São Paulo, sexta-feira, 28 de abril de 2006

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CRIME ORGANIZADO

Alejandro Juvenal Júnior, 34, é acusado pela polícia de negociar as armas da facção criminosa

Polícia prende Júnior, irmão do líder do PCC

ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Apontado pela Polícia Civil como o criminoso responsável pela entrada no país de boa parte dos carregamentos de armas e de drogas comercializadas pela facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital), Alejandro Juvenal Herbas Camacho Júnior, 34, foi preso, anteontem pela manhã, quando deixava uma loja de materiais de construção, no Tatuapé (zona leste de São Paulo).
Júnior é irmão de Marcos Willians Herbas Camacho, 38, o Marcola, líder máximo do PCC, e, em maio do ano passado, foi denunciado à CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) do Tráfico de Armas, da Câmara dos Deputados, como o responsável pelas negociações de armas e drogas feitas pela facção com traficantes da Colômbia e da Bolívia.
Em novembro de 2001, com o dinheiro que acumulou em roubos a banco e com parte do "caixa" do PCC, Júnior fugiu da prisão em que cumpria pena de quase 40 anos.
A Folha apurou que, ao ser preso por cinco policiais civis, Júnior pediu para não ser "escrachado", ou seja, não queria ser apresentado à imprensa, ato rotineiramente adotado pelo Denarc (departamento de narcóticos), órgão que o prendeu. O pedido foi acatado.
No período em que estava na sede do Denarc, no Butantã (zona oeste), foi tratado com muita atenção: na sala em que ficou, a dos investigadores do 1º Nape (Núcleo de Apoio e Proteção às Escolas), no 3º andar do prédio, havia pizza, guaraná e até uma TV a cabo ligada o tempo todo.
"Você vai se declarar inimigo de um cara desses? Não tem jeito. Eu tenho família. Por isso, nunca vou jogar para cima dele coisas que ele não fez", disse o policial que, desde a manhã de terça-feira, seguia Júnior pelas ruas do Tatuapé, bairro onde ele morou antes de ser preso pela primeira vez.
Ao ser abordado na loja de materiais para construção, Júnior estava com uma perua EcoSport, com placas de Fortaleza (CE), e com um cartão bancário e uma carteira de habilitação em nome de Paulo Cesar de Albuquerque Souza. A polícia irá tentar descobrir se ele tem imóveis, carros e empresas registradas com esse nome no Estado. Atualmente, Júnior vivia em Fortaleza, onde disse revender carros. "Ele é bandido bom, criminoso de respeito, não mantém nada em seu nome, sabe como jogar", disse outro policial.
Sem posição definida dentro do organograma do PCC, Júnior sempre foi respeitado pelos demais criminosos de todo o país por ser irmão de Marcola e, pelo parentesco, conseguia realizar, segundo a polícia, transações criminosas internacionais.
À CPI do Tráfico de Armas, o delegado Ruy Ferraz Fontes, do Deic (Departamento de Investigações Sobre o Crime Organizado), declarou que Júnior trazia armas para São Paulo no meio dos carregamentos de drogas.
Ainda segundo as investigações de Fontes, destacado pelo governo paulista especialmente para cuidar do PCC, Júnior mantinha contato com os mesmos traficantes colombianos e bolivianos que vendiam cocaína ao traficante carioca Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar.
Júnior e Marcola -que, por ser vaidoso, também é chamado de Playboy pelos outros integrantes do PCC- são filhos de um imigrante boliviano que veio para o Brasil trabalhar com próteses dentárias. Criados no Cambuci (região central), perderam a mãe quando Júnior completou seis anos. Eles têm uma meio-irmã por parte de pai, que desapareceu, mas não a conhecem.
A diretoria do Denarc não permitiu que a reportagem tivesse acesso a Júnior, para que ele apresentasse sua versão sobre as acusações feitas pela polícia. O advogado dele, João Antônio Bruno, falou, por meio de um policial do Denarc, que iria se pronunciar depois sobre as acusações, mas isso não aconteceu até a conclusão desta edição.


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