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análise
Com esse salário, quem quer ser um professor?
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
Um dos problemas mais
graves detectados no censo
do MEC com professores é o
alto percentual dos que dão
aulas de física, matemática e
química no ensino médio
sem formação nessas áreas.
Em 2007, o Conselho Nacional de Educação já alertara que havia um déficit na
formação de professores
nessas disciplinas, evidenciado também pela dificuldade dos Estados de preencher
vagas em seus concursos.
A principal explicação para isso depende de uma informação que o censo do
MEC não traz, mas que pode
ser obtida na Pnad (Pesquisa
Nacional por Amostra de
Domicílios), do IBGE.
Na comparação de 30 ocupações que exigem nível superior, as cinco de menor
rendimento médio são todas
relacionadas ao magistério.
O salário médio de um professor de ensino médio com
nível superior no Brasil era
de R$ 1.335 em 2007. Isso representa dois terços dos rendimentos de um enfermeiro
diplomado (R$ 2.022), metade do que ganham jornalistas
(R$ 2.767) e 27% do obtido
por médicos (R$ 4.865).
É verdade que há evidências empíricas de que salários maiores não significam
melhores notas de alunos
nas avaliações do MEC. Mas
esse é um dado que capta
apenas um efeito imediato.
Sabe-se, a partir de um estudo da consultoria McKinsey, que os países com melhor desempenho educacional são os que selecionam para suas escolas os profissionais mais bem capacitados.
Para isso, não há dúvida de
que a remuneração é um fator essencial.
No Brasil, dados do questionário socioeconômico do
Enade (exame substituto do
provão) mostram que vamos
em direção oposta: os alunos
em cursos de formação de
professores são os mais pobres, de famílias menos escolarizadas e que mais estudaram na rede pública.
Em áreas em que o número de formados já não dá conta da demanda -caso de matemática, física e química- o
problema fica ainda mais
agudo. Os melhores que se
formam nessas licenciaturas
se deparam com escolhas como essas: receber R$ 1.335
como professor ou, por
exemplo, fazer um concurso
público para bancário, cuja
remuneração média para nível superior é de R$ 2.216?
Sem salários atrativos, não
há vocação que resista. Resta
às escolas darem um jeitinho
para que os alunos não fiquem sem aulas dessas áreas.
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