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Nova onda do politicamente correto invade o mundo gay
Associação lança manual com normas
para instituições se dirigirem ao meio
"Operação para troca de sexo"
vira "cirurgia de redesignação
sexual'; linguista e sexólogo
criticam medida, adotada até
pela Presidência da República
VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DA REPORTAGEM LOCAL
Se fosse lançada hoje, a marchinha "Maria Sapatão", consagrada no Cassino do Chacrinha,
causaria horror na militância
gay, dentro e fora do Brasil.
Último reduto do politicamente incorreto, o movimento
criou um manual de boas maneiras que estabelece normas,
nomenclaturas e terminologias
para pessoas e instituições se
dirigirem a quem é do meio.
Concebido pela ABGLT (Associação Brasileira da Gays,
Lésbicas, Travestis e Transgêneros), o compêndio proíbe
termos consagrados pelo uso.
Em vez de "o travesti", prega
a militância, deve ser "a travesti", porque eles se veem como
mulher. No lugar de "GLS" tem
de ser "LGBT". "Homossexualismo" deve ser trocado por
"homossexualidade", já que o
"ismo", dizem, remete a uma
doença. E a "cirurgia de troca
de sexo" passa a ser "cirurgia de
redesignação sexual".
"Ah, isso é veadagem. Sou do
tempo em que todo mundo falava "operada'", diz o travesti de
"nom de guerre" Shanon Bruni.
"Tem coisas que ofende, sim.
Vivemos por um período de
educação sobre a homossexualidade. Acostumando-se com
isso a cabeça das pessoas vai",
diz o estilista Carlos Tufvesson.
"Não tem problema nenhum
se falarem "o travesti". Tenho
uma identidade totalmente feminina e a convicção de que me
vejo como mulher", diz o travesti Patrícia Araújo, que desfilou no Fashion Rio e fez um ensaio sensual (de tapa-sexo) para uma revista masculina.
O manual da militância gay
foi adotado pela Presidência da
República, que o colocou no site do Observatório da Igualdade de Gênero, da Secretaria Especial de Políticas para Mulheres, e por conselhos federais,
como o de Serviço Social.
"Não é mudando os termos
que se vai mudar os conceitos.
Pouca diferença faz. Não dá para se ofender por causa de denominações genéricas. Engessar não é bom", diz o psiquiatra
e sexólogo Ronaldo Pamplona,
professor da Sociedade Brasileira de Sexualidade Humana.
"A língua não admite prescrição. O uso quem faz é a língua
corrente. Não dá para estabelecer previamente o que deve ser
dito ou não. Não pega. Nem a
gramática tradicional faz isso.
Assim como toda a gama do politicamente correto que vem
dos EUA, esse manual não tem
importância", diz Luiz Tatit,
professor de línguística da USP.
Presidente da ABGLT, Toni
Reis diz que a iniciativa gerou
discórdia e controvérsia entre
os próprios militantes gays.
"Tem coisas que são ofensivas, outras dá para negociar.
Passamos por muita polêmica e
tivemos bate-bocas", diz Reis.
"As pessoas não têm uma formação de algo que ainda é novo.
Esses termos precisam ser bem
empregados", defende Manoel
Zanini, coordenador da parada
gay de São Paulo. Aliás, para entrar no politicamente correto
do manual, parada LGBT.
"As pessoas não sabem como
tratar os gays. Sempre dizem:
"tenho amigos iguais a você'",
diz Lizandra Brunelly, vencedora do concurso Miss Gay
Brasil em 2008.
Não é difícil de imaginar a
resposta que Chacrinha daria a
quem contestasse a modinha
"Maria Sapatão". Quem não se
comunica se trumbica.
Veja a íntegra do manual
www.folha.com.br/100576
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