São Paulo, quarta-feira, 28 de março de 2001

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DEBATE

Furukawa e Sérgio Adorno discutem eficácia da prisão

Secretário defende pena alternativa para casos como o do juiz Nicolau

DA REPORTAGEM LOCAL

O juiz aposentado Nicolau dos Santos Neto, investigado pelo desvio de R$ 160 milhões das obras do TRT-SP (Tribunal Regional do Trabalho), se condenado, não deveria ficar na cadeia, mas sofrer outras sanções mais apropriadas a esse tipo de crime.
Essa é opinião do secretário da Administração Penitenciária de São Paulo, Nagashi Furukawa, defendida anteontem no debate ""A Prisão", organizado pela Folha, pela PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica) e pelo Sesc (Serviço Social do Comércio). O evento fez parte da série ""Diálogos Impertinentes".
""As pessoas que devem estar presas são aquelas que representam risco (físico) para a sociedade. De fato eu o soltaria mesmo, mas haveria a necessidade de confisco do patrimônio dele, da sua limitação para sair do país e da prestação de serviços comunitários", disse o secretário, que é juiz criminal aposentado. Homicidas e traficantes deveriam cumprir pena de prisão, segundo ele.
A afirmação foi feita no bloco do debate em que se discutiu a eficácia da prisão na recuperação de criminosos e a aplicação de penas alternativas como punição.
O sociólogo Sérgio Adorno, coordenador-adjunto do Núcleo de Estudos da Violência da USP, outro debatedor, não arriscou um palpite sobre uma possível punição ao ex-juiz, mas reconheceu que a prisão, ao longo do último século, ""mostrou não ser um instrumento eficaz de recuperação".
Para os dois, atualmente, não há um modelo de prisão ideal, mas alternativas para se reduzir os índices de reincidência. ""As pessoas precisam entender que romperam o contrato social. A simples política de contenção agrava ainda mais o problema", diz Adorno.
Em São Paulo, esse índice está hoje em 58%, ou seja, de cada dois detentos, um volta ao crime após sair da prisão, segundo o secretário. Antes de implementar as penas alternativas, porém, seria preciso rever o sistema judiciário e ampliar a rede de fiscalização do cumprimento das penas, de acordo com os dois debatedores.
O jornalista Gilberto Dimenstein, membro do Conselho Editorial da Folha, e o professor Mário Sérgio Cortella, da PUC-SP, foram os mediadores.


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