UOL


São Paulo, segunda-feira, 28 de abril de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

VIOLÊNCIA

Um dos garotos morreu na hora; motorista recebeu 3 tiros, facadas e pauladas por volta da 0h de ontem na zona sul de SP

Homem é linchado após atropelar 2 crianças

GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Depois de assistir a vários atropelamentos de crianças na mesma rua, moradores do Parque Grajaú (zona sul de SP) viraram justiceiros e lincharam um motorista. Ele foi morto ontem com três tiros, facadas e pauladas depois de atropelar duas crianças e tentar fugir. Uma delas morreu no local e outra está hospitalizada.
O incidente reúne imprudência, revolta e covardia. Todos os personagens são moradores do local, se conhecem e não têm passagem pela polícia. Gilmar Alves de Araújo, 27, estava em uma festa em um bar da rua José Carlos Heffner quando foi surpreendido por sua mulher, grávida de quatro meses, com outra moça.
Durante a discussão, Araújo colocou sua mulher no carro e saiu com o veículo de ré, em alta velocidade, segundo testemunhas. "As portas do carro estavam abertas quando ele foi para cima da calçada", disse a auxiliar de enfermagem Maria Lopes, 48, que testemunhou o acidente, ocorrido por volta da 0h de ontem, e ajudou a socorrer as vítimas.
Sentados na calçada, comendo o bolo de aniversário de uma festa infantil realizada na casa em frente, estavam Cristian Mateus dos Santos, 7, e Alef José Bruno Pereira dos Santos, 9. Cristian dos Santos morreu na hora. Alef dos Santos permanecia ontem internado na UTI (Unidade de Tratamento Intensivo) do Hospital Vidas.
O motorista tentou fugir, mas foi perseguido por moradores. Segundo testemunhas, a mulher de Araújo tentou impedir que o marido fosse linchado, mas moradores disseram para ela não se intrometer. Afirmaram que seria poupada porque estava grávida.
Uma moradora disse que o motorista foi perseguido por um grupo de homens. Segundo ela, Araújo caía, levantava e tentava correr, mas era novamente agredido pelos moradores.
Ele foi encontrado pela Polícia Militar a um quilômetro do local do acidente. Morreu no pronto-socorro. Um grupo de pessoas ainda tentou invadir o necrotério para queimar o corpo, mas foi contido pelos policiais. Os PMs afirmaram, no boletim de ocorrência, que não conseguiram identificar os agressores.
"Todos erraram [o motorista e os linchados]. A tragédia revoltou a todos, mas não se faz justiça assim", disse Maria Lopes.
Segundo moradores, a revolta pode ser explicada por vários atropelamentos de criança na mesma rua. Foram pelo menos quatro, sem morte, desde o começo do ano. "Os carros passam em alta velocidade, como se fosse uma avenida", disse Maria Lopes.
Araújo era um desses motoristas. As calçadas irregulares, obrigando a população a andar na rua, também aumentam o risco.
Os próprios moradores construíram seis lombadas improvisadas na rua. Elas foram retiradas por funcionários da CET (Companhia de Engenharia de Trânsito) no ano passado. Segundo uma moradora, a CET negou pedido de construção de lombada afirmando que não havia fluxo de veículos suficiente.


Texto Anterior: Miss não tem o direito a ter individualidade
Próximo Texto: Skol Beats: 19 são detidos em festival de música em SP
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.