São Paulo, Domingo, 28 de Março de 1999
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PATERNIDADE
Silvana Rocha detalha suposto romance com o ex-prefeito; ele nega qualquer relacionamento
Mãe afirma ter "quase certeza" de que tem filha de Paulo Maluf

SÍLVIA CORRÊA
da Reportagem Local

Um mês e meio de envolvimento entre uma menina de 14 anos e um candidato a presidente de 59. Quinze encontros, seis relações sexuais, ilusões e uma filha que ela diz ter "quase certeza" que é dele.
Esse é o resumo de um relato feito na terça-feira por Silvana Rocha de Oliveira Perestrelo, 25, sobre seu suposto envolvimento com o ex-prefeito Paulo Maluf (PPB).
Ele nega qualquer envolvimento com Silvana ou com alguém de sua família (leia texto nesta página).
Silvana é filha de Silvio Rocha de Oliveira, um ex-funcionário municipal suspeito de pertencer à máfia da propina (rede de corrupção que age na administração municipal).
Ela diz ter conhecido o ex-prefeito em um churrasco em 89, feito em homenagem ao então candidato à Presidência, ao qual ela foi com o pai.
A adolescente vestia roupa que "chamava a atenção": minissaia de viscose branca com listas azuis e uma miniblusa branca.
"Eu estava suavemente maquiada, com um batonzinho de cor rosa e lápis no olho."
Ela diz ter notado os olhares de Maluf. Um olhar "bem paquera", segundo ela, que a deixou inibida.
Eles teriam sido apresentados pelo pai dela. "Maluf pegou na minha mão e eu percebi que a mão dele estava suando. Parou aí. Voltei para casa e nem pensei naquilo que havia acontecido, nos olhares. A minha vida continuou normal", disse.

A sós
A primeira vez que os dois estiveram a sós, segundo o relato de Silvana, aconteceu devido a um trabalho que seu pai fazia para Maluf. Rocha realizava invasões de conjuntos habitacionais durante a gestão de Luiza Erundina (PT). Segundo ele, a mando de Maluf.
Silvana conta que um dia o ex-prefeito ligou para uma vizinha sua. Ele teria dito que queria falar com Rocha. Silvana foi atender. "Na verdade ele (Maluf) queria era falar comigo, pois ele sabia que o meu pai estava na invasão", ela diz.
No telefonema, Maluf teria dito que era para Silvana ir a sua casa pegar "um material" para o pai.
Silvana foi. Na sala do ex-prefeito, ainda de acordo com o relato, Maluf lhe deu um abraço e um beijo "bem forte no rosto". Silvana conta ainda que Maluf a olhou de "forma profunda" e disse que ela era uma menina "perfeitinha", uma "menina feita".
"Nós estávamos sentados cada um num canto e ele tentou se aproximar... E eu fiquei com medo. Meus olhos se encheram de lágrimas e eu disse: "Eu preciso ir embora", e ele disse: "Não, fica mais um pouquinho"."
Segundo Silvana, os dois teriam tido 15 encontros ao todo. Todos na casa do ex-prefeito, quase sempre às 7h. Uma vez, ela afirma que foi com o pai. Lá, quando Rocha foi ao banheiro, ela diz que Maluf lhe deu um beijo na boca. "Foi através desse beijo que eu comecei a me iludir com ele. Como ele tinha feito muitas promessas de que eu poderia ter qualquer coisa na minha vida, eu comecei a imaginar em trabalhar no SBT, no programa do Augusto Liberato (Gugu) e dançar."

