos
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.