São Paulo, sexta-feira, 28 de abril de 2006

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SABEDORIA TIBETANA

Palestra do líder budista atraiu 2.500 pagantes ontem a templo localizado em Cotia (Grande São Paulo)

Dalai-lama reúne público hippie chique

LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL

"Só a gente é assim, hippie e chique; um pouco Daslu, um pouco Woodstock." Foi dessa forma que a publicitária paulistana Ana Carolina Vieira Lustosa, 47, definiu a platéia que o dalai-lama reuniu ontem em Cotia, na Grande São Paulo. Praticante do budismo há cinco anos, Ana Carolina vestia uma saia reta transpassada até o tornozelo em seda marrom, o look arrematado por "sandalinhas" Prada. Nos pulsos, voltas de colares de pérolas. A blusinha, simples, era de algodão da GAP.
Ana Carolina era uma das 2.500 pessoas pagantes que se reuniram ontem no templo Zu Lai para ouvir Tenzin Gyatso, o 14º dalai-lama, falar, a partir das 10h e por quatro horas, sobre "Natureza e treinamento da mente no budismo tibetano", ao preço de R$ 120 e R$ 70. Quem pagou mais teve o direito de pôr os olhos no próprio dalai-lama. Quem pagou R$ 70 só pôde fruir as lições do mestre por intermédio de telões instalados em dois salões isolados.

Investimento
Do Recife, a delegação de 40 almas proveniente da sangha (comunidade budista) do lama Padma Samten, um monge brasileiro que mora no Rio Grande do Sul, teve de desembolsar um mínimo de R$ 1.000 por cabeça para ver o dalai-lama de pertinho. Pelo pacote completo, que dá direito a assistir a todas as palestras do mestre tibetano, cada um pagou R$ 260. "Mais R$ 600 do avião ida-e-volta e o custo de hospedagem e você vê: foi um investimento mesmo", explicou a psicóloga Kátia Cavalcante Pontes, 54.
Depois de duas horas de aulas, acompanhadas pela platéia em silêncio concentrado, o próprio dalai-lama levou a mão à barriga e anunciou: "Time to lunch". Foi a oportunidade de a casta dos R$ 70 se encontrar com a dos R$ 120. Os dois grupos foram encaminhados para a beira do lago do templo, onde puderam degustar, sentados na grama molhada, quentinhas vegetarianas com carne de soja, arroz e legumes. Sempre risonhos, como convém a um candidato à iluminação.
Afinal, conforme disse o dalai-lama na parte da manhã, "todas as experiências dolorosas que experimentamos podem ser eliminadas por intermédio dos processos mentais, mais poderosos do que os físicos". Fome na África? Tsunami? Atentado terrorista? Diz o dalai-lama: "Através de uma busca mental, podemos suplantar a dor física, mas o inverso não é possível."

Sua majestade
Toda a palestra do dalai-lama, inclusive após o almoço, foi proferida pelo mestre sentado com as pernas cruzadas à frente, em uma espécie de trono de madeira.
A seus pés, os súditos -48 monges e monjas de várias linhagens budistas. Depois, a platéia.
A majestade do mestre (que no antigo Tibete pré-invasão chinesa de 1951 acumulava as funções de máximo líder religioso com a de chefe de Estado) não escapou à intuição do cantor e sambista Jair Rodrigues, presente no Zu Lai.
Na hora do almoço, ele encontrou-se com o mestre em uma audiência restrita. De repente, tascou o hit "Sua Majestade, o Sabiá", da deidade sertaneja Roberta Miranda. No finzinho do estribilho, emendou: "Em minha volta, sinfonia de pardais,/ Cantando para a Majestade, o Sabiá/ A Majestade, o dalai-lama".


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