São Paulo, terça-feira, 28 de abril de 2009

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Novo traçado do Rodoanel afetará zona norte

Proposta do governo de SP prevê cortar áreas povoadas ao lado da serra da Cantareira para fazer trecho norte do anel viário

Gestão José Serra (PSDB), porém, não descartou traçado antigo, que passa por área de mananciais e foi criticado por ambientalistas


JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
DA REPORTAGEM LOCAL

O governo de São Paulo formulou uma nova proposta de traçado para o trecho norte do Rodoanel que corta áreas densamente povoadas ao lado da serra da Cantareira. A gestão José Serra (PSDB), porém, não descartou o traçado antigo, criticado por ambientalistas por afetar área de mananciais.
Os dois possíveis trajetos do trecho norte, com cerca de 60 km cada um, estão detalhados na licitação aberta pela Dersa para a elaboração do EIA-Rima (Estudo-Relatório de Impacto Ambiental) da obra.
A Secretaria dos Transportes não divulgou os custos nem quando pretende iniciar a construção, mas diz que o projeto básico ficará pronto no primeiro semestre de 2010.
Em 2002, o Estado chegou a formular um EIA-Rima para o projeto de construir a via na região de Mairiporã, entre a rodovia D. Pedro e a serra da Cantareira, mas o projeto foi abandonado porque afetaria a qualidade e possivelmente a oferta de água no sistema Cantareira.
Após realizar estudos e audiências públicas, a Secretaria Estadual do Meio Ambiente levou à Secretaria dos Transportes o veredicto: como estava, o traçado do trecho norte não teria viabilidade ambiental.
Em março, a Folha revelou um estudo da Fusp (Fundação de Apoio à Universidade de São Paulo) que reforçou o argumento contra aquele traçado ao apontar a "iminência de colapso de abastecimento" na região metropolitana. Motivo: a capacidade de produção de água havia caído 5.100 litros/ segundo em cinco anos -suficiente para abastecer 2,5 milhões de pessoas por dia.
O EIA-Rima, além de ser o documento necessário para a licença ambiental, também será referência para embasar a escolha por uma das opções.
O novo percurso também começa a partir do final do trecho oeste, nas proximidades da rodovia dos Bandeirantes, segue até a avenida Inajar de Souza, margeia a serra da Cantareira em locais ocupados por condomínios e favelas, cruza a rodovia Fernão Dias e termina na via Dutra, em Guarulhos.
O Rodoanel, principal obra viária do Estado, foi criado para retirar o tráfego pesado das vias urbanas da Grande SP.
Até agora, somente o trecho oeste está pronto. O sul, que fará a ligação com o sistema Anchieta-Imigrantes, tem 70% das obras concluídas e deve ser inaugurado no próximo ano.
Caso o Estado faça a opção pelo projeto antigo, o Rodoanel, além de afetar diretamente o sistema Cantareira, ficará cerca de 20 km mais longe da mancha urbana de São Paulo.
Segundo a Folha apurou, o governo já vem discutindo com entidades ligadas ao ambiente sobre a nova proposta de traçado para a obra.
O engenheiro Dario Rais Lopes, ex-secretário de Estado dos Transportes, afirma que não há diferença substancial no tempo que o motorista levará para percorrer o trecho norte pelo traçado agora proposto.
"A diferença é muito pequena, deve ser de uns dez minutos", afirma Rais, que conduziu os estudos para o trecho norte.
O presidente em exercício do subcomitê Juqueri-Cantareira da Bacia Hidrográfica do Alto Tietê, Mário Cezar Lopes do Nascimento, afirma que, ao buscar um novo traçado, o governo "reconhece um erro".
"O Estado está dando a mão à palmatória, porque, quando lutamos contra o primeiro projeto, estávamos certos. O Rodoanel é um mal necessário, e essa é a solução menos ruim."


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