A primeira vez
A partir daquele dia, a menina diz que passou a ir escondida para a casa de Maluf, sempre em táxis pagos pelos seguranças dele.
A primeira tentativa de relação sexual entre os dois teria ocorrido na terceira visita.
Silvana diz que Maluf a levou para o banheiro da casa -todo espelhado. Ambos ficaram seminus, mas a menina teria recusado a relação dizendo que era virgem. "Ele me acalmou bastante, pediu desculpas e disse que não iria mais fazer isso."
Assustada com a investida, Silvana diz ter recusado os dois próximos convites para encontros. Maluf, segundo ela, passou a reforçar a promessa de um apartamento e uma vida sem problemas. Ela cedeu. "Comecei a me iludir e comecei até a gostar dele."
Em uma dessas visitas, segundo ela, Maluf a levou de novo ao banheiro e eles teriam mantido a primeira relação sexual.
"Após isso, eu mantive cinco relações sexuais com ele. Houve uma vez que ele não usou preservativo. Noutras vezes ele usava. Teve uma vez que furou a camisinha."
Silvana diz que Maluf lhe dava dinheiro depois dos encontros e dizia que era para os estudos dela.
O romance, segundo Silvana, se manteve mesmo depois que ela arrumou um namorado, seguindo conselhos do "padrinho".
A relação terminou, porém, quando a menina começou a sentir enjôos e desconfiou que estava grávida. Avisado, ela diz, Maluf se distanciou.
"Depois que ele soube que eu estava grávida, ele passou a me desprezar e nunca mais me deu dinheiro."

Quase certeza
A "quase" certeza sobre a paternidade se dá porque Silvana diz ter tido relações sexuais com o namorada ao mesmo tempo em que via Maluf.
Com Marcelo, o namorado, ela diz que não usava preservativo.
Hoje, casada, Silvana diz estar disposta a submeter a filha de 8 anos a um teste de DNA para esclarecer a dúvida sobre a paternidade e afirma não querer nada do ex-prefeito caso o exame confirme que ele é o pai da menina.
Silvana disse ainda que, após o nascimento da filha, ela voltou a falar com Paulo Maluf, que marcou um encontro entre ela e Calim Eid, tesoureiro das campanhas do ex-prefeito.
Silvana diz que Eid lhe deu dinheiro para comprar uma casa. Seriam 40 mil, que ela não lembra em que moeda.
"Eu me lembro que Calim Eid deu um cheque que eu não lembro se estava preenchido e nem em nome de quem estava", disse.
Ela disse que também teve que assinar um papel em branco. "Ele me dando a casa, acabou tampando a minha boca, até porque eu queria preservar a minha filha."

Contradições
Alguns trechos do relato de Silvana sobre o romance com o ex-prefeito de São Paulo são diferentes do que foi contado por seu pai à CPI da Câmara que investiga a máfia da propina.
Sobre um dos encontros que ela diz ter se recusado a ir, por exemplo, as versões são diferentes.
Segundo depoimento de Rocha dado à CPI na segunda-feira, Maluf ligou para ele no dia seguinte perguntando porque a menina não havia aparecido e ele respondeu que ela havia se perdido (o encontro fora marcado em um posto de gasolina, de onde eles seguiriam para um sítio).
Segundo Silvana, foi ela quem ligou para Maluf dizendo que tinha torcido o pé.
Além disso, durante toda sua narrativa, Silvana sustenta que o pai só ficou sabendo de suas visitas ao ex-prefeito quando ela engravidou. Rocha, porém, chega a afirmar que não via nada de mal no encontro de uma "afilhada" com o padrinho, "um político em quem confiava tanto".
Há divergências também sobre quem deu a Maluf a notícia da gravidez. Silvana disse que telefonou ao ex-prefeito. Rocha sustenta que falou a ele sobre o caso em um encontro político na zona leste.
A maior contradição, porém, surge no contato com o empresário Calim Eid.
Segundo Rocha, Eid entrou em contato com a família quando ele cobrou providências de Maluf sobre a gravidez da menor. Já Silvana afirma que Paulo Maluf marcou o encontro depois que ela ligou para ele, após o nascimento da criança.
Ambos dizem ter sido dois encontros -no primeiro o empresário entregou 10 mil em moeda da época em cheque e, depois, 40 mil em dinheiro. Ela, no entanto, afirma ter ido sozinha ao primeiro encontro. O pai diz ter presenciado as duas conversas com o tesoureiro.


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