São Paulo, terça-feira, 28 de março de 2006

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ADMINISTRAÇÃO

Parlamentares apostam que vice, se assumir, tentará evitar problemas a qualquer custo para não prejudicar Serra

Vereadores já pressionam Kassab por cargos

CONRADO CORSALETTE
FABIO SCHIVARTCHE

DA REPORTAGEM LOCAL

Vereadores de São Paulo já iniciaram pressões para obter mais cargos na administração caso o prefeito José Serra (PSDB) se candidate ao governo do Estado e deixe o comando da cidade para seu vice, Gilberto Kassab (PFL).
Os parlamentares apostam que o pefelista pode ceder porque tentará evitar qualquer problema neste ano, já que crises na gestão respingariam diretamente na eventual candidatura a governador de Serra. Além disso, acreditam num maior poder de barganha pelo fato de Kassab não ter a envergadura política do tucano.
Hoje, a influência da maior parte dos aliados do prefeito na Câmara ocorre principalmente nos cargos de terceiro escalão. Com a eventual saída de Serra, parlamentares querem não apenas ampliá-los, como também fazer indicações para o secretariado.
O tucano não confirma publicamente que deseja concorrer ao governo do Estado. Mas aliados do prefeito dizem que o anúncio pode sair entre hoje e amanhã. O prazo legal para ele se desincompatibilizar do posto é sexta-feira.
Entre os cargos de primeiro escalão cobiçados estão a Secretaria dos Transportes e a da Assistência e Desenvolvimento Social. Essa última, por exemplo, é pretendida pela vereadora Bispa Lenice, da igreja Renascer. Ela foi eleita pelo PV e está hoje no PFL de Kassab.
Nos bastidores, recados já foram enviados ao atual secretário, o tucano Floriano Pesaro, e ao próprio vice-prefeito. Pesaro, porém, não pretende, segundo interlocutores, abrir mão do cargo, para o qual foi indicado por Serra.
Outras vagas desejadas por vereadores são as dos subprefeitos que deixarão os cargos para concorrer à Assembléia Legislativa. Devem sair os titulares das subprefeituras de Capela do Socorro, São Miguel Paulista, Guaianases e Santo Amaro. Outros dois subprefeitos, de Pinheiros e Vila Mariana, devem ser transferidos para cargos da própria administração.
A principal forma de pressão dos vereadores ocorre quase sempre nas votações de projetos do Executivo. Em seus primeiros meses de governo, sem ter maioria na Câmara, Serra viu suas propostas prioritárias paralisadas.
O prefeito só conseguiu aprová-las depois de negociar cargos de terceiro escalão e sancionar projetos apresentados pelos parlamentares. Teve também de conversar com o "centrão", um grupo que reúne vereadores de partidos como PP, PL, PTB e PMDB e que tem mantido os trabalhos da Câmara Municipal em compasso de espera nas últimas semanas.
Em uma outra forma de pressionar o Executivo, o "centrão" tem feito seguidos convites ou convocações de secretários para prestarem "esclarecimentos".
Recentemente, foram chamados os titulares das pastas de Finanças, Mauro Ricardo Costa, e Transportes, Frederico Bussinger.
Dois vereadores que participam ativamente das comissões que convocaram secretários de Serra são Antônio Carlos Rodrigues (PL) e Adilson Amadeu (PTB) -dois líderes informais do "centrão" que desde o ano passado têm mantido um relacionamento estreito com o vice-prefeito.

Blindagem
Serra pretende manter pessoas de sua confiança em postos-chave da administração até o fim do ano. Pelo acordo informal já firmado com o tucano, só depois disso é que Kassab terá mais autonomia para montar sua equipe.
Sob anonimato, um vereador do "centrão" admite que, dentro do grupo, o comentário é que o governo Kassab começará de fato a partir do ano que vem.
Kassab tem dito informalmente que tentará fechar acordos em bloco para diminuir o poder dos vereadores. Quer evitar atender a demandas pessoais e priorizar entendimentos partidários. Avalia que isso diminuiria as chances de ele se tornar refém da Câmara.


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