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SABEDORIA TIBETANA
Palestra do líder budista atraiu 2.500 pagantes
ontem a templo localizado em Cotia (Grande São Paulo)
Dalai-lama reúne público hippie chique
LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL
"Só a gente é assim, hippie e chique; um pouco
Daslu, um pouco Woodstock." Foi dessa forma que a
publicitária paulistana Ana Carolina Vieira Lustosa,
47, definiu a platéia que o dalai-lama reuniu ontem
em Cotia, na Grande São Paulo. Praticante do
budismo há cinco anos, Ana Carolina vestia uma
saia reta transpassada até o tornozelo em seda
marrom, o look arrematado por "sandalinhas"
Prada. Nos pulsos, voltas de colares de pérolas. A
blusinha, simples, era de algodão da GAP.
Ana Carolina era uma das 2.500 pessoas pagantes
que se reuniram ontem no templo Zu Lai para ouvir
Tenzin Gyatso, o 14º dalai-lama, falar, a partir das
10h e por quatro horas, sobre "Natureza e
treinamento da mente no budismo tibetano", ao
preço de R$ 120 e R$ 70. Quem pagou mais teve o
direito de pôr os olhos no próprio dalai-lama. Quem
pagou R$ 70 só pôde fruir as lições do mestre por
intermédio de telões instalados em dois salões
isolados.
Investimento
Do Recife, a delegação de 40
almas proveniente da sangha
(comunidade budista) do lama
Padma Samten, um monge brasileiro que mora no Rio Grande
do Sul, teve de desembolsar um
mínimo de R$ 1.000 por cabeça
para ver o dalai-lama de pertinho. Pelo pacote completo, que
dá direito a assistir a todas as
palestras do mestre tibetano,
cada um pagou R$ 260. "Mais
R$ 600 do avião ida-e-volta e o
custo de hospedagem e você vê:
foi um investimento mesmo",
explicou a psicóloga Kátia Cavalcante Pontes, 54.
Depois de duas horas de aulas, acompanhadas pela platéia
em silêncio concentrado, o próprio dalai-lama levou a mão à
barriga e anunciou: "Time to
lunch". Foi a oportunidade de a
casta dos R$ 70 se encontrar
com a dos R$ 120. Os dois grupos foram encaminhados para
a beira do lago do templo, onde
puderam degustar, sentados na
grama molhada, quentinhas
vegetarianas com carne de soja,
arroz e legumes. Sempre risonhos, como convém a um candidato à iluminação.
Afinal, conforme disse o dalai-lama na parte da manhã,
"todas as experiências dolorosas que experimentamos podem ser eliminadas por intermédio dos processos mentais,
mais poderosos do que os físicos". Fome na África? Tsunami? Atentado terrorista? Diz o
dalai-lama: "Através de uma
busca mental, podemos suplantar a dor física, mas o inverso não é possível."
Sua majestade
Toda a palestra do dalai-lama, inclusive após o almoço, foi
proferida pelo mestre sentado
com as pernas cruzadas à frente, em uma espécie de trono de
madeira.
A seus pés, os súditos -48
monges e monjas de várias linhagens budistas. Depois, a
platéia.
A majestade do mestre (que
no antigo Tibete pré-invasão
chinesa de 1951 acumulava as
funções de máximo líder religioso com a de chefe de Estado)
não escapou à intuição do cantor e sambista Jair Rodrigues,
presente no Zu Lai.
Na hora do almoço, ele encontrou-se com o mestre em
uma audiência restrita. De repente, tascou o hit "Sua Majestade, o Sabiá", da deidade sertaneja Roberta Miranda. No finzinho do estribilho, emendou:
"Em minha volta, sinfonia de
pardais,/ Cantando para a Majestade, o Sabiá/ A Majestade, o
dalai-lama".
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