|
Próximo Texto | Índice
PCC eleva busca por condomínios
Imobiliárias que cuidam de residenciais como Alphaville registraram aumento das visitas agendadas
Temor provocado pelos ataques da facção criminosa não afetou a tranqüilidade dos moradores por detrás dos muros dos conjuntos
Marlene Bergamo/Folha Imagem
|
|
Vista de um dos blocos de condomínios de Alphaville em Barueri (Grande SP)
LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL
Na semana passada, em meio
ao terremoto PCC que sacudiu
o Estado, o condomínio fechado de Alphaville, a 30 km de São
Paulo, não teve medo. Por detrás dos muros altos do residencial, crianças andaram de
bicicleta pelas ruas, como sempre; babás levaram bebês para
passear e idosos saíram para o
footing de todo dia.
"A gente está bem preparado.
Não há motivo para medo", disse o gerente de segurança de Alphaville 6. "Entre os mais de
7.000 moradores, apenas uns
10 a 15 manifestaram algum tipo de preocupação com os ataques, mas nada que alterasse a
rotina dos conjuntos residenciais", atestou Luís Antonio Rodrigues, gerente da Sociedade
das Moradas de Aldeia da Serra,
a 40 km de São Paulo.
Se o setor de automóveis
blindados teve um aumento de
demanda de até 200% por causa da crise do PCC, as imobiliárias que cuidam da compra e
venda de casas em condomínios fechados também registraram aumento na procura.
"Agendamos normalmente
três visitas diárias em Alphaville. Nesta semana, tivemos de
nos desdobrar: foi uma média
de nove visitas por dia", contabilizou um corretor da região.
"É meio natural esse crescimento de demanda, já que o
principal apelo de marketing
desses residenciais é qualidade
de vida com segurança", interpreta o proprietário de uma
imobiliária, festejando, na
quinta-feira, o fechamento de
um negócio de R$ 2,5 milhões
-uma casa com 650 metros
quadrados de área construída,
em terreno de 1.300 metros
quadrados (piscina, hidro, sauna e churrasqueira incluídos).
Paraísos artificiais, os residenciais são ilhas de riqueza na
periferia pobre de São Paulo
-nas cidades de Barueri, Santana do Parnaíba, Cotia e Jandira, principalmente. Dentro
de alguns brotam aqui e ali casas de R$ 15 milhões a R$ 20
milhões, castelos e palácios do
Vale do Loire - originais franceses, cópias em Alphaville.
Na maioria dos condomínios
fechados, não se previu a existência de calçadas (os pedestres
são assim obrigados a andar na
rua) e as caixas de correio são
importadas dos Estados Unidos -US Mail, lê-se nelas.
Os residenciais têm matriz
americana e surgiram no Brasil
no início dos anos 70 a partir do
paradigmático Alphaville, assim batizado por sugestão do
arquiteto José Almeida Pinto.
A inspiração foi o filme homônimo do diretor francês Jean-Luc Godard.
Curiosa inspiração. A Alphaville do cinema é uma comunidade dominada por um computador. Alpha-6 -assim se chama a máquina- controla todos
os movimentos dos moradores.
Não existe a palavra "livre".
Nem "consciência".
Também nos residenciais
criados a partir do sucesso de
Alphaville, a vigilância sobre os
moradores é intensa. O coordenador técnico administrativo
Oswaldo Floriano, 40, responsável pela segurança do condomínio Morada dos Pássaros,
em Aldeia da Serra, conta com
um circuito de câmeras espalhadas pelos muros e áreas críticas, como aquelas em que os
jovens costumam se reunir.
A cada 15 minutos, cada canto do residencial é percorrido
por carros da segurança interna. Festas mais estridentes ou
moradores mais eloqüentes recebem visitas da ronda.
Em muitos condomínios, foi
institucionalizado o mecanismo da "deduragem". Se flagram
um garoto consumindo drogas,
os seguranças advertem os pais
sobre o comportamento.
Se pegam três vezes um menino dirigindo sem habilitação,
a "deduragem" vai mais longe
-até o distrito policial. Nas
duas primeiras, o pai é o destinatário da denúncia.
Próximo Texto: Residenciais fechados viram território livre para os jovens Índice
|