São Paulo, sábado, 28 de maio de 2011

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Em panfleto, Estado associa Saci ao crack

Material que compara efeitos da droga aos do óxi utiliza imagem do personagem com cachimbo desenhada por Ziraldo

Governo diz que usou Saci porque ele integra universo dos usuários; agente de cartunista vai pedir que imagem saia


REYNALDO TUROLLO JR.
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Panfleto do governo paulista que alerta usuários de crack sobre os perigos da nova droga óxi utiliza uma imagem do personagem Saci, de cachimbo na boca, desenhada pelo cartunista Ziraldo.
O material começou a ser distribuído ontem no centro paulistano. Ao lado da imagem do Saci, há a frase "Nem tudo é o que parece...", aludindo à confusão que usuários fazem entre as drogas, vendidas em forma de pedra.
Os panfletos foram produzidos pela equipe do Centro de Referência em Álcool, Tabaco e Outras Drogas, órgão da Secretaria da Saúde. Mil já foram distribuídos ontem.
De acordo com a psicóloga do órgão, Selma Setani, o material foi feito com base "nas experiências com usuários".
Consumidores de crack têm o costume de chamar uns aos outros de "sacizeiros".
"Apenas por esse motivo utilizou-se a figura no panfleto distribuído para alertar a população sobre o óxi. A figura foi baixada da internet e, por se tratar de imagem com direito autoral, a unidade deu o devido crédito", informou a Secretaria da Saúde.
Ziraldo desconhecia o contexto em que o desenho de seu Saci foi usado, segundo seu agente, Mario Gasparotti.
"O estúdio jamais liberaria um trabalho desses. Ziraldo nunca autorizaria o uso do Saci nesse contexto, fazendo essa relação [entre o cachimbo e o crack]", afirmou ele.
O agente disse que pedirá a retirada do Saci do material.
O governo informou que, se houver o pedido, vai retirar o desenho dos panfletos.
"A associação é infeliz, pois o Saci é uma figura simpática", afirma o historiador Jaime Pinsky sobre o personagem do folclore brasileiro.
Questionada sobre a eficácia do material, a psicóloga Selma admite que o panfleto não consegue -nem pretende- sensibilizar usuários para que abandonem as drogas.
"É só para alertar do risco que estão correndo consumindo óxi sem saber", diz.
Para o coordenador do Grupo de Estudos do Álcool e Drogas da USP, Arthur Guerra, "a secretaria tem de informar, que é a função dela, mas tem de saber atingir o público-alvo, onde ele está e com a linguagem dele", diz.
Ontem, cerca de 300 usuários de crack lotaram a praça Julio Prestes, no centro, após dois prédios que eram usados por eles para consumir a droga serem lacrados. Lá, o panfleto não foi distribuído.

Colaborou GIBA BERGAMIM JR.


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