São Paulo, domingo, 28 de abril de 2002

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Teste detecta câncer de próstata em fase inicial

DA REPORTAGEM LOCAL

Um novo exame para diagnóstico do câncer de próstata amplia as chances de detecção da doença para 90%. Atualmente, cerca de 80% dos tumores na próstata não são observados clinicamente, segundo o Inca (Instituto Nacional do Câncer).
O teste, chamado espectroscopia, é feito por um software acoplado a um equipamento de ressonância magnética e funciona da seguinte maneira: um aparelho endoretal capta as imagens em alta resolução e realiza uma leitura bioquímica dos metabólitos (substâncias produzidas pela próstata, como citrato e creatina).
Ao mesmo tempo, um gráfico analisa a dosagem de cada substância, identifica aquelas que estão em quantidade acima do normal e avalia, a partir daí, se o paciente está ou não com câncer.
Hoje, a detecção do câncer de próstata é feita pelo exame clínico (toque retal) e da dosagem de substâncias produzidas pela próstata (PSA e FAP). Se houver sugestão da doença, é indicada uma ultra-sonografia pélvica ou prostática transretal.
Segundo Aldemir Humberto Soares, 49, presidente do Colégio Brasileiro de Radiologia, o diagnóstico por meio da espectroscopia é tão preciso que consegue identificar a doença mesmo que ela tenha pouquíssimo tempo de existência.
Com o exame, a "varredura" é completa. "Só não falamos que é a possibilidade de acerto é de 100% porque em ciência nada é tão exato assim", afirma.
Segundo o médico Douglas Racy, da Med-imagem, instituto de radiologia do Hospital Beneficência Portuguesa, a espectografia será especialmente útil nos casos em que o exame clínico é falso negativo.
"É muito comum o teste de PSA dar alterado, o que poderia sugerir um câncer, e a biopsia apresentar resultado negativo", afirma.
Para a realização da biopsia, são recolhidos de 12 a 18 fragmentos da próstata. Mas há chances de os pedaços escolhidos não conterem células cancerosas.
Nesses casos, médico e paciente ficam sem saber se a alteração do PSA é devido a uma inflamação da próstata (prostatite) ou a um tumor inicial, não detectado pelo toque retal ou pela biopsia.
Geralmente, os médicos receitam antibióticos para tratar a suposta inflamação, mas, com o tempo, como o PSA não melhora, descobre-se que o paciente está com câncer.
Dados do Inca indicam que 50% dos tumores na próstata são detectados em estágio avançado, com metástase, quando já não há mais chances de salvar o paciente.
O exame também possibilita a localização exata do tumor e informa se o câncer foi irradiado para outros órgãos.
Nesses casos, segundo Racy, é melhor que se faça a radioterapia porque a cirurgia de retirada da próstata pode acelerar o processo de metástase.
A cirurgia é o tratamento indicado para tumores localizados. É o método com maior chance de cura, apesar de haver o risco de causar impotência ou incontinência urinária nos pacientes.
O novo exame foi anunciado ontem, durante a 32ª Jornada Paulista de Radiologia, promovida pela Sociedade Paulista de Radiologia. Dois hospitais brasileiros, a Beneficência Portuguesa, de São Paulo, e o Vera Cruz, de Campinas, já estão realizando a espectroscopia, segundo Soares.
Por enquanto, o teste não está disponível na rede pública. Um equipamento de ressonância magnética custa em média US$ 1 milhão, e o custo do programa de software é US$ 100 mil.


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