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PATERNIDADE
Silvana Rocha detalha suposto romance com o ex-prefeito; ele nega qualquer relacionamento
Mãe afirma ter "quase certeza"
de que tem filha de Paulo Maluf
SÍLVIA CORRÊA
da Reportagem Local
Um mês e meio de envolvimento
entre uma menina de 14 anos e um
candidato a presidente de 59.
Quinze encontros, seis relações sexuais, ilusões e uma filha que ela
diz ter "quase certeza" que é dele.
Esse é o resumo de um relato feito na terça-feira por Silvana Rocha
de Oliveira Perestrelo, 25, sobre
seu suposto envolvimento com o
ex-prefeito Paulo Maluf (PPB).
Ele nega qualquer envolvimento
com Silvana ou com alguém de sua
família (leia texto nesta página).
Silvana é filha de Silvio Rocha de
Oliveira, um ex-funcionário municipal suspeito de pertencer à máfia
da propina (rede de corrupção que
age na administração municipal).
Ela diz ter conhecido o ex-prefeito em um churrasco em 89, feito
em homenagem ao então candidato à Presidência, ao qual ela foi
com o pai.
A adolescente vestia roupa que
"chamava a atenção": minissaia de
viscose branca com listas azuis e
uma miniblusa branca.
"Eu estava suavemente maquiada, com um batonzinho de cor rosa e lápis no olho."
Ela diz ter notado os olhares de
Maluf. Um olhar "bem paquera",
segundo ela, que a deixou inibida.
Eles teriam sido apresentados
pelo pai dela. "Maluf pegou na minha mão e eu percebi que a mão
dele estava suando. Parou aí. Voltei para casa e nem pensei naquilo
que havia acontecido, nos olhares.
A minha vida continuou normal",
disse.
A sós
A primeira vez que os dois estiveram a sós, segundo o relato de
Silvana, aconteceu devido a um
trabalho que seu pai fazia para Maluf. Rocha realizava invasões de
conjuntos habitacionais durante a
gestão de Luiza Erundina (PT). Segundo ele, a mando de Maluf.
Silvana conta que um dia o ex-prefeito ligou para uma vizinha
sua. Ele teria dito que queria falar
com Rocha. Silvana foi atender.
"Na verdade ele (Maluf) queria era
falar comigo, pois ele sabia que o
meu pai estava na invasão", ela diz.
No telefonema, Maluf teria dito
que era para Silvana ir a sua casa
pegar "um material" para o pai.
Silvana foi. Na sala do ex-prefeito, ainda de acordo com o relato,
Maluf lhe deu um abraço e um beijo "bem forte no rosto". Silvana
conta ainda que Maluf a olhou de
"forma profunda" e disse que ela
era uma menina "perfeitinha",
uma "menina feita".
"Nós estávamos sentados cada
um num canto e ele tentou se aproximar... E eu fiquei com medo.
Meus olhos se encheram de lágrimas e eu disse: "Eu preciso ir embora", e ele disse: "Não, fica mais
um pouquinho"."
Segundo Silvana, os dois teriam
tido 15 encontros ao todo. Todos
na casa do ex-prefeito, quase sempre às 7h. Uma vez, ela afirma que
foi com o pai. Lá, quando Rocha foi
ao banheiro, ela diz que Maluf lhe
deu um beijo na boca. "Foi através
desse beijo que eu comecei a me
iludir com ele. Como ele tinha feito
muitas promessas de que eu poderia ter qualquer coisa na minha vida, eu comecei a imaginar em trabalhar no SBT, no programa do
Augusto Liberato (Gugu) e dançar."
A primeira vez
A partir daquele dia, a menina
diz que passou a ir escondida para
a casa de Maluf, sempre em táxis
pagos pelos seguranças dele.
A primeira tentativa de relação
sexual entre os dois teria ocorrido
na terceira visita.
Silvana diz que Maluf a levou para o banheiro da casa -todo espelhado. Ambos ficaram seminus,
mas a menina teria recusado a relação dizendo que era virgem. "Ele
me acalmou bastante, pediu desculpas e disse que não iria mais fazer isso."
