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Resíduos invadem chácara em Bauru
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BAURU
Quem caminha pela divisa da
chácara de Adilson Bighetti, 42,
com o terreno dos fundos do setor
metalúrgico da Acumuladores
Ajax pode tropeçar em restos de
bateria e resíduos da reciclagem
do chumbo, que foram deixados
na área ao longo dos anos. Os donos dos dois lados da cerca disputam o terreno na Justiça.
Quando se cava um pouco a terra, é possível encontrar ainda
mais restos de bateria. "Depois
que a fábrica foi interditada, eles
cobriram o terreno com capim.
Antes dava para ver ainda mais",
diz Bighetti, que estava construindo a sua casa na propriedade e teve que mudar os planos.
"Estou procurando uma casa na
cidade. Agora estamos morando
na casa dos meus sogros. Não sabemos até que ponto vai a contaminação", diz. O seu filho mais
velho, de quatro anos, está com
21,5 microgramas de chumbo por
decilitro de sangue -o aceitável
para crianças, segundo a OMS, é
10. A menina de um ano e meio
tem índice de 20,9.
A chácara de três alqueires de
Bighetti é uma das quatro propriedades próximas ao setor metalúrgico da Ajax.
Por determinação dos órgãos da
saúde, ele teve que abater cerca de
300 galinhas e transferir bois e cabras para outro local. Exames
mostraram que o leite, os ovos e a
hortelã produzidos ali estavam
contaminados.
"Ainda estou contabilizando os
prejuízos. Não posso nem pensar
em vender a chácara agora, ninguém iria querer comprar. E ainda tenho que aguentar as reclamações dos amigos para quem eu
fornecia leite de cabra, achando
que era saudável."
Ex-funcionários
Em 1985, houve uma epidemia
de saturnismo (quadro de envenenamento agudo produzido por
chumbo) entre os funcionários
do setor metalúrgico da Ajax.
De acordo com o subdelegado
da DRT (Delegacia Regional do
Trabalho) de Bauru, Sérgio Branco, praticamente todos os funcionários do setor estavam contaminados. "Naquela época, eles só
usavam máscaras de pano, de
proteção contra a poeira. São necessários filtros com proteção
química", afirmou.
Jorge Pereira, 43, que hoje é caseiro de uma das chácaras vizinhas à fábrica, foi um desses trabalhadores. Ele chegou a ter 70
microgramas de chumbo por decilitro de sangue. Segundo normas do Ministério do Trabalho, o
índice aceitável para adultos é de
até 40, e, para funcionários expostos à contaminação, até 60.
Depois de ficar afastado por
mais de três meses, entrou em
acordo e saiu da fábrica. "Eu me
sentia muito mal", diz.
No ano passado, houve 30 casos
"leves" de saturnismo na Ajax, segundo Branco. Pelas leis trabalhistas, é obrigatória a realização
de exames nos funcionários de
três em três meses.
(AK)
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