São Paulo, terça-feira, 28 de maio de 2002

Próximo Texto | Índice

INFÂNCIA

Áreas críticas são, principalmente, periferias das zonas leste e sul; na média da cidade, mortalidade caiu entre 2000 e 2001

Morte de bebês cresce em 38 distritos de SP

Patrícia Santos/Folha Imagem
Marta Conceição de Oliveira, 28, moradora de Anhanguera (periferia da zona norte de São Paulo), com seis de seus nove filhos


GABRIELA ATHIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

A mortalidade infantil aumentou em 38 dos 96 distritos administrativos da cidade de São Paulo (40%) entre os anos de 2000 e 2001. Entre 1997 e 1998, a mortalidade cresceu em 20 deles. O estudo é da Fundação Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados) e foi feito a pedido da Folha.
As crianças que mais morrem são as do chamado "fundão" da cidade -bairros da extrema periferia das zonas sul e leste. Mas foi em Anhanguera, bem ao norte de São Paulo, que, entre 2000 e 2001, houve o maior aumento da taxa de óbitos entre crianças até um ano de vida -315,5%.
Em 2001, os registros mostram que dos 2.909 bebês que morreram antes de completar o primeiro ano, 481 (16,5%) foram vítimas das chamadas doenças evitáveis, como pneumonia e diarréia.
A maioria das mortes por essas causas ocorreu apenas nos bairros pobres. Na Brasilândia, periferia norte, 19 bebês morreram de diarréia e pneumonia. Em Perdizes, zona oeste, apenas uma.
As estatísticas mostram que o índice de mortalidade infantil na capital paulista (portanto a média da cidade) está em queda desde o início da década de 90. Entre 2000 e 2001, passou de 15,80 para 15,03. O indicador contabiliza a morte de crianças de até 12 meses em um grupo de mil nascidas vivas.
A redução não ocorreu de forma homogênea nos 96 distritos. Nas regiões mais nobres, como Jardim Paulista, os indicadores -que há pelo menos cinco anos apresentam taxas consideradas excelentes tanto internacionalmente quanto em relação à realidade brasileira- melhoraram.
A taxa de mortalidade do Brasil é de 29 óbitos para cada mil crianças nascidas vivas. No Jardim Paulista, em 2001, era de 9,21.
Do outro lado (acima da média do município), estão distritos como Marsilac (22,73 por mil), no extremo sul, e Ponte Rasa (20,38 por mil), na zona leste.

Desigualdade
Marcos Drumond Júnior, 42, assistente técnico da Coordenação de Epidemiologia e Informação da Prefeitura de São Paulo, explica que a persistência dos altos índices de mortalidade nos bairros mais pobres mostra a desigualdade existente entre os distritos da cidade e seus moradores.
Estatisticamente, considera-se que um período de cinco anos seja suficiente para determinar com segurança tendências da taxa de mortalidade. Com base nos dados de 1997 a 2001, pode-se dizer que, nas áreas críticas, o risco de um bebê morrer antes de um ano de idade é quatro vezes maior do que o de uma criança nascida em um bairro de classe média.
Segundo Antônio Marangone, demógrafo da Seade, onde a quantidade de óbitos é muito pequena, caso dos bairros mais ricos, o impacto percentual, em caso de redução ou aumento da taxa de um ano para o outro, é grande.
Isso deve ser levado em conta na hora de analisar a variação anual da mortalidade de bairros como Moema, Alto de Pinheiros e Itaim Bibi. É preciso conferir o número absoluto de mortes.
No Alto de Pinheiros (zona oeste), por exemplo, as mortes no período aumentaram 20%. No Itaim Bibi (na mesma região), 71,4%. Em números absolutos, os óbitos do primeiro subiram de cinco para seis. No segundo, de sete para 12. No pobre Anhanguera, o salto foi de quatro para 18.
A mortalidade infantil é um entre diversos indicadores sociais. Para analisar se as mortes decorrem de carências socioeconômicas, é necessário conhecer outros indicadores sociais do local.
A renda média no Alto de Pinheiros é de R$ 4.809. No Itaim Bibi, R$ 4.242. Entre 1991 e 2000, as famílias das duas regiões ficaram 40% mais ricas, segundo o Censo 2000. Além disso, esses locais apresentam taxas de homicídio inferiores à média da cidade. Já as famílias de Anhanguera vivem com R$ 678 mensais, em média, e o risco de um morador ser assassinado é duas vezes maior do que nos dois outros distritos.

Qualidade de vida
Para a Organização Mundial da Saúde, a taxa de mortalidade infantil é um dos principais indicadores de qualidade de vida. Alta, evidencia principalmente miséria, falta de saneamento básico, baixo nível de instrução e falta de acesso a serviços básicos de saúde.
Como os índices nos distritos paulistanos não são homogêneos, as causas das mortes dos bebês também são diferentes.
Quando as taxas são altas, é porque muitas crianças ainda morrem das chamadas causas evitáveis que ocorrem após o primeiro mês de vida. Esses tipos de mortes infantis podem ser reduzidos com ações básicas de saúde, como a distribuição de soro caseiro (para evitar a diarréia).
Quando os índices de mortalidade já estão menores, é porque a maioria das mortes ocorre nos primeiros sete dias de vida.
Para reduzi-las, são necessárias iniciativas mais consistentes de saúde (como por exemplo um exame pré-natal de qualidade) e investimentos em tecnologia (unidades de terapia intensiva para recém-nascidos).


Próximo Texto: Outro lado: "Prefeitura vai reestruturar atendimento"
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.