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Cobrança excessiva prejudica alunos
Estudo de economista da USP mostra que criança que sempre recebe ajuda dos pais nos estudos tem desempenho inferior
Segundo pesquisador, auxílio na lição de casa e exigência por notas têm efeito negativo e sugerem que pais podem estar exagerando na dose
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
Fazer sempre o dever de casa
está fortemente associado a um
melhor desempenho, mas o auxílio dos pais nem sempre é benéfico, pois alunos que sempre
recebem essa ajuda têm médias
menores que os demais. Essa é
uma das constatações do economista Naércio Menezes Filho, da USP e do Ibmec-SP, que,
a pedido da Folha, identificou
características de famílias, alunos e escolas que estão associadas a um melhor desempenho
-uma dificuldade que costuma
tirar o sono de muitos pais.
Menezes trabalhou com os
dados do Saeb (exame do Ministério da Educação que avalia
a qualidade do ensino). Outra
constatação surpreendente foi
que a cobrança de pais por boas
notas na rede privada está associada a um desempenho pior
dos alunos.
Para chegar a essas conclusões, o economista fez regressões econométricas a partir do
Saeb. Trata-se de um exercício
estatístico que tenta isolar uma
única variável e descobrir seu
efeito. É como se, em vez de
apenas comparar médias de
alunos diferentes, ele primeiro
se certificasse de que são estudantes com mesmo perfil socioeconômico e de escolas com
características semelhantes.
O pesquisador já havia feito o
mesmo em outro estudo realizado em 2006 em que concluiu
que a escolaridade da mãe, o
maior tempo estudando diariamente na escola, a existência
de pelo menos 20 livros na casa
do aluno, o salário do professor
-na rede privada- ou a formação de turmas heterogêneas
-no caso da pública- estavam
fortemente associados a melhores notas.
Excesso
Na avaliação de Menezes, os
dados que mostram que a ajuda
na lição de casa ou a cobrança
por notas têm efeito negativo
sugerem que os pais, especialmente na escola particular, podem estar exagerando na dose.
"A presença da família é um
elemento importantíssimo,
mas esses dados podem estar
mostrando que os pais, em vez
de orientar, estão fazendo a lição de casa pelo filho, quando
sabemos que o fato de o aluno
fazer o dever aumenta a proficiência. No caso da cobrança
por boas notas, isso pode se
transformar num desestímulo." Educadores ouvidos pela
Folha concordam.
"No caso das particulares,
realmente é muito comum os
pais ajudarem demais o filho,
que acaba não adquirindo autonomia. E achamos péssima a
figura do professor particular.
O aluno fica viciado nessa ajuda e não presta atenção na aula,
pois sabe que depois terá alguém para explicar a lição para
ele", afirma Mauro Aguiar, diretor-presidente do colégio
Bandeirantes, de São Paulo.
Regina Canedo, diretora do
colégio Mopi, do Rio, também
sugere evitar professores particulares. Sobre o fato de alunos
cujos pais cobram boas notas
terem desempenho pior, ela
diz que cobrança não pode ser
confundida com ameaça."Terrorismo não funciona. É claro
que os pais têm que colocar um
limite, mas o mais importante
é fazer com que os filhos estabeleçam uma rotina de estudo", explica.
Acompanhamento completo
Patrícia Lins e Silva, diretora
da Escola Parque, do Rio, dá um
exemplo para diferenciar os
pais que cobram excessivamente dos que se fazem presentes sem ameaçar.
"Em vez de perguntar somente se o filho fez a lição ou
qual nota tirou na prova, pais
que valorizam a educação querem saber também o que a
criança aprendeu naquele dia, o
que ela achou interessante na
escola. Essa criança acabará fazendo o dever de casa sem que
ninguém precise cobrar", afirma Lins e Silva.
Wagner Sanchez, diretor e
coordenador pedagógico do
Colégio Módulo, de São Paulo,
ressalta a importância de os
pais se fazerem presentes.
"É uma forma de os pais dizerem: "Olha, isso é importante
para o seu futuro e me preocupa, por isso ficarei atento". Tal
acompanhamento deve ser
completo, incluindo elogios,
broncas, exemplo, disciplina,
confiança e decisões em conjunto", diz Sanchez.
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