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EDUCAÇÃO
Segundo o Saeb, 27,6% dos alunos da rede particular tiveram bom desempenho; para presidente do Inep, resultado preocupa
Só 1/3 do ensino particular é adequado
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
O diagnóstico do quadro precário da educação brasileira costuma ser feito olhando-se só para as
escolas públicas. No entanto dados tabulados a pedido da Folha
pelo Inep (Instituto Nacional de
Estudos e Pesquisas Educacionais
Anísio Teixeira), do MEC, mostram que a situação dos alunos de
escolas privadas no ensino básico
também não é satisfatória.
Apenas 27,6% dos alunos da rede privada que fizeram as provas
de matemática e de língua portuguesa do Saeb (exame do MEC
que avalia a qualidade da educação) tiveram desempenho considerado adequado pelo ministério.
Comparando com o desempenho da rede pública, o resultado
pode parecer uma maravilha -a
porcentagem de alunos no nível
adequado nas públicas foi de
3,7% no teste de língua portuguesa e de 2,1% no de matemática.
Para o presidente do Inep, Eliezer Pacheco, porém, os resultados
são preocupantes: "Os alunos de
escolas particulares, em sua maioria, têm muito mais acesso a bens
culturais do que os da rede pública. Se a clientela desses estabelecimentos é de pessoas de nível socioeconômico muito mais favorável ao aprendizado, esse resultado
é motivo de preocupação".
Para Pacheco, é preciso sempre
levar em consideração na comparação do resultado entre colégios
públicos e particulares que o perfil do aluno é muito diferente. "A
desigualdade no rendimento dos
alunos das públicas e das privadas
é muito mais reflexo da realidade
econômica do que indicador de
um nível de aprendizado. A maior
parte do aprendizado é explicada
por fatores extra-escolares", diz.
Os resultados do Saeb, divulgados neste mês, mostraram que,
pela nota média obtida na prova
de língua portuguesa dos alunos
de todas as redes da 4ª série do ensino fundamental, a maioria é capaz de achar informações explícitas em textos narrativos mais longos e em anúncios de classificados, mas não compreende textos
mais complexos e informativos.
Para o educador Ruben Klein,
não há dúvida quanto ao fato de o
nível socioeconômico do estudante explicar boa parte do sucesso ou do fracasso escolar.
Ele diz, porém, que análises feitas nos resultados do Saeb de anos
anteriores mostram que o desempenho do aluno da rede privada é
melhor mesmo quando são comparados estudantes com o mesmo
nível socioeconômico.
Todos os educadores ouvidos
pela Folha lembram que é preciso
ter em mente que, mesmo no setor privado, as escolas podem ser
muito diferentes. Há desde escolas que atendem só uma elite econômica até instituições que cobram mensalidades bem mais baratas, tentando atrair pais insatisfeitos com a rede pública.
Rose Neubauer, ex-secretária
estadual da Educação de São Paulo e pesquisadora do Instituto
Protagonistes, diz que a troca da
escola pública por uma privada
de mensalidade muito baixa pode
não resultar na melhoria do
aprendizado. "Quando o ensino
privado é muito barato e ainda
tem que ter lucro, pode não ser
melhor do que o da rede pública."
Mas ela diz que há fatores que
podem fazer do ensino privado
melhor do que o público mesmo
em escolas mais baratas. "Um
professor da rede pública pode
faltar a várias aulas e, mesmo assim, dificilmente será mandado
embora. Na rede privada, isso é
mais difícil de acontecer."
Para Ruben Klein, mesmo nas
escolas mais caras há alunos com
bom e mau desempenho: "Mesmo nas escolas boas, nem todo
mundo sabe matemática da maneira como ela é exigida. Tanto é
assim que nem todos os alunos,
mesmo dos melhores colégios,
passam no vestibular".
O presidente do Sindicato dos
Estabelecimentos de Ensino no
Estado de São Paulo, José Augusto Mattos Lourenço, contesta o
resultado: "Não acredito que a escola particular esteja num patamar tão baixo como o demonstrado. Mesmo assim, é preciso levar
em conta que há escolas com tecnologia de ponta e outras que não
têm condições de oferecer essa estrutura aos alunos".
Para Neubauer, é preciso discutir se os padrões de desempenho
considerados adequados pelo
Saeb não são quase impossíveis
de serem atingidos. Pacheco, do
Inep, defende o nível de dificuldade da prova: "Esse rigor é um instrumento importante para a melhoria da qualidade do ensino".
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