São Paulo, domingo, 28 de março de 2010

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Minas Gerais procura donos de 550 peças sacras

Pratarias, imagens de santos em madeira e até colunas de retábulos das igrejas dos séculos 18 e 19 foram recuperadas após furtos

PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

Minas Gerais está à procura dos proprietários de cerca de 550 peças sacras furtadas e recuperadas desde especialmente a década de 90. São pratarias, imagens de santos em madeira e até colunas de retábulos das igrejas dos séculos 18 e 19.
Sem a identificação, a maior parte dessas peças está entulhada em depósito da Polícia Civil e guardada em prateleiras da área de reserva do Museu Mineiro, em Belo Horizonte.
Entre essas 550 peças está uma imagem do século 17 de Nossa Senhora de Monserrat. Feita em terracota e madeira policromada, mede 1m03. Há também a imagem do século 18 de Santa Bárbara -1m22, produzida em madeira dourada e policromada, de origem atribuída à América espanhola.
Muitas das peças foram recuperadas após blitze das polícias Civil e Federal em antiquários. Peritos constataram seu valor artístico e histórico -a maioria representa o barroco mineiro.
"Não faz sentido ficar com esses santos "presos". É frustrante fazer apreensão e não ter solução", disse o promotor de Defesa do Patrimônio Cultural Marcos Paulo Miranda.
Há décadas, essas peças sacras se tornaram alvo especialmente de colecionadores, que alimentam o furto nas inseguras igrejas do barroco mineiro.
As peças do século 18, quase todas em madeira, são as mais cobiçadas. Muitas vezes, segundo a promotoria, são vendidas com modificações, para dificultar o reconhecimento.
São Paulo, diz Miranda, é o maior mercado receptor de peças sacras furtadas, por ser o Estado mais rico. Muitos roubos e furtos, afirmam as polícias, ocorrem por encomenda a quadrilhas especializadas. Foi esse possivelmente o caso dos ladrões que, em 2007, levaram as portas principal e interna da capela de Nossa Senhora do Livramento, em Prados, de 1753.
Outro exemplo foi o furto ocorrido em 1994 no museu Oliveira, de onde todas as 36 peças foram furtadas. Há 16 anos o local está fechado por não ter o que expor. Nada foi recuperado, embora duas pessoas tenham sido condenadas.
Por envolver objetos de devoção, o sentimento cristão dos ladrões pode até aflorar. Foi o que ocorreu em Nova Era, na igreja de São José da Lagoa, datada de 1754. Quase 50 anos após o furto de três crucifixos e uma imagem de são Sebastião, todos em madeira do século 18, um homem se apresentou no confessionário da igreja ao padre Eugênio Lima, em 2004, dizendo ter a posse dos objetos.
O padre combinou com o homem para que ele voltasse outro dia para deixar os pacotes sobre os bancos. Foi o que ele fez, e o padre, mantendo o segredo da confissão, não revelou a identidade e não procurou saber se ele fora o autor do roubo.
Para saber a quem pertencem as 550 peças, a Promotoria de Defesa do Patrimônio Cultural e o governo mineiro pretendem organizar exposições itinerantes pelo Estado.
Esse tipo de exposição foi inspirado em um exemplo de Portugal, onde o Museu de Polícia Judiciária português leva as peças recuperadas pelo país com tal propósito.
A superintendente de Museus da Secretaria da Cultura, Letícia Julião, disse que a ideia é fazer ao menos duas exposições neste ano "em caráter experimental" e, a partir de 2011, tentar levá-las a todo o Estado, sob o patrocínio das leis de incentivo à Cultura.


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