São Paulo, domingo, 28 de maio de 2006

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PCC eleva busca por condomínios

Imobiliárias que cuidam de residenciais como Alphaville registraram aumento das visitas agendadas

Temor provocado pelos ataques da facção criminosa não afetou a tranqüilidade dos moradores por detrás dos muros dos conjuntos

Marlene Bergamo/Folha Imagem
Vista de um dos blocos de condomínios de Alphaville
em Barueri (Grande SP)

LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL

Na semana passada, em meio ao terremoto PCC que sacudiu o Estado, o condomínio fechado de Alphaville, a 30 km de São Paulo, não teve medo. Por detrás dos muros altos do residencial, crianças andaram de bicicleta pelas ruas, como sempre; babás levaram bebês para passear e idosos saíram para o footing de todo dia.
"A gente está bem preparado. Não há motivo para medo", disse o gerente de segurança de Alphaville 6. "Entre os mais de 7.000 moradores, apenas uns 10 a 15 manifestaram algum tipo de preocupação com os ataques, mas nada que alterasse a rotina dos conjuntos residenciais", atestou Luís Antonio Rodrigues, gerente da Sociedade das Moradas de Aldeia da Serra, a 40 km de São Paulo.
Se o setor de automóveis blindados teve um aumento de demanda de até 200% por causa da crise do PCC, as imobiliárias que cuidam da compra e venda de casas em condomínios fechados também registraram aumento na procura. "Agendamos normalmente três visitas diárias em Alphaville. Nesta semana, tivemos de nos desdobrar: foi uma média de nove visitas por dia", contabilizou um corretor da região.
"É meio natural esse crescimento de demanda, já que o principal apelo de marketing desses residenciais é qualidade de vida com segurança", interpreta o proprietário de uma imobiliária, festejando, na quinta-feira, o fechamento de um negócio de R$ 2,5 milhões -uma casa com 650 metros quadrados de área construída, em terreno de 1.300 metros quadrados (piscina, hidro, sauna e churrasqueira incluídos).
Paraísos artificiais, os residenciais são ilhas de riqueza na periferia pobre de São Paulo -nas cidades de Barueri, Santana do Parnaíba, Cotia e Jandira, principalmente. Dentro de alguns brotam aqui e ali casas de R$ 15 milhões a R$ 20 milhões, castelos e palácios do Vale do Loire - originais franceses, cópias em Alphaville.
Na maioria dos condomínios fechados, não se previu a existência de calçadas (os pedestres são assim obrigados a andar na rua) e as caixas de correio são importadas dos Estados Unidos -US Mail, lê-se nelas.
Os residenciais têm matriz americana e surgiram no Brasil no início dos anos 70 a partir do paradigmático Alphaville, assim batizado por sugestão do arquiteto José Almeida Pinto. A inspiração foi o filme homônimo do diretor francês Jean-Luc Godard.
Curiosa inspiração. A Alphaville do cinema é uma comunidade dominada por um computador. Alpha-6 -assim se chama a máquina- controla todos os movimentos dos moradores. Não existe a palavra "livre". Nem "consciência".
Também nos residenciais criados a partir do sucesso de Alphaville, a vigilância sobre os moradores é intensa. O coordenador técnico administrativo Oswaldo Floriano, 40, responsável pela segurança do condomínio Morada dos Pássaros, em Aldeia da Serra, conta com um circuito de câmeras espalhadas pelos muros e áreas críticas, como aquelas em que os jovens costumam se reunir.
A cada 15 minutos, cada canto do residencial é percorrido por carros da segurança interna. Festas mais estridentes ou moradores mais eloqüentes recebem visitas da ronda.
Em muitos condomínios, foi institucionalizado o mecanismo da "deduragem". Se flagram um garoto consumindo drogas, os seguranças advertem os pais sobre o comportamento.
Se pegam três vezes um menino dirigindo sem habilitação, a "deduragem" vai mais longe -até o distrito policial. Nas duas primeiras, o pai é o destinatário da denúncia.


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