São Paulo, segunda-feira, 28 de maio de 2007

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Aluno da USP vive embaixo de arquibancada

No alojamento provisório, dentro do estádio da universidade, 36 estudantes aguardam uma vaga no Crusp, o conjunto residencial

Maioria colabora com invasão da reitoria, pois parte das reivindicações tem a ver com a vida de quem mora ou quer morar na instituição

Marlene Bergamo/Folha Imagem
Quarto do alojamento provisório, apelidado de "favelão da USP', destinado a alunos de baixa renda


LAURA CAPRIGLIONE
THOMAZ CHIAVERINI

DA REPORTAGEM LOCAL

Dezoito beliches, oito coladas a uma parede, dez do outro lado do quarto. Entre elas, por corredores de meio metro de largura, é difícil passar -há varais estendidos, forrados de roupas lavadas pelos próprios moradores. As paredes estão cobertas de mofo. Um rato aparece. Livros de física, de cálculo, de meteorologia espalham-se pelo ambiente. Esse é um quarto oferecido pelo serviço social da Universidade de São Paulo a alunos de baixa renda.
O "favelão da USP", como é chamado o alojamento provisório de estudantes, está enfiado sob as arquibancadas do estádio da universidade, na Cidade Universitária (zona oeste). Comporta 36 alunos (18 meninos e 18 meninas, em dois quartos separados), que aguardam uma vaga no Crusp, o Conjunto Residencial da USP.
"Isso aqui parece cela de cadeia, não é? Quando chove muito, até inundação tem aqui. Mas a gente chega a ser considerado privilegiado. Somos os primeiros de uma lista de espera com mais de 800 nomes", diz um aluno do 1º ano de exatas. Como seus colegas, ele está ali desde fevereiro, quando começaram as aulas. "A Coseas [Coordenadoria de Serviços e Assistência Social] prometeu que nos levará para o Crusp até maio. Estamos com esperança de que o prazo seja cumprido."
O quarto das meninas estava semi-abandonado na sexta-feira. Oito estavam doentes em casas de amigos. Pegaram gripe forte por causa do vento que se insinua por entre as frestas do concreto da arquibancada. Os maiores buracos tinham arremedos de vedação com jornais.
O banho é tomado nos vestiários do estádio. "As meninas têm que tomar cuidado na hora do banho porque os guardas ficam olhando por uma janela quebrada", diz um diretor da AmorCrusp, a Associação de Moradores do Crusp.
Cada aluno tem direito a um armário -desses de clube- para guardar tudo: roupas, sapatos, livros e até alimentos.
À 0h, todos os dias, apagam-se as luzes dos quartos. Como, no alojamento dos meninos, a maioria é de estudantes de exatas, muitos têm de gastar várias horas além do horário das luzes acesas resolvendo listas de exercícios. O jeito é levar uma mesa de plástico para um corredor do estádio onde não se apagam as lâmpadas.
A maioria dos hóspedes do alojamento provisório está colaborando com a invasão da reitoria, já que boa parte das reivindicações do movimento tem a ver com a vida de quem mora ou quer morar na universidade.
Ônibus circular e restaurante universitário funcionando todos os dias (e não só nos úteis) e mais 700 vagas na moradia são algumas das mais importantes.
Apesar do apoio, os hóspedes provisórios não querem aparecer publicamente como invasores, por temer retaliações.

Superlotação
O Crusp tem 1.400 vagas, distribuídas em sete prédios com média de 66 apartamentos cada. Das vagas, 990 são destinadas a alunos da graduação e 390 a de pós-graduação. As demais são voltadas a casos especiais, como deficientes.
O objeto de desejo dos estudantes do alojamento provisório são apartamentos de 36 m2, divididos em três quartos, uma sala de estudos e um banheiro com box de banho.
É difícil manter a proporção de três alunos por apartamento. Quase a totalidade das unidades têm pelo menos um quarto morador, que vive onde seria a sala de estudos. Mas há apartamentos superlotados, com até 11 moradores, sendo oito convidados dos três moradores oficiais.
Quando entra no Crusp, o aluno ganha o direito de ocupar a vaga pelo tempo da graduação -o prazo pode ser estendido se ele não conseguir se formar no período regular.


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