Assustada com a investida, Silvana diz ter recusado os dois próximos convites para encontros. Maluf, segundo ela, passou a reforçar
a promessa de um apartamento e
uma vida sem problemas. Ela cedeu. "Comecei a me iludir e comecei até a gostar dele."
Em uma dessas visitas, segundo
ela, Maluf a levou de novo ao banheiro e eles teriam mantido a primeira relação sexual.
"Após isso, eu mantive cinco relações sexuais com ele. Houve uma
vez que ele não usou preservativo.
Noutras vezes ele usava. Teve uma
vez que furou a camisinha."
Silvana diz que Maluf lhe dava
dinheiro depois dos encontros e
dizia que era para os estudos dela.
O romance, segundo Silvana, se
manteve mesmo depois que ela arrumou um namorado, seguindo
conselhos do "padrinho".
A relação terminou, porém,
quando a menina começou a sentir
enjôos e desconfiou que estava
grávida. Avisado, ela diz, Maluf se
distanciou.
"Depois que ele soube que eu estava grávida, ele passou a me desprezar e nunca mais me deu dinheiro."
Quase certeza
A "quase" certeza sobre a paternidade se dá porque Silvana diz ter
tido relações sexuais com o namorada ao mesmo tempo em que via
Maluf.
Com Marcelo, o namorado, ela
diz que não usava preservativo.
Hoje, casada, Silvana diz estar
disposta a submeter a filha de 8
anos a um teste de DNA para esclarecer a dúvida sobre a paternidade
e afirma não querer nada do ex-prefeito caso o exame confirme
que ele é o pai da menina.
Silvana disse ainda que, após o
nascimento da filha, ela voltou a
falar com Paulo Maluf, que marcou um encontro entre ela e Calim
Eid, tesoureiro das campanhas do
ex-prefeito.
Silvana diz que Eid lhe deu dinheiro para comprar uma casa. Seriam 40 mil, que ela não lembra em
que moeda.
"Eu me lembro que Calim Eid
deu um cheque que eu não lembro
se estava preenchido e nem em nome de quem estava", disse.
Ela disse que também teve que
assinar um papel em branco. "Ele
me dando a casa, acabou tampando a minha boca, até porque eu
queria preservar a minha filha."
Contradições
Alguns trechos do relato de Silvana sobre o romance com o ex-prefeito de São Paulo são diferentes do que foi contado por seu pai à
CPI da Câmara que investiga a máfia da propina.
Sobre um dos encontros que ela
diz ter se recusado a ir, por exemplo, as versões são diferentes.
Segundo depoimento de Rocha
dado à CPI na segunda-feira, Maluf ligou para ele no dia seguinte
perguntando porque a menina não
havia aparecido e ele respondeu
que ela havia se perdido (o encontro fora marcado em um posto de
gasolina, de onde eles seguiriam
para um sítio).
Segundo Silvana, foi ela quem ligou para Maluf dizendo que tinha
torcido o pé.
Além disso, durante toda sua
narrativa, Silvana sustenta que o
pai só ficou sabendo de suas visitas
ao ex-prefeito quando ela engravidou. Rocha, porém, chega a afirmar que não via nada de mal no
encontro de uma "afilhada" com o
padrinho, "um político em quem
confiava tanto".
Há divergências também sobre
quem deu a Maluf a notícia da gravidez. Silvana disse que telefonou
ao ex-prefeito. Rocha sustenta que
falou a ele sobre o caso em um encontro político na zona leste.
A maior contradição, porém,
surge no contato com o empresário Calim Eid.
Segundo Rocha, Eid entrou em
contato com a família quando ele
cobrou providências de Maluf sobre a gravidez da menor. Já Silvana
afirma que Paulo Maluf marcou o
encontro depois que ela ligou para
ele, após o nascimento da criança.
Ambos dizem ter sido dois encontros -no primeiro o empresário entregou 10 mil em moeda da
época em cheque e, depois, 40 mil
em dinheiro. Ela, no entanto, afirma ter ido sozinha ao primeiro encontro. O pai diz ter presenciado as
duas conversas com o tesoureiro.